Afinal os Domingos não são todos iguais. Habituaram-se os olhos a uma paisagem de aglomerados de pessoas pelas ruas da cidade, passeios alegres e avenidas de gente e viaturas, numa azafama própria do ser humano, que parece só estar bem onde o outro está.
Gente na rua sim, muito diminuta. Desta vez parece ter compreendido melhor a mensagem. Não sei se o significativo aumento do número de vítimas e de infectados, desta pandemia, não terá evitado o pandemónio de outros dias não muito distantes.
O poveiro parece estar a começar a entender o que outros levam em compreensão lenta. Sabemos que as ruas foram percorridas, a todas as horas, por viaturas da Policia Municipal e da protecção civil a alertar os munícipes para ficarem em casa e manterem o distanciamento social. Também a PSP e GNR fez o seu papel de controlo nas rotundas e acessos à cidade.
Sabemos que as autoridades sentem-se atadas por nada poderem fazer que não seja sensibilizar e alertar, quando o mesmo cão sai à rua com diferentes donos ou toda a gente, em pergunta, vai ao mercado, à farmácia, à frutaria, à padaria ou fazer o passeio higiénico. Quando é intersectado na sua viatura vai a todo o lado menos passear.
Só ainda não ouvi falar de alguém que está em casa há uma semana ou duas e tenha ido buscar (ainda de boa saúde, com a única doença de serem idosos) o pai, a mãe ou os dois, ao lar. Não só libertaria o trabalho das auxiliares, como se tornaria voluntário em causa própria.
Os velhos, esses guardadores de memórias, construtores do nosso tempo, criadores e educadores dos filhos, dos netos e até bisnetos, são acima de tudo os pilares do futuro, mas há quem ainda não tenha percebido que lá chegará com as suas próprias rugas, o seu próprio abandono, a sua solidão.
Sempre nos queixamos que não temos tempo para nada. Agora que atravessamos um tempo em que a casa se tornou o refúgio mais seguro, pode parar, parar para pensar, porque pensar é quase sempre o trabalho mais útil e produtivo.
