Voz da Póvoa
 
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Antes e Depois um Olhar sobre a Cidade

Antes e Depois um Olhar sobre a Cidade

Política | 15 Junho 2024

 

Em meio século só o mar é o mesmo. A cidade cresceu, nem sempre com o melhor cenário para os olhos, mas políticas com outra visão foram capazes de reabilitar, de transformar, de redimensionar o espaço e projectar o futuro.

Vivia ainda na adolescência quando em 1973 a Póvoa de Varzim assumiu o estatuto de cidade, mas a partir de 1988, primeiro como engenheiro técnico da autarquia, depois como Vereador eleito em 1989 nas listas do PSD, passou a integrar o Executivo. Seguiram-se sucessivos mandatos na Vereação e como Vice-Presidente até ser eleito Presidente da Câmara Municipal em 2013. O poveiro, Aires Henrique do Couto Pereira, da sua longevidade e experiência autárquica fez desta conversa uma viagem histórica pela terra que o viu nascer, mas também por um presente activo e um pensado e projectado futuro.

“Sou um privilegiado porque estive neste processo enquanto utente, espectador, munícipe e depois enquanto interveniente no processo de modernização destes 50 anos. Entro na Câmara em 1988, ou seja, em mais de dois terços deste tempo eu vivo intensamente a modificação que o concelho tem. É preciso ser justo, a partir de 1986 com a entrada do país na Comunidade Económica Europeia, e com a chegada dos fundos (FEDER), foi possível fazer esta revolução que possibilitou a qualidade de vida que temos, hoje, além do reforço da economia, da sustentabilidade, enquanto cidade e concelho, do emprego e de um caminho que fomos traçando, desde a altura em que o Dr. Macedo Vieira foi eleito, em 1993. Foi possível criar uma cidade dirigida para a cultura, para o lazer e para o turismo, apoiando-se muito nas duas últimas concessões na Zona de Jogo, que são muito relevantes para um conjunto de investimentos feitos, quer de renovação dos espaços públicos, de infraestruturas e de novos equipamentos – o Campo de Tiro de Rates, a Marina Sul, não a que foi inaugurada recentemente, a recuperação e construção do Cine-Teatro Garrett, Central de Camionagem ou o Pavilhão Municipal, foram objecto de transformação. Digamos que tenho este privilégio desta dupla de actuar enquanto interveniente directo, conheço como ninguém aquilo que foi feito, o caminho que traçámos e percorremos, e de alguma maneira o pensamos para o futuro”.

Primeiro a cidade cresceu desorganizada, sem harmonia, sem um plano que respeitasse determinadas regras. Depois, houve necessidade de organizar o caos e de criar infraestruturas: “Sofreu naturalmente os desmandos da falta de planeamento nos anos 80 e que destruíram grande parte do nosso património arquitectónico, e que hoje vivemos da sua saudade, mas isso não impediu de criarmos outras valências e outros equipamentos que tornam a cidade muito competitiva quanto à sua atractividade. É inegável que muita coisa foi feita. Temos a recuperação da antiga linha do caminho-de-ferro transformada em ecovia, sabe-se lá se um dia voltará às suas funções originais com esta tendência do regresso ao transporte público, aos meios suaves de circulação. A conclusão da Via B que deverá acontecer ainda este ano, um projecto que já leva mais de 20 anos de execução ou a ampliação do Parque da Cidade. Ou seja, transformar a nossa cidade num centro de atractividade, até pela nossa ligação à área metropolitana do Porto, pelo serviço que presta o metro de superfície, que também nos liga com o mundo através do aeroporto Francisco Sá Carneiro. Quanto à construção das grandes infraestruturas pesadas creio que estamos mais ou menos servidos. No seu conjunto, são estas mais-valias que tornam a Póvoa diferente e mais atractiva. Aí entra a questão das nossas tradições, dos nossos valores, quer culturais, históricos ou gastronómicos que pretendemos continuar a manter para quem nos visita. Temos para oferecer uma terra com vida própria, essa é a nossa preocupação”.

