Maria Teresa Horta é a primeira mulher a vencer o Prémio Rodrigues Sampaio, cuja cerimónia de entrega decorrerá no próximo dia 30 de novembro, em Esposende, município que patrocina a iniciativa da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
O júri justificou a decisão, que registou unanimidade, “pela persistência desta figura da cultura portuguesa na defesa da liberdade e na luta, sem tréguas, pela igualdade de género, antes e depois de Abril, que transporta com elegância criativa para a sua obra literária, para o seu trabalho jornalístico, para sua sempre generosa intervenção cívica”.
“As mulheres portuguesas, sem dúvida, muito devem à ousadia libertadora da autora de Minha Senhora de Mim. A emancipação começa pelo corpo, como lugar da alegria, do afeto, do amor sem pecado. E a voz. O ter voz. ‘Mas dizei também/ do muito que vos sobra/ de tanto-tanto: amor /de dor/ e de ternura!’”, é realçado, ainda, na deliberação do júri, constituído por Luísa Leite, bibliotecária e representante da Câmara Municipal de Esposende; Francisco Duarte Mangas, Presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto; Francisco Brás Marques, advogado e familiar descendente de António Rodrigues Sampaio; Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias; e Valdemar Cruz, jornalista do Expresso.
Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras. Escritora e jornalista é conhecida como uma das mais destacadas feministas portuguesas. Protagonizou, juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, o caso "Três Marias", centrado no julgamento de que foram alvo após a publicação do seu livro "Novas Cartas Portuguesas" em 1972. Estreou-se na poesia em 1960 a sua obra poética foi coligida em Poesia Reunida (Dom Quixote, 2009), obra que lhe valeu o Prémio Máxima Vida Literária. Em 2012, publicou As Palavras do Corpo – Antologia de Poesia Erótica, no ano seguinte, A Dama e o Unicórnio, em 2016, Anunciações, vencedor do Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017, Poesis (2017), Estranhezas (2018) e a antologia Eu sou a Minha Poesia (2019), o seu mais recente livro. É ainda autora dos romances Ambas as Mãos Sobre o Corpo, Ema (Prémio Ficção Revista Mulheres) e Paixão Segundo Constança H., e coautora com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, de Novas Cartas Portuguesas. Ao seu romance As Luzes de Leonor, a Marquesa de Alorna, uma sedutora de anjos, poetas e heróis (2011), foram atribuídos os prémios D. Dinis e Máxima de Literatura.
O Prémio Rodrigues Sampaio foi instituído nos anos 50 do século XX, pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (da qual António Rodrigues Sampaio é patrono), com o apoio da Fundação Gulbenkian, tendo sido suspenso na década de 80, por falta de apoio. Em 2022, a propósito dos 140 anos da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e da morte de António Rodrigues Sampaio, o Município de Esposende entendeu ser a oportunidade e o momento de se associar a este prémio, perpetuando a memória de um combatente da liberdade de expressão, destacada figura do jornalismo e dos liberais oitocentistas. O Município assumiu, assim, o patrocínio do prémio, no valor monetário de 7.500 euros e com periodicidade bienal. Na primeira edição, em 2022, o Prémio foi atribuído ao historiador António Borges Coelho.
Natural de S. Bartolomeu do Mar - Esposende, António Rodrigues Sampaio (1806-1882) evidenciou-se como jornalista – ou “escritor público” como gostava de se identificar – no periódico a Revolução de Setembro, que sofreu diversas perseguições e tentativas de mordaça. Durante um certo período, o jornal acabaria suspenso, mas o “jornalista arauto da liberdade” prosseguiria o combate contra a censura. Na clandestinidade, durante um ano, fez circular um outro jornal, O Espectro. O “Sampaio da Revolução”, como ficara conhecido o redator de A Revolução de Setembro, foi também presidente do conselho de ministros, ministro de Estado honorário, conselheiro do tribunal de contas, deputado da nação e par do reino. Enquanto político, é verdade, muita da rebeldia do publicista se perdera. Contudo, Rodrigues Sampaio pautou a sua atividade política de forma desinteresseira, com honestidade, sem jamais esquecer a importância da liberdade.
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