Hoje, a tradição mandava ir ao Anjo. Este dia inaugurava os piqueniques que as famílias gostam de fazer no meio do pinhal, das bouças. Recuar a um tempo sem carros ou com muito poucos era um caminhar de gente aos magotes, a cantar, vinda da margem do mar, com a gamela à cabeça e as cestas na mão, sem esquecer nunca o garrafão de vinho, o conhecido “vergas”, o habitual companheiro das mãos masculinas.
Mandava a tradição comer bem e bem regado, para depois cantar, dançar e entre outros desportos jogar â malha.
Com o envelhecer dos anos a tradição foi arrebanhando gente e começou a pintar outras bouças e outros pinhais de várias terras. A Norte, a segunda-feira de Páscoa ganhou tolerância de ponto nas autarquias e as empresas dispensam os trabalhadores, descontando o dia nas férias. É certo que em muitas terras também a cruz se beija na segunda-feira e na Póvoa de Varzim, na terça, visita o comércio.
Este ano foi em casa que nos deu estender a manta, uma forma de retardar as saudades do futuro. Um futuro sem este “prenúncio de morte”, sem esta inquietante incerteza. É como se todos, neste tempo desassossegado, estivéssemos à espera de uma ressurreição de tudo aquilo que nos fascina e nos enfeita a vida.
José Peixoto