A aproximação ao outro resultou num aumento populacional que se veio a fixar, ao contrário de outras cidades na maioria do país. Não será alheio o facto da autarquia ter adquirido edifícios que se estavam a degradar como o Cine-Teatro Garrett, o Diana Bar ou a Praça de Touros para aí nascerem novas centralidades. Foi uma forma de olhar para a cidade que recebe, mas também aproximar as outras cidades à Póvoa de Varzim? “As facilidades que, hoje, temos para nos ligar a qualquer cidade nas proximidades é um facto. De alguma forma, são as cidades que sempre se ligaram connosco como Vila Real, Chaves ou Guimarães, através da A7, assim como as cidades de Barcelos ou Braga ficaram mais próximas através da A28 e A11. Todas essas localidades nos dizem muito, alimentaram e alimentam o turismo de Verão na Póvoa de Varzim. Depois, equipamentos como o Póvoa Arena que estamos a concluir no lugar da velha ‘tourada’, que estava praticamente ao abandono, sujeita a uma ou duas utilizações por ano, vai ajudar a esbater esta sazonalidade porque irá permitir a realização de todo tipo de eventos durante todo o ano, por forma a podermos alimentar esta veia comercial que a Póvoa tanto necessita e de que sempre viveu”.

Aires Pereira acrescenta: “Durante este mandato, tive uma outra preocupação: a valorização do interior. Fazer com que as pessoas ficassem enraizadas nas freguesias, dotando-as de melhores acessibilidades, mas acima de tudo de equipamentos que fizessem com que elas se sentissem bem onde residem e que não tenham que vir à sede do concelho para tratar de coisas tão simples como pagar a água ou a luz. Outro aspecto que eu acho muito importante é a valorização dos equipamentos educativos, boas escolas onde os pais não sintam a necessidade de trazer as crianças para a cidade porque isso seria meio caminho para não voltarem à sua freguesia. Há aqui a intenção de tornar o concelho mais equilibrado. O país está inclinado para o lado do mar e por muitos investimentos que façamos no interior, não paramos a sangria de pessoas para o litoral. Aqui na Póvoa de Varzim temos vindo a inverter esse processo e a prova disso é muito bem aquilo que referiu, o último censos diz que a Póvoa é dos poucos concelhos que consegue crescer e ser atractivo. Pretendemos continuar a ser sem perdermos a nossa identidade. A recente aquisição do Palacete Villa Georgette, na avenida Mouzinho, que será transformado num equipamento cultural, preserva também o nosso sentimento enquanto poveiros, enquanto memória. Os turistas, hoje, dão muita importância às diferenças culturais de cada uma das cidades que visitam”.

Dotar a Cidade de Infraestruturas Valoriza o Espaço Urbano

“Este é um caminho que temos que continuar a fazer, que espera a possibilidade dos novos financiamentos comunitários, sozinhos não conseguimos fazer tudo. Temos uma política fiscal amiga das pessoas, que deixa mais de 6 milhões de euros por ano nos bolsos das empresas e dos poveiros, para poder investir na vida e no negócio. De alguma forma estamos dependentes destes dinheiros da Comunidade e da importância da renovação da próxima concessão da Zona de Jogo que irá ocorrer em 2025. O Casino é para nós o pulmão, o coração do funcionamento desta actividade mais terciária”.

Governar é arriscar, é perceber que o futuro precisa de caminhos, condições, isso custa dinheiro que ninguém quer gastar e muito menos quando se trata de investimentos avultados: “Nós queixamo-nos de tudo, do que fazemos e do que não fazemos, eu prefiro assumir o risco de fazer aquilo com que me comprometo. Enquanto tiver essa responsabilidade, fi-lo e faço sempre de forma muito clara. A partir do momento em que o projecto é sancionado, não somos surdos, somos sensíveis à opinião dos outros, mas desvio-me muito pouco dessa rota. Agora, assistimos sempre a demagogias, que o dinheiro deveria ser mais aplicado a fazer casas ou dar aos pobres. Pela nossa perseverança nunca se deixaram ao longo dos tempos de fazer grandes equipamentos e investimentos que marcam a diferença”.

O Centro de Atendimento Municipal (CAM), inicialmente, recebeu muitas críticas, mas hoje é reconhecido como um dos equipamentos mais valiosos construídos pela autarquia. Sente-se aliviado ou nunca teve dúvidas? “Eu tinha essa ideia quando ‘projectei’ o CAM. As pessoas vão-se habituando à importância que o equipamento tem nos serviços que disponibiliza e também quem nos visita, porque é a porta de entrada na nossa cidade. Eu não me sentia bem com a antiga estação dos caminhos-de-ferro, agora do Metro, onde saíamos para a estrada nacional para um passeio com 90 centímetros de largura onde não cabia uma cadeira de rodas. Este equipamento valoriza a Póvoa de Varzim e os poveiros porque é um sítio onde têm tudo ao seu dispor, todos os serviços ali são prestados. As grandes obras que têm perdurado ao longo do tempo são sempre aquelas mais discutidas”.

A requalificação do Bairro dos Pescadores e agora o de Nova Sintra, cria uma outra atractividade, mas continua a ser o bairro? “As nossas festas são isso mesmo, são as festas do bairro. Nós pretendemos continuar a manter esta cultura porque às vezes só nós é que a distinguimos entre o bairro Norte, o bairro Sul, da Matriz, Regufe, Mariadeira ou Belém. É isso que faz a nossa diferença enquanto povo, enquanto cultura. Por isso, vamos continuar a fazer a recuperação dos ditos bairros tradicionais e dotá-los também de novos equipamentos. Começámos esta conversa junto à igreja da Lapa onde, no dia 15 de Junho, iremos inaugurar um monumento que é uma referência desta sociedade matriarcal, onde a mulher é quem manda, que toma conta da vida e da casa. Vamos fazê-lo através de uma mulher que está na memória de toda a gente como sendo a representação dessa matriarcal figura, a Susana peixeira. São referências culturais de visitação que fazem com que tornem atractivas estas zonas da cidade”.  

As virtudes nem sempre são elogiadas, mas a culpa tem quase sempre um nome? “É do presidente da Câmara. Mas, há uma coisa que tenho que dizer ao fim destes anos todos, que é a generosidade com que as pessoas sempre reconheceram o meu trabalho e a forma como eu estive, estou e estarei na vida pública até ao fim. Isso para mim é motivo de grande satisfação, de resto, quem não tiver condições de lidar com a crítica não venha para a vida pública porque isso não existe”.

Uma coisa é homenagear um homem chamado Santos Graça que merecia a estátua que lhe foi feita, outra coisa é homenagear pessoas com quem conversou, de quem era amigo: “São exemplos de motivação que é preciso trazer para a sociedade. Não sou apologista que só se deve homenagear as pessoas cem anos depois, até acho que algumas deveriam ser homenageadas em vida porque o seu exemplo, aquilo que representam, o que fizeram e que reconhecemos como os melhores entre nós, só temos que saber agradecer e enaltecer. O padre João Marques foi uma pessoa de cadeira vazia ao seu lado como representa o monumento, estava sempre disponível para dar uma explicação ou partilhar os seus conhecimentos fosse com quem fosse. O Nando, um autodidata, pintor, músico, no ano seguinte ao seu desaparecimento, fizemos questão de perpectuar a sua memória. E isto deve ser feito enquanto as pessoas têm memória viva, é isso que estamos a fazer. Depois da Susana, perpetuaremos o José de Azevedo numa praça da cidade porque são pessoas que nos marcaram, a mim naturalmente, mas acima de tudo à sociedade. Enquanto vivos estiveram sempre ao dispor e é preciso fazer essa distinção. Acho que é isto que pode fazer a diferença para o futuro de uma cidade onde as pessoas continuam a sentir-se umas às outras enquanto comunidade. No dia que perdermos isto, deixaremos de ser uma comunidade”.

Quando a Importância de uma Obra é Social

“Fiz muita coisa ao longo deste tempo, mas há duas obras que têm uma componente humana, para mim, determinante. A transformação da escola da Lapa num centro de acolhimento para aqueles que não têm ‘ninguém’, os nossos idosos que deixaram de ‘existir’ para a vida. Nós passamos, através deste equipamento, a dar-lhes um projecto de vida, voltaram a ler, a fazer teatro, a cantar. Acho que as obras mais importantes são aquelas que fazemos com as pessoas e pelas pessoas. Agora, estes dois projectos, o pólo da Lapa e de Aver-o-Mar, a que se seguirão em Beiriz e Estela, são diferenciadores daquilo que se faz, nomeadamente, com as pessoas mais idosas – arranja-se uma sala, e deposita-se lá as pessoas com uma televisão à frente dos olhos, à espera que o dia passe. Nós enquanto sociedade nunca seremos capazes de pagar aquilo que estas pessoas fizeram por nós em tempos muito difíceis. Gosto de coisas físicas que temos feito, como a Arena que está a terminar, a conclusão da Via B ou o Parque da Cidade algo que para nós era idílico, mas isso, qualquer um faz. Agora, estes projectos com o conteúdo social que têm, com a disponibilidade das pessoas que aqui colocamos, com a alegria que eu vejo na cara de quem frequenta estes espaços, são sem sobra de dúvida, na minha modesta opinião, os projectos mais importantes. Estes equipamentos cumprem numa fase diferente da sua vida física uma outra função que é insubstituível, dar esperança de vida e um projecto de vida a quem já não tem vida activa”.

Disse o que mais gostou de ter realizado até agora nesta travessia do tempo. E quais foram os projectos em que se sentiu mais frustrado? “Não ter conseguido avançar com as obras de ampliação do Hospital onde investimos tudo, em tempo, em dinheiro e em disponibilidade de terreno. Só não tivemos a vontade política de quem decide, de avançarmos com as desejadas e necessitadas obras. Outra coisa que para mim também é muito relevante é a questão do Porto de Mar, a acessibilidade, a dragagem, debatemo-nos com isto todos os anos. Felizmente, as condições de segurança dos pescadores melhoraram muito e por isso não temos tido a lamentar mortes nos últimos anos, mas morreu já muita gente aqui na entrada da barra, e esse é sem dúvida um equipamento que merecia ter um outro acompanhamento, uma outra sensibilidade de quem tem competência para decidir, para que os homens do mar possam sair e entrar todos os dias. São transtornos muito grandes para esta actividade económica e que numa comunidade como a da Póvoa de Varzim, tem uma importância não só económica como cultural porque este mar salgado corre nas nossas veias desde tempos imemoriais”.

Há também projectos que pela sua morosidade por estarem sujeitos a aprovação de candidaturas ao PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, atrasaram a estratégia Local de Habitação do município que só agora começa a sair do papel, “e isso para nós é fundamental porque queremos dotar a cidade de equipamentos que permitam às pessoas, independentemente de terem recursos ou não, terem acesso às mesmas condições para poderem no futuro saírem da situação deficitária em que estão, melhorarem o seu nível de vida, é isso que todos nós procuramos. É evidente que iremos ter sempre focos de instabilidade social, de pessoas que por esta ou aquela razão não mudam o trilho, mas acho que temos que conferir a todos, mesmo a essas pessoas, as oportunidades que são disponibilizadas a quem tem cursos e outros recursos. Não fazemos esse tipo de distinção nas nossas escolas, nos equipamentos que colocamos ao serviço de todos, e os nossos serviços sociais fazem o resto de forma a garantir que as pessoas tenham acesso às mesmas condições e que em igualdade de circunstâncias possam naturalmente, ascender à escada social”.

As associações locais também têm merecido respostas diferenciadoras. A autarquia foi criando um conjunto de condições não só na remodelação das sedes, apoios financeiros, mas também criando a exemplo Os Dias no Parque, condições para uma certa sustentabilidade. Porém isso tem os seus custos? “Mas, também temos um retorno, o envolvimento que as associações têm na cidade. A quem tem fome não lhe dês o peixe, dá-lhe uma cana. E as nossas associações têm aproveitado essas oportunidades, quer através do ‘Póvoa ao Ar Livre’ instalado numa tenda onde organizam os seus eventos, quer n’Os Dias no Parque que é sempre uma aposta muito grande que as associações com os seus colaboradores fazem para terem condições financeiras para as suas actividades ao longo do ano. Há sempre quem diga que deveríamos pegar nesse dinheiro e distribuí-lo, mas não era igual. Estes são eventos únicos, feitos por poveiros para poveiros em que há um envolvimento total, de gostar da associação, de contribuir para ela e ao mesmo tempo confraternizarem. Isso faz com que o nosso tecido associativo seja riquíssimo. Este ano, cerca de uma centena de associações estiveram presentes nos Dias no Parque. Naturalmente, que isto se deve a este movimento associativo, importante até no acolhimento para quem cá chega e tem uma porta aberta, gente que os recebe, que lhes permite e disponibiliza condições de adaptação. Quando chegamos a um sítio e estamos sozinhos procuramos onde ter acolhimento, onde nos possam receber, nos possam ensinar, onde podemos ter isto ou aquilo. E as nossas associações fazem muito bem este papel de integração e isso é fantástico porque é o que faz o equilíbrio social na Póvoa de Varzim”.

Os passos da modernidade Precisam de Visão e Estratégia

“O futuro é sempre objecto de discussão colectiva, que há-de acontecer, mas que se vai fazendo e para o qual a linha que fomos desenvolvendo, neste últimos 30 anos, não será muito diferente. E nisso, há factores determinantes desde logo os novos fundos comunitários, o PRR, 2030, que as pessoas tanto ouvem falar, de onde esperamos receber cerca de 20 milhões de euros, para a renovação de equipamentos como as escolas, a conclusão da rede pública de algumas infraestruturas e de equipamentos que serão colocados à disposição de todos os cidadãos. Outros mais estratégicos, mais dirigidos para captação de novos públicos, como será o caso do desenvolvimento do novo interior do Porto de Pesca ou a remodelação e recuperação da antiga fábrica A Poveira. Depois, mais para o interior, a segunda fase da zona industrial de Laúndos, do novo grande projecto da economia circular que a Lipor vai desenvolver nos terrenos que estavam destinados ao aterro e que hoje já não são equipamentos que a Lipor careça. E para tudo isto será necessária uma abrangência política para a discussão destes assuntos. Ou seja, o meu projecto não é melhor que o teu, o que importa aqui é o projecto da cidade, um projecto conjunto, para sermos desta forma capazes de reunir os recursos necessários, que são recursos financeiros e técnicos, para podermos partir para os próximos 50 anos de desenvolvimento do nosso espaço comunitário, que é o concelho da Póvoa de Varzim”.

Como projectar o futuro sem cometer erros do passado? “Com o exemplo da Fortaleza percebemos que equipamentos noturnos não podem ficar nas proximidades das residências. Com a cedência que foi protocolizada com a Doca Pesca, esta área frente à Marina Norte passou a ser da responsabilidade do município, que é uma área nobre de mais para ser só um relvado e um local de estacionamento. Esta é uma oportunidade porque tivemos uma excelente resposta por parte da nova marina que rapidamente encheu, o que quer dizer que há movimento, e não há muitas cidades onde se possa ter um equipamento desta natureza, onde se vai a pé para o centro da cidade, para o Casino, para a restauração, para a diversão, para tudo aquilo que é necessário”.

E revela a intenção do projecto apresentado em Outubro de 2022: “Irá transformar esta área numa verdadeira Marina com equipamentos de apoio. Com a construção dos armazéns de aprestos na zona Sul do Porto, foram entregues ao município os antigos armazéns, ainda este ano vamos abrir o concurso para a concessão destes espaços, restauração, bares, aquilo que as pessoas nos apresentarem e que possam constituir uma mais-valia para a cidade. É agradável estar junto ao mar, no caso, numa zona onde temos actividade recreativa, turística e actividade profissional, tudo ao alcance dos nossos sentidos, e é das coisas mais importantes que o Município tem para vender. Se juntar a isto o que se passa do lado de terra, nomeadamente a fábrica A Poveira que vai ser reconvertida numa área de actividades e museu histórico ligado ao mar, só podemos concluir que iremos criar uma nova centralidade porque reúne condições óptimas, não perturba o funcionamento da cidade, tem estacionamento disponível, tem condições ímpares de proximidade com o mar. Acho que será um equipamento que vai claramente marcar a diferença para os próximos tempos na Póvoa de Varzim, um projecto muito determinante para o futuro da cidade”.

A imensa manta de água enrugada pelas marés precisa de novas redes que vão para além das pescas: “Criámos recentemente o curso de especialização em Estudos do Mar com a participação da Universidade Católica e da Marinha Portuguesa, que é o embrião de um equipamento mais robusto que queremos construir, precisamente colocando parte do espaço da fábrica A Poveira para essa vivência. Hoje, toda a gente que tem uma actividade formativa em questões ligadas ao mar, encontra neste primeiro curso, a curiosidade de não precisar ser licenciado porque é destinado a todas aquelas pessoas que estão interessadas em valorizar os seus conhecimentos e de alguma forma estão ligadas à actividade. Este é já um enorme sucesso, mas outros se seguirão”.

Houve também a preocupação de chamar estudantes para a cidade, com a oferta de uma residência universitária na antiga Escola do Grémio: “Qualquer cidade que tenha uma universidade e tenha uma vivência estudantil é sempre uma cidade atractiva, com movimento, estamos a fazer novamente esse percurso. Recorde-se que quando foi montado o Instituto de Contabilidade na avenida Mouzinho, teve esse mérito de muita gente ter vindo para cá estudar. Depois, com a mudança para as imediações do estádio do Rio Ave, perdemos essa vivência. Como temos o Metro a passar à porta, tentámos criar aqui uma dinâmica para passarmos a ter novamente essa vivência estudantil que é a alegria de muitas cidades”.

