Testemunho Incontestado
1
Camões, mas que Camões?
Que mundo em transição se fixa nesta língua
Que margem se afirma
na língua que se inventa?
Que poeta transita
no mundo que se fixa?
Que poema se afixa
na mente que se alarga
à escala do Globo Universal
e amarga?
Que contrários se afrontam
nos ossos que nos tentam?
Camões, mas que Camões é este
que nos marca?
2
homem ou texto
olho vazado ou letra
miséria ou redondilha
bruxo velho ou brochura
sabedoria ou ilha
pesadelo ou visão
aventureiro ou máquina
tensa gasta ou tensão
um cego amor ou mundo
novidade ou idade
horizonte ou imagem
Camões ou re-Camões
Fortuna ou coisa amada
mudança ou só desejo
?
3
o lírico nas lonas
o épico e o hípico
que só a pé andou
corre o mundo em degredo
liberta-se em prisões
só um olho lhe basta
para a visão dos tempos
que novos se dispersam
e em não contradição se contradiz
4
dissipo a vida
se
dissipo a morte
aprendo a vida
se
aprendo a morte
sustento a vida
se
sustenho a morte
re contenho a vida
se retenho a morte
E. M. de Melo e Castro, in 'Re-Camões'
O poeta, ensaísta e artista plástico português Ernesto Manuel de Melo e Castro, que vivia no Brasil, morreu no sábado à noite em São Paulo, contava 88 anos de uma vida intensa, anunciou este domingo a sua filha, a cantora Eugénia Melo e Castro.
“Um dos mais importantes Poetas e Homem de Artes e Cultura do Mundo”, escreveu a filha na rede social Facebook.
Os poetas não precisam de homenagens para continuar vivos, mas em Junho de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o artista em São Paulo, com a Ordem do Infante Dom Henrique.
Na altura, o chefe de Estado declarou que homenageou "um mestre, que é um experimentalista, e nesse sentido, um existencialista".
"A homenagem nunca é tardia, porque é mais saborosa. É prestada no Brasil, quem diria, e ouvindo o próprio a recordar o percurso que fez. Normalmente as homenagens são póstumas, aí todo o mundo passa a génio", comentou E. M. de Melo e Castro.