Voz da Póvoa
 
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"Testemunho Incontestado" do Poeta E. M. de Melo e Castro

"Testemunho Incontestado" do Poeta E. M. de Melo e Castro

30 Agosto 2020

Testemunho Incontestado

 

1

Camões, mas que Camões?
Que mundo em transição se fixa nesta língua
Que margem se afirma
          na língua que se inventa?
Que poeta transita
          no mundo que se fixa?
Que poema se afixa
          na mente que se alarga
          à escala do Globo Universal
          e amarga?
Que contrários se afrontam
          nos ossos que nos tentam?
Camões, mas que Camões é este
          que nos marca?

2

          homem ou texto
    olho vazado ou letra
       miséria ou redondilha
    bruxo velho ou brochura
      sabedoria ou ilha
       pesadelo ou visão
    aventureiro ou máquina
    tensa gasta ou tensão
   um cego amor ou mundo
       novidade ou idade
      horizonte ou imagem
         Camões ou re-Camões
       Fortuna ou coisa amada
       mudança ou só desejo
                ?

3

o lírico nas lonas

o épico e o hípico
que só a pé andou

corre o mundo em degredo
liberta-se em prisões

só um olho lhe basta
para a visão dos tempos
que novos se dispersam

e em não contradição se contradiz

4

    dissipo a vida
se
    dissipo a morte
   
    aprendo a vida
se
    aprendo a morte
   
    sustento a vida
se
    sustenho a morte
   
re contenho a vida

se retenho a morte

E. M. de Melo e Castro, in 'Re-Camões'

 

 

O poeta, ensaísta e artista plástico português Ernesto Manuel de Melo e Castro, que vivia no Brasil, morreu no sábado à noite em São Paulo, contava 88 anos de uma vida intensa, anunciou este domingo a sua filha, a cantora Eugénia Melo e Castro.

 

“Um dos mais importantes Poetas e Homem de Artes e Cultura do Mundo”, escreveu a filha na rede social Facebook.

Os poetas não precisam de homenagens para continuar vivos, mas em Junho de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o artista em São Paulo, com a Ordem do Infante Dom Henrique.

Na altura, o chefe de Estado declarou que homenageou "um mestre, que é um experimentalista, e nesse sentido, um existencialista".

"A homenagem nunca é tardia, porque é mais saborosa. É prestada no Brasil, quem diria, e ouvindo o próprio a recordar o percurso que fez. Normalmente as homenagens são póstumas, aí todo o mundo passa a génio", comentou E. M. de Melo e Castro.

 

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