Voz da Póvoa
 
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A Educação Profissional Foi Guião Para a Vida

A Educação Profissional Foi Guião Para a Vida

Vidas | 31 Outubro 2019

José Cândido Rodrigues Lenha nasceu em 1941, em Viana do Castelo. Concluída a 4ª classe, com 11 anos foi trabalhar para o requintado Oceano Bar, no centro da capital do folclore, onde se manteve até cumprir o serviço militar. Depois trabalhou no Bar Luciano, Hotel Ofir, Hotel Vermar, e inaugurou todas as outras unidades hoteleiras da Sopete. Obteve a carteira profissional de Supervisor de Bares e Chefe de Vinhos. Foi sócio-fundador da Associação Barmen de Portugal, fundada a 15 de Abril de 1970, e seu presidente na região Norte. Integrou também a International Bartenders Association. Casou com Maria da Glória e tem duas filhas e um filho.

“Era ainda um miúdo quando fui trabalhar para o ‘Oceano’, um bar absolutamente único no norte do país. Tinha um balcão com nove bancos de madeira, forrados a estampa de linho, e seis mesas. Quem coordenava o bar era o senhor Luciano, um galego que foi como um pai. Devo-lhe uma educação de profissional que me permitiu tudo o que consegui na vida. Ele tinha trabalhado no famoso ‘Gambrinus Restaurante’, em Lisboa, e no bar do Hotel de Santa Luzia, em Viana. As pessoas que se hospedavam neste hotel vinham todas ao Oceano Bar. O nível de educação e respeito passava por ali. Era o lugar de tertúlia dos intelectuais, como os poetas Pedro Homem de Melo ou António Couto Viana, o pintor Carolino Ramos, os administradores dos Estaleiros de Viana, ou as gentes da alta que desciam de Ponte de Lima ou de Ponte da Barca”, recorda.

O menino José Lenha foi colocando em prática todos os ensinamentos: “Aos 12 anos era tratado pelos clientes pelo meu nome. Comecei como menino de recados. Mantinha-me à porta até ser chamado. Diariamente ia buscar jornais para os clientes. O deputado Júlio Evangelista pedia-me para comprar os jornais todos. Quando algum cliente puxava pelo cigarro eu imediatamente acendia um fósforo e antecipava-me, num gesto educado. Comecei com caixas de fósforos e mais tarde com carteiras. Os clientes gratificavam bem. Naquela altura servir um café turco era uma elegância. Levava a água quente para escaldar a chávena à frente do cliente, umas saquinhas de açúcar mandadas fazer pela casa, um guardanapo e um paliteiro. O cliente apreciava todos os pormenores no servir e deixava na mesa boas gratificações”.

Entre 1962 e 1964 cumpriu o serviço militar e no regresso foi convidado pelo seu antigo gerente. “Ele abriu um espaço de requinte com o seu nome, ‘Luciano Bar’, e ofereceu-me dois mil escudos (10 euros) por mês. Anos depois quis voar e fui para o Hotel Ofir, antes de pertencer à Sopete. Era um hotel muito frequentado por ingleses e tinha a essência do turismo em Portugal. Nos cinco anos que lá estive, fui convidado a participar no primeiro congresso de agentes de viagens de turismo em Lourenço Marques. Fizemos os serviços em todos os hotéis da capital moçambicana”, revela José Lenha.

E acrescenta: “Depois de fundarmos a Associação de Barmen de Portugal, elegemos para a Europa e para o Mundo o copo adequado a cada bebida. Participei em imensas reuniões com a Direcção-Geral de Turismo, na altura que foram criadas regiões como a Costa Verde ou a Costa da Prata, e participei em imensos concursos de cocktails, a nível nacional e internacional. Quando passei a trabalhar na Póvoa, fui a muitas cidades espanholas promover as unidades hoteleiras da Sopete”.

O reconhecido trabalho de José Lenha acabou por merecer o convite da Sopete, em 1976, para integrar a equipa de barmen do Hotel Vermar: “Ainda esperei mais de um mês que o hotel, um projecto do arquitecto Calafate, ficasse pronto ali no meio do nada, com acessos em terra batida. Com os anos, inaugurei todas as unidades da Sopete como o Motel Santana, Estalagem São Félix, Estalagem Santo André e Campo de Golfe. No Hotel Vermar, onde trabalhei até me aposentar, passaram as maiores figuras da cultura ou da política. A actriz brasileira Gloria Pires, a Amália Rodrigues, o pianista Sequeira Costa, mentor do Festival de Música da Costa Verde, Mário Soares, Filipe Gonzalez, Olof Palme, François Mitterrand, entre outros políticos que participaram no final dos anos 70 numa reunião da Internacional Socialista, no 13º andar, onde aconteceram imensos congressos, antes do centro estar construído. Recordo o primeiro congresso do CDS, com a presença do General Galvão de Melo e do Freitas do Amaral. O Hotel Vermar continua a ser o edifício mais bonito naquela zona. Vivi e convivi muito para aprender. A minha universidade foi sempre a vida”.

Por José Peixoto

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