Uma vida ou várias vidas são necessárias para acompanhar o ritmo de uma cidade que sem perder a sua identidade não pode e não quer ficar parada no tempo. As rápidas transformações impostas pela modernidade precisam de um certo tempero, por forma a desligar o Ser humano da máquina, da alucinação. Daí a necessidade que temos em dar à tradição os valores da memória e ao desenvolvimento económico e social os valores da cultura. Não precisamos estar à frente do tempo, apenas acompanhá-lo.
Temos por defeito olhar a cidade, muitas vezes desatentos ao concelho, às freguesias que o compõem. A Póvoa de Varzim não é mais que tudo, é apenas o centro de uma exigência concelhia onde todos têm os mesmos direitos. Hoje, podemos dizer que há um tempo antes e um tempo depois, onde as freguesias foram mudando a face e adquirindo um novo rosto.
“A minha vida dentro da autarquia desde 1988, quando comecei a prestar serviços enquanto funcionário, e um ano depois como Vereador, foi sempre no sentido de resolver problemas das freguesias. Numa primeira fase, problemas infraestruturais, como abastecimento de água, que muitas freguesias não tinham, algumas tinham abastecimentos precários, resolver problemas de águas pluviais, começar a delinear as primeiras obras de saneamento. O projecto que ainda tive a oportunidade de iniciar foi a construção da remodelação da rede na freguesia de Aver-o-Mar. Nós fomos sempre construindo a casa a partir de alicerces robustos. Portanto, durante o primeiro mandato do Macedo Vieira, tivemos uma fase muito infraestrutural, quer de infraestruturas de água, saneamento e resíduos, quer melhoria de caminhos, de acessos, e também a construção dos centros cívicos das freguesias. Ou seja, dar visibilidade e condições para que as pessoas das freguesias tivessem onde se encontrar e conversar”, recorda Aires Henrique do Couto Pereira, Engenheiro técnico e Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim a cumprir o seu terceiro e último mandato.
E acrescenta: “Quando chego à presidência estavam resolvidos todos estes problemas. Estamos agora a concluir as freguesias mais distantes que ainda dependiam de obras não só da nossa responsabilidade, como foi o caso das Águas do Norte com a construção da rede e do inter-sector que vai a Balasar e que permitiu também ligar Rates, e em Laúndos com a construção do novo inter-sector que veio pela Ecovia ligar ao sistema da Póvoa de Varzim. Para as pessoas perceberem melhor, isto atrasou porque inicialmente o projecto propunha que os esgotos das freguesias mais a norte, Aguçadoura, Estela e Laúndos fossem para a ETAR de Esposende, junto ao rio Cávado. Mas, o presidente da Câmara da altura daquele município entendeu que não tinha condições para receber esses esgotos, chegou-se até a instalar um colector na chamada rua do Rio Alto e que acabou por ficar abandonado durante muitos anos. Agora, serviu para resolver os problemas de saneamento, nomeadamente da alteração que foi feita no antigo Parque de Campismo da Estela”.
No primeiro mandato como Presidente as freguesias passaram a merecer uma atenção redobrada? “Entendi que era preciso criar condições de igualdade. Ou seja, dar às freguesias espaços com características e qualidade equivalente às que temos na cidade. Estamos precisamente a ter esta conversa num espaço paradisíaco, que é o Parque da Cidade com a zona desportiva ao lado. Procedemos à remodelação por completo de todas as infraestruturas desportivas e avançámos também para alguns equipamentos sociais que eram importantes. Sejam eles Lares, através das parcerias com as associações locais, seja nas escolas com a melhoria da parte desportiva, com os pavilhões. Criámos também condições para que pudesse haver escolas de música, escolas de dança, ou seja, que nas nossas freguesias pudesse haver os mesmos equipamentos que existem na cidade. Isso ajudou as pessoas a fixar-se, a optar por viver nas freguesias. Esse foi o esforço que fomos fazendo ao longo do tempo. Agora, estamos na última fase com a construção ou requalificação de equipamentos de apoio à terceira idade, os Centros Ocupacionais que se revelaram um excelente exemplo de integração dos nossos idosos e que ajudam a combater a solidão daqueles que vivem sozinhos, que os filhos estão longe. Estes Centros Ocupacionais vieram resolver essa questão. Diria que nas nossas freguesias haverá ainda alguma coisa a fazer, melhoramentos ou recuperação. Vamos agora iniciar a recuperação da zona do Monte em Terroso. A empreitada vai abranger a Rua do Miradouro, Travessa do Miradouro, Rua do Monte e Calçada do Monte. Em Rates fizemos a recuperação de todo o Centro Histórico, estamos agora a fazer o Museu de Arte Sacra e a Escola de Música no mesmo edifício. Em Balasar está tudo a mudar em função da construção do novo Santuário, o novo parque junto ao rio Este. Tudo isso foi feito ao longo destes anos”.
