Não há memória de um Domingo de Ramos assim, cheio de silêncio. Talvez o hábito de festejar, de acolher jesus acenando com ramos de oliveira, o tenha afastado da primeira razão. A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, para celebrar a entrada de Jesus em Jerusalém montado num jumento (símbolo da humildade) e reconhecido pelo povo como aquele que vem em nome do Senhor.
É a história do anunciado Messias que, dias antes na Betânia, havia ressuscitado Lázaro e um tempo curto depois morreria crucificado pelos homens de ‘boa’ vontade. O tempo hoje é de reflexão, um convite forçado e outro lançado todos os anos por altura da Páscoa aos crentes. Este ano as ruas não vão ouvir as campainhas, nem se enfeitarão de tapetes de heras, frunchos, outras ervas e pétalas de flor.
A casa enche-nos de memória e de agradecimento. É por isso que as janelas se abriram para aplaudir os Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim, que em atitude partilham o agradecimento com todas as corporações de outras terras que, tal como a Póvoa de Varzim, vivem tempos de inquietação e incerteza.
Os soldados da paz sempre souberam entregar-se pelo outro, mas é sempre bom lembrar todos os outros, como os homens da protecção civil, os lavradores que colocaram-se ao serviço da desinfecção de ruas em todas as freguesias do concelho, as polícias que tentam reeducar quem ainda não percebeu a sombra da morte ou da sorte que tem.
Pode parecer um exagero a diária insistência para ficar em casa ou se sair, dentro das necessidades da pessoa, da família, manter o distanciamento social, mas é um aviso que nos quer bem. Os exemplos de fora não são animadores. E se nesta Páscoa não pode visitar um familiar, um amigo mais longe, nunca as tecnologias fizeram tanto sentido, nunca a ausência se aproximou tanto.