Filho do duro trabalho do campo que seus pais laboravam até à exaustão e nem sempre dava para os cinco filhos pão, David José Leite nasceu a 15 de Novembro de 1930, no lugar de Regufe-Gandarinha no concelho da Póvoa de Varzim. Ainda uma criança com 7 anos teve que partilhar a escola com a lavoura e a pastorícia, mas aos 15 anos foi aprender a arte de carpinteiro.
Não foi fácil convencer o pai que precisava de braços para laborar a terra e não tinha dinheiro para contratar jornaleiros nem para ferramentas tão precisas para carpinteirar. David obrigou-se a começar a trabalhar apoiado nos encarregados que lhe iam fornecendo as ferramentas necessárias para a execução dos trabalhos, mas incentivaram-no a adquiri-las. Felizmente, tinha um vizinho que lhe ia facultando algumas ferramentas, e conseguiu juntar uma boa mala.
Com o tempo veio a experiência, ganhou amor à arte e tornou-se num profissional requisitado por muitos industriais de carpintaria para trabalhar já como encarregado, tinha apenas dezoito anos.
Porém, fruto da miséria que os seus pais viveram, a sua ambição era ser rico. Jovem que era, procurou encontrar uma mulher de condição económica que garantisse suporte para se estabelecer por sua conta e risco. À sorte juntou o amor por Maria Gomes Ferreira.
O dia de trabalho entrava noite dentro e ganhava seriedade na reputação, as amizades foram sendo conquistadas, ultrapassou as dificuldades exercendo o ofício que aprendeu a amar. A Maria, sua esposa, herdou uns terrenos que serviram de primeiro impulso para a concretização do seu sonho de ser um homem rico e respeitado. Nascia a sua primeira e pequena oficina de carpintaria, sem máquinas, exigindo às mãos toda a sabedoria e manejo na transformação das madeiras em móveis, portas e janelas.
Começou com a construção da antiga Marisqueira, hoje Restaurante Tourigalo; depois construiu um pequeno bairro de três casas, na Salvada, em Aver-O-Mar; seguiram-se as cinco casas do bairro Cova do Coelho; construiu também, nas Caxinas Vila do Conde, dois prédios, num deles montou um Snack-bar e Minimercado, que explorou durante dois anos; construiu na casa que herdou dos seus pais, uma adega típica, conhecida pela “Toca da Mariadeira” e graças à sorte que sempre o acompanhou, logo no dia da inauguração um dos cem convidados propôs-lhe negócio para a exploração do espaço, sendo aceite pelo David.
Mais tarde, construiu o prédio onde funcionou o restaurante “O Forno” que explorou e se tornou famoso também como casa de fados, onde encantaram e estiveram presentes conhecidas figuras como Cidália Moreira. No entanto, por questões de saúde teve que conceder a exploração a terceiros, nascendo assim o Restaurante “Os 3 Rapazes”, que chegou a ser um dos melhores da Póvoa de Varzim.
Em sequência, entre as construções que levou a cabo, contam-se mais três vivendas, um loteamento para trinta moradias e três blocos com setenta apartamentos, no lugar do Boído, acabando por vende-los, obtendo financiamento para construir o Edifício David Leite em Regufe, S. Brás, composto por 24 apartamentos, sendo este o seu último empreendimento até então. Bem conhecido no meio, tem ajudado a desenvolver projectos na nossa terra. Foi o construtor dos conhecidos restaurantes “O Chelsea” e “O Marinheiro”.
Na vida social e desportiva Poveira teve significativa actividade, nomeadamente nos seis anos que integrou os corpos directivos do Varzim SC, ocupando o lugar de tesoureiro, na Presidência do Padre Manuel Vaz.
Do seu casamento nasceram primeiro duas filhas, Alda e Amélia, seguiu-se o desejado rapaz a quem deu o nome de David. Dezoito anos depois, nasceu mais uma menina, Maria José. Aos seus filhos, com os sacrifícios do trabalho conseguiu que todos se formassem: duas professoras; um engenheiro civil e a filha mais nova em Engenharia de Publicidade e Marketing.
A infelicidade bateu com muita dor, quando perdeu o seu filho com 43 anos, vítima de doença prolongada. A idade de David ajudou a suavizar o desgosto, mas nunca a memória de uma perda.
Na sua adolescência, já dedicava os seus tempos livres a escrever versos, inspirados em acontecimentos que vivia ou visualizava, fazendo dedicatórias a pessoas e instituições e contando histórias com bocados de vida. A sua deficiente instrução aos poucos foi-se tornando menos notada, como se pode constatar pelas quadras que normalmente são publicadas nos jornais “A Voz da Póvoa”, “Mais Semanário” e “Póvoa Semanário”, e pelos livros que escreveu e apresentou, o primeiro sobre a sua viagem à Terra Santa (Israel), em 2000; seguiu-se “Saudade” em 2001, livro dedicado ao seu filho; em 2003 apresenta “Um Passeio a Itália”; no mesmo ano publica “O Carpinteiro”, e em 2010, no dia do seu aniversário apresenta “O sonho dos Oitenta”. Na forja está um novo livro “Por Amor” para apresentar no dia em que completará 91 anos.
David Leite conta já com sete netos, todas as suas filhas e filho deram frutos, inclusive um neto já lhe ofereceu a primeira bisneta.
A vida foi madrasta no seu principio, onde teve de ultrapassar enormes dificuldades, quando se tornou estável ficou sem o filho, foi um turbilhão de acontecimentos, entre a sorte e o azar, mas pesando a balança, a sorte venceu, pois o agora, velhinho David está no encanto da vida, tem ao seu lado dois netos a trabalhar com ele, um professor e um arquiteto, ajudando-o nas tarefas e mantendo o negócio da família bem vivo, coisa que ele já não imaginava ser possível acontecer em vida. Pode-se dizer, que no meio da desgraça maior de perder o filho, que era o garante da firma no futuro, Deus o recompensou com dois netos que estão a seguir as mesmas pisadas do avô. Isto devolveu-lhe a vontade e a ambição de expandir o negócio e fazer a firma crescer de novo, vários sonhos e desejos voltaram a reacender num David adormecido, o seu sorriso de infância voltou, pois construir é a sua grande paixão e também escrever mais livros. Um dos netos também gosta de escrever, e ajuda-o a melhorar como escritor também.
Contas feitas são 53 apartamentos, 5 livros com o 6º a caminho, 91anos de idade, e ainda mais sonhos e surpresas futuras estarão para contar por este homem que é interminável, David José Leite.
