
O Salão Nobre dos Paços do Concelho foi pequeno para receber na segunda-feira, a tomada de posse de Andrea Silva, a primeira mulher a assumir a Presidência da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, sem maioria absoluta, sucedendo a Aires Pereira, que por sua vez, tomou por eleição o lugar de Presidente da Assembleia Municipal. Na cerimónia foram empossados todos os elementos da vereação e membros da Assembleia Municipal que ocorreu após o acto de posse do executivo.
Andrea Silva, Octávio Correia, Marco Barbosa e Carina Moreira (PSD); João Trocado, Miguel Nascimento e Andreia Teixeira (Aliança Poveira); José Luís Vasconcelos e Mário Lima (CHEGA) integram o executivo municipal.
“É com uma emoção profunda e um sentido de responsabilidade imenso que, hoje, tomo posse como Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. Este é um momento histórico na vida colectiva da nossa comunidade. Pela primeira vez é dada posse a uma mulher Presidente de Câmara”, disse Andrea Silva.
E lembrou que “com esta cerimónia de instalação dos órgãos de administração do nosso município, chega ao fim a contenda eleitoral. Os poveiros que nos conhecem, que nos ouviram e a quem nós ouvimos, pronunciaram-se soberanamente e de forma expressiva. A nós, eleitos, compete-nos aceitar humildemente o seu veredicto”.
Para Andrea Silva, “as maiorias, quando não se conquistam, constroem-se. Quero, pois, neste momento afirmar solenemente, perante todos vós e perante os poveiros, que me comprometo a colocar ao serviço da operacionalidade governativa do município, a especificidade de uma liderança feminina”.
E aproveitou o momento para, “nesta reunião plenária do nosso município, cidade e freguesias, afirmar o desejo de que partilhem comigo a consciência da gravidade da crise social que vivemos, no país e entre nós. Casas que faltam, salários que não chegam, braços que escasseiam para trabalhar, imigração de que necessitamos, mas não sabemos acolher nem gerir, um turismo que enche as ruas de que os naturais se afastaram. Enfim, as muitas feridas de um país que não sabe bem para onde caminha. É neste cenário que as autarquias são chamadas a gerir o território. Somos, nesta emergência, o condomínio do Concelho. Somos a família que cuida, somos o vizinho que conhece as carências e os sonhos de cada um. Nunca os tempos foram tão desafiantes como os que agora vivemos”. E sublinha que “para estar à altura das exigências deste tempo, terei de ser e serei uma presidente transparente e séria, disposta a ouvir e a reflectir. Mas, serei igualmente uma presidente com capacidade para decidir, mesmo quando as decisões são difíceis”.
Na Habitação, “que é hoje um dos maiores desafios nacionais e só é resolúvel com o aumento substancial da oferta pública, o cenário é socialmente tão impactante que até a geografia humana das cidades está a ser alterada. Tudo faremos para que este fenómeno não se verifique entre nós”.
E apontou políticas a ter em conta: “Sabemos que a resposta ao aumento da delinquência e da criminalidade juvenil passa, sobretudo, por políticas públicas sérias, nas áreas da Habitação, da Saúde, do Desporto e da Educação. Na Mobilidade Urbana, em que a sustentabilidade é um objectivo sem retorno e, portanto, tem de priorizar todo um ecossistema de mobilidade em que os cidadãos tenham no espaço público o seu lugar de encontro”.
Andrea Silva garante que “doravante, como no meu recente trajecto político, assumirei, naturalmente, as áreas sociais, a juventude e a cultura, que é comprovadamente uma grande referência identitária da cidade e do Conselho”.
E concluiu com uma mensagem de esperança e de acção: “O futuro que queremos começa agora. E esse futuro será construído por todos nós. Vamos trabalhar juntos para criar uma cidade mais justa, mais humana e mais solidária. Porque todos importam. E é por todos que aqui estou para servir”.
Afonso Pinhão Ferreira Apela à Elevação Política dos Eleitos
Antes da instalação dos Órgãos Municipais, o Presidente da Assembleia, Afonso Pinhão Ferreira, que cumpriu três mandatos, no seu discurso de despedida elegeu a Póvoa como lugar de responsabilidade para todos os eleitos: “Sabendo bem que ninguém é bom juiz em causa própria, devo afiançar que foram anos de intensa entrega à comunidade poveira numa vivência política ou social que seguramente deixou um registro notório e positivo, o qual, estou certo, o futuro saberá reconhecer”.
E acrescentou: “Pois bem, hoje, no dia em que deixo a política activa, é a minha última obrigação dar posse à Senhora Presidente da Câmara, Dr.ª Andréa Silva, e instalar a nova Assembleia Municipal. Considero um privilégio e uma honra fazê-lo, mas antes desse protocolo gostava de vos deixar algumas reflexões: Não fora às circunstâncias criadas pelos resultados eleitorais, exigirem do futuro Executivo Camarário uma indiscutível e ampla capacidade negocial, vai ser preciso e obrigatório bom senso para se conseguir acordos maioritários, anuências que sejam conducentes a tomadas de decisões previamente abençoadas por maiorias. Sobre este assunto, permitam-me lembrar que cabe aos agentes do Poder Local elevar a política como uma função nova, como um serviço humano e comunitário, bem como ajudar a consolidar uma consciência social na comunidade onde participam. Na verdade, para quem sabe ler, o resultado eleitoral nesta autarquia ditou que os poveiros pretendem um projecto político negociado que seja benéfico para a grande maioria. Para isso, irá ser preciso sobrepor às ideologias partidárias e às emoções exacerbadas um plano colectivo que interesse à grande comunidade poveira”.
Afonso Pinhão Ferreira conclui: “De facto, detesto essa palavra competitividade, usada amiúde em todos os discursos políticos e empresariais. Sra. Presidenta Andrea Silva, Srs. Vereadores, Srs. Presidentes da Junta de Freguesia, Srs. Deputados Municipais, enfim, Srs. eleitos para a Política Local, apelidada de política de proximidade, cabe-vos proteger o regime democrático. Aos Srs. agora Eleitos, cabe continuar a defender a democracia”.
Na próxima edição desenvolveremos este acto de posse dos órgãos autárquicos.
Por: José Peixoto