Voz da Póvoa
 
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O Mundo de Cada Dia do Livro

O Mundo de Cada Dia do Livro

23 Abril 2020

A leitura é uma viagem imaginada pelo escritor, uma possibilidade temporária de se apagar em corpo e viver em memória. O livro é um construtor de mundos que o leitor ergue na sua capacidade de imaginar. Entre o livro e a liberdade de o ler há uma distância democrática, que muitos querem mais curta, com rédea.

O livro é um território de palavras capaz de colorir os sonhos de metáforas. Nasce numa língua, cresce em várias e chega à eternidade universal. Milénios depois ainda é proibido, censurado, retirado, queimado e condena à prisão.

Como é livre o livro “Pequenos DesContos” convido à leitura:

O Formiga e o Amadeu


Caiu verticalmente na horizontal, espalmou-se num ai. O Formiga estava no pilar ao lado a admirar-se com a proeza, de ter subido. Visto de cima era um cristo com o corpo todo pregado no chão. Nada disso, a morte aconselha-se antes de roubar a vida seja a quem for e “ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo”. Mas que doeu, lá isso disse o Amadeu. A bola levou ainda mais chutos sem a culpa de ter subido ao telhado da escola. O recreio de pés descalços levava a direcção de todas as balizas. Os postes ou a barra eram imaginados pela vontade de ser ou não golo. A miudagem festejava no meio da confusão. Nenhuma alegria se eternizava no tempo, na jogada a seguir a bola passou entre as duas pedras ou sacolas de trapo. O resultado era o menos importante, somava-se todos os dedos das mãos a repartir pelas duas equipas, às vezes dos pés também. Quem perdia desforrava-se no dia seguinte. A lousa, essa, já estava em cacos. O dia seguinte trazia um rabo dorido e uma nova.


Isaac Lagares Noya

 

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