Voz da Póvoa
 
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Um “Ensaio Sobre a Lucidez” Poveira

Um “Ensaio Sobre a Lucidez” Poveira

17 Julho 2020

Não, não procuramos os lugares vazios, nem gente que sabe ocupá-los tal como as regras exigem. O poveiro é gente de bem e bem sabe estar, também, na praia, no mar de sempre. Às vezes alguém avisa, mas a normalidade é mais normal que a indisciplina ou o destempero dos disciplinados.

Os tempos vieram com alertas mansos do oriente, depois assustadores, mas recebidos com a displicência natural dos que dizem “vai ficar tudo bem”. O quando ainda está bem longe, mas acredito. As Correntes d’Escritas terminaram com uma narrativa de silêncio, de morte confirmada um mês mais tarde. O escritor chileno Luís Sepúlveda enrolou, uma última vez, nos braços e no olhar as pessoas com quem construiu em cada Fevereiro, a maior ideia literária que o país conhece.

Sofremos todos, entendemos quase todos e três meses depois habituamo-nos a conviver na distância com todos.

A canção veio para ficar “é o bicho, é o bicho” e já ninguém sai à rua sem máscara, no bolso, no pulso, no cotovelo, no saco, pendurada no espelho do para-brisas, pousada no tablier, ao pendura numa orelha, por baixo do queixo, a proteger a boca e o nariz, seja cirúrgica ou da costureirinha, de marca ou sem homologação.
 
Não há gente corajosa, há é gente estúpida, porque não percebe que a sua coragem é feita de medo ou dá medo. Se não soubermos driblar o bicho, acabaremos por ser um imenso laboratório, onde servimos de cobaia ao coronavírus, assintomáticos ou não. A nossa apatia rimará sempre com doentia hipocrisia.

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