Infraestruturas das Freguesias Tornam o Concelho mais Homogéneo
“Uma outra preocupação foi aumentar a capacidade de execução com a colocação no Orçamento Municipal de um milhão e meio de euros por ano destinados às freguesias que dependiam muito do município, e o município tem pouca vocação para obras de pouca monta. Essa medida veio aumentar muito a motivação dos presidentes de Junta porque passaram eles a administrar, a ter capacidade de execução, sem precisar de andar de mão estendida pelos corredores da Câmara Municipal. Muitos dos funcionários das juntas de freguesia tiveram formação na Câmara Municipal, relacionada com a contratação pública, ficando habilitados a procedimentos. Também abrimos os Centros de Atendimento Municipais em todas as freguesias que permite fazer determinado requerimento ou tratar de certa documentação. Houve a preocupação de continuar a tratar as 12 freguesias independentemente da agregação e por isso foi fácil, agora, fazermos esta transição. Qualquer cidadão do concelho da Póvoa de Varzim pode ir a uma das nossas freguesias e ser atendido como se o fosse no CAM da Praça do Almada ou na Câmara Municipal. A nossa estratégia foi tratar todos os cidadãos por igual, dar-lhes as mesmas oportunidades e criar condições físicas para que isso pudesse acontecer. Ao longo do tempo, fomos construindo todos estes equipamentos que vamos assistindo no concelho, em alguns casos, estabelecemos diversas parcerias com a Igreja ou com as associações locais”.
O Centro de Atendimento Local, na antiga garagem do Linhares, pelo serviço prestado aos cidadãos veio apaziguar os críticos e as críticas até da fachada em forma de rede? “O espaço foi concebido para ser aquilo que é hoje, uma concentração de serviços com um grande nível de profissionalismo por parte dos funcionários do município, onde não há nichos, isto é, as pessoas podem ser atendidas por qualquer um dos funcionários, por isso acabámos com a Loja do Ambiente na Praça do Almada. Temos serviços personalizados de atendimento para as obras particulares. Não tenho tido reclamações do serviço e isso satisfaz-me porque percebo que todos os dias o nível de tranquilidade se mantém, não vejo pessoas zangadas nem aos gritos, o que quer dizer que estamos a cumprir a nossa missão, o investimento foi feito na recuperação daquele espaço e na construção de um edifício onde concentramos todos os serviços de atendimento público. Não tenho dúvidas que foi uma aposta ganha”.
O Parque da Cidade foi também o mote para criar espaços verdes e de lazer nas freguesias? “A ideia é que as pessoas tenham ali ao lado um sítio onde possam levar as suas crianças, onde possam passear e relaxar. Em Argivai recriámos o antigo Anjo com a recuperação de uma área significativa que a Câmara acabou por receber com contrapartida a um loteamento. Em Balasar fizemos o mesmo junto ao rio Este, em Rates estamos a fazer no Parque Verde, na Estela fizemos também junto à capela de São Tomé. Seria impossível imaginarmos que as pessoas para usufruir de um espaço destes tivessem que vir ao fim de semana até à cidade. Em cada uma das nossas freguesias existe efectivamente um desses equipamentos, maior ou menor em função da disponibilidade que existia, mas todos com enorme qualidade e com o mesmo nível de cuidado que tem aqui o nosso Parque da Cidade”.
Ao nível desportivo foi uma promessa equipar todos os campos de futebol com relvado sintético, mas em alguns casos foram mesmo construídos novos parques desportivos: “Em alguns casos, as novas infraestruturas são melhores do que as que existem na cidade, como é o caso do campo de futebol de Aver-o-Mar, o campo de futebol de Balasar, o novo espaço que foi recuperado em Aguçadoura, o novo campo de Futebol do Limarinho em Rates, são instalações desportivas de elevado nível e que permitem a prática desportiva em cada uma das nossas freguesias. Todos estes investimentos ultrapassam o milhão e meio de euros, mas ficamos felizes por perceber que aquelