Voz da Póvoa
 
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A Dança nos Pés e os Tapetes de Beiriz nas Mãos

A Dança nos Pés e os Tapetes de Beiriz nas Mãos

Vidas | 3 Setembro 2019

Florinda da Fonte da Conceição nasceu em 1926, em Beiriz, Póvoa de Varzim. Descendente de uma família de camponeses, cedo conheceu os trabalhos da pranta e da colheita. A escola, que frequentou até à 3ª classe, serviu de aprendizagem das letras, mas também de recreio, onde partilhou, com outras meninas, muitas brincadeiras e jogos tradicionais. Aos 12 anos foi trabalhar para a Fábrica de Tapetes de Beiriz, onde se manteve até ao nascimento do terceiro de cinco filhos, fruto do casamento, aos 22 anos, com Manuel da Conceição. Durante mais de 65 anos organizou passeios, de autocarro, a vários locais do país, com destaque para o Santuário de Fátima e outras romarias de maior crença religiosa. “Éramos nove irmãos, uma casa com muitas bocas e trabalho com fartura, mas onde a comida nunca sobrava. Os meus pais faziam terras e levantava-me com os galos para os trabalhos agrícolas. Mesmo quando andava na escola, as horas livres eram passadas no campo. Desde menina que aprendi a plantar batatas, a semear milho e a sachar. No tempo da segunda guerra mundial, a comida era racionada por senhas, o pão, o azeite, o açúcar ou o arroz. Fui muitas vezes trabalhar para a Fábrica de Tapetes de Beiriz com uma côdea de pão”, recorda Florinda da Fonte. E acrescenta: “Entre o prato da fome e o trabalho, a gente também se divertia. Nas desfolhadas, nas casas dos lavradores, juntavam-se os jovens da aldeia e entre a espiga de milho vermelho, que dava direito a abraço e beijo na cara de quem gostávamos, havia muita alegria, canto e dança ao toque da concertina. No final servia-se uma merenda melhorada e um copo de vinho para regar o cansaço. Sempre gostei de borga e à custa disso levei algumas sovas. Aos domingos juntava-me com um grupo de raparigas e íamos dançar onde houvesse festa. Fui muitas vezes até Touguinha, Tougues e Junqueira. Estava sempre a rezar para que a noite não caísse. O certo é que chegava a casa e caía quase sempre pancada. Também fazíamos peregrinações a pé à Senhora da Saúde, Senhora do Alívio, São Bento de Vairão, Santa Eufémia, Santa Rita e outras, mas de passear nunca cansei”.
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