Voz da Póvoa
 
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Queima de Judas – Colonialismo e Agustina Bessa-Luís

Queima de Judas – Colonialismo e Agustina Bessa-Luís

Vila do Conde | 29 Março 2023

 

“A libertação dos males da sociedade através do fogo é o mote do espetáculo de rua que conjuga várias artes”. Pode ler-se na apresentação do quadro que representa em cada Páscoa uma arte consagrada ao longo dos tempos pela ‘Nuvem Voadora’.

A melhor forma de o dizer é agarrar as palavras que nos chegaram de quem sabe e se apresenta para a realização do espectáculo, e transcrever na integra.

A Queima de Judas é um espetáculo de rua multidisciplinar realizado em Vila do Conde, que funde teatro de rua, circo contemporâneo, dança, música, vídeo, fotografia e literatura, entre outras artes, interligando assim a tradição popular e a arte contemporânea.

O objetivo deste projeto é apresentar à comunidade um conjunto de atividades que culminam num espetáculo no sábado Aleluia, antes da Páscoa, consolidando assim a Queima do Judas como uma tradição de Vila do Conde, que se assume uma marca cultural da cidade, identificada pela população local, e já reconhecida a nível nacional e internacional, como uma iniciativa de âmbito cultural que promove e dinamiza a multidisciplinariedade das artes.

A essência mística do ritual que celebra a passagem do Inverno para a Primavera é a libertação dos males da sociedade através do fogo considerado sagrado.

Em 2023, a 18ª edição da Queima de Judas, inspira-se no tema Colonialismo e no centenário do nascimento da escritora Agustina Bessa-Luís.

Nesta abordagem, o espetáculo procura reforçar a importância da identidade cultural coletiva e as memórias da comunidade.

Foram convidados artistas de áreas diversas, para em conjunto com a comunidade construírem o espetáculo, priorizando sempre o trabalho com o tecido artístico, associativo e as entidades locais.

As atividades de formação e sensibilização são parte integrante da construção do espetáculo que reúne atividades como visionamento de filmes, oficina de teatro de rua e de teatro participativo.

“Rua Viva”: Oficina de teatro de rua

Nesta oficina vai ser explorada a arte do teatro de rua num ambiente dinâmico e comunitário. O teatro de rua leva a arte dramática para fora dos espaços tradicionais, e apresenta-se em espaços públicos como ruas, praças, parques e outros espaços ao ar livre. Assim, a arquitetura das cidades funciona como cenário e inspiração para as criações no espaço público. A ideia principal é fomentar a interação entre artistas e transeuntes.

Colonialismo e Agustina: O que a História nos ensina

Durante o período colonial, Portugal impôs a sua cultura, língua e religião aos povos africanos, além de explorar recursos naturais e impor trabalho forçado. Esse processo de colonização resultou numa série de traumas, incluindo a perda de identidade cultural, de violência e de exploração.
Além disso, muitos povos africanos foram submetidos a políticas discriminatórias e segregadoras que reforçavam a ideia de inferioridade em relação aos colonizadores. Isso deixou um legado duradouro de desigualdade social e económica, que continua a afetar estes países até hoje.

Em algumas das suas obras, Agustina Bessa Luís, retrata as consequências do colonialismo e as desigualdades sociais que resultam da exploração e da opressão.

Ela mostra como as relações sociais são afetadas pela hierarquia e pelo poder e como as pessoas são impedidas de alcançar a liberdade e a felicidade. Além disso, a autora também questiona a justificação moral e cultural que muitas vezes é usada para fundamentar o colonialismo.

É preciso lembrar que o impacto do colonialismo português em África ainda hoje é sentido. Entre 1961 e 1974, cerca de 90% dos homens portugueses, foram mobilizados para a Guerra do Ultramar, que causou cerca de 10 mil mortos e 20 mil inválidos entre os soldados.

Conclusão

A Queima do Judas aposta na memória coletiva e identidade de Vila do Conde, valorizando os seus artistas e tradições locais, incentivando a integração da comunidade (associações, instituições, escolas, grupos recreativos, artistas, voluntários, comércio local e reinserção social) na construção do projeto e na prática do associativismo e voluntariado.
Por outro lado, a organização deste evento procura apostar na formação, qualificação e especialização da equipa técnica e artística, na promoção do intercâmbio artístico entre formadores, criadores e participantes, garantindo assim o envolvimento de valores globais da sustentabilidade, evocando a memória cultural coletiva e fazendo uma homenagem a personalidades históricas, bem como aos espaços especiais da cidade.

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