Foram lançados vários projectos para o futuro, sabendo que alguns ficariam em lista de espera não só por questões de prioridade como de financiamentos comunitários que as mudanças de governo nem sempre ajudam ou atrasam, o Museu de Rates e a Escola de Música, o Museu do Mar, aquisição de casas históricas para se ligarem à cultura. Isto não vai colocar, logo à partida, responsabilidades ao novo presidente de Câmara que dentro de ano e meio assumirá as rédeas da cidade? “Penso que não coloco responsabilidades, mas oportunidades. As pessoas têm todo o direito de a cada momento repensar o que é importante e o que não é. Eu tenho esta minha forma de ser e não consigo estar quieto nem deixar de pensar naquilo que eu gosto, que é a nossa cidade. Agora, não tenho a ambição de deixar nenhum projecto que seja uma espécie de guia. Tenho a obrigação de deixar pensar e se possível concretizar um conjunto de projectos que são ambiciosos. Mas, o futuro a Deus pertence e a ambição também é à medida de cada um. Um autarca precisa ser ambicioso para concretizar projectos que muitas vezes nem sabemos aonde estão os recursos financeiros, mas isso faz parte da vida. Algum risco, naturalmente controlado, mas tenho consciência que há muita coisa que se não tivesse existido ambição, nunca se concretizaria”.

A Cidade Sabe Agraciar os Exemplos que a Engrandecem

“Podíamos ter celebrado os 50 anos no dia 16 de Junho de 2023. Pensando no assunto, reduzir 50 anos a um dia não faria sentido e lançámos o desafio de, ao longo de um ano, comemorarmos o cinquentenário de elevação da Póvoa de Varzim a cidade. Isto levou ao envolvimento de toda a actividade cultural, desportiva e recreativa. Por isso, vamos culminar todo este envolvimento, no dia 16 de Junho, com uma pública homenagem a todos aqueles que individualmente ou enquanto donos de empresas que tenham contribuído para aquilo que a cidade é hoje, quer do ponto de vista económico, quer da divulgação do nome da cidade. As pessoas ou empresas que referenciamos das mais diversas actividades, das mais diversas proveniências, mas que são marcas impressivas da Póvoa de Varzim, serão homenageadas. São 33 entidades entre pessoas individuais e empresas que vamos distinguir com uma medalha de reconhecimento poveiro própria para este evento, dos 50 anos. Numa outra vertente, cultural e associativa que nunca tinha recebido uma distinção, mas que fazem parte, hoje, da história da cidade, arquitectos, escultores, músicos, bailarinos, actores, gente que faz acontecer. Vamos fazer essa distinção porque é um momento de celebrarmos em conjunto isto que conseguimos construir até aos dias de hoje. A cidade, o concelho nunca é o trabalho de uma pessoa só, é sempre o trabalho da sua comunidade”.

Como é que o político vê a sua envolvência como autarca ou como um dos novos embaixadores do Pacto Ecológico Europeu, entre outros cargos que já exerceu au ainda exerce? “O objectivo foi sempre servir e representar da melhor forma a Póvoa de Varzim. Foi esta cidade que me proporcionou todas essas actividades que fui desenvolvendo. Nunca o fiz pela minha realização pessoal. Continuo aqui como autarca a desempenhar o meu papel e acho que essas actividades que me saem do corpo também me ajudaram a valorizar e a conhecer outras coisas que de outra forma passariam apenas pela imaginação. Além disso, se formos inteligentes conseguimos transportar e fazer o filtro, percebendo que pode ser uma mais-valia e um reconhecimento para o nosso concelho. Naturalmente, acaba por fazer parte do nosso enriquecimento pessoal que podemos colocar ao serviço da comunidade que nos escolheu e nos proporciona”.

Uma coisa é acolher novas funções outra é rejeitar. Isso já aconteceu? “Já rejeitei algumas. A vida é feita de opções e eu fiz uma opção.

Às vezes a bagagem que adquirimos ao longo de uma vida também não pode ser desperdiçada. O autarca quando terminar o mandato vai de férias ou tem novos projectos? “Vamos ver o que vai acontecer daqui até ao próximo ano. Este é um daqueles bichinhos que não sai de dentro de nós. Naturalmente, se puder ser útil, cá estarei. Digamos que seria muito egoísmo da minha parte fechar-me e não continuar, de alguma forma, a não colaborar, naquilo que me for possível participar”.  

Por: José Peixoto

Fotos: Rui Sousa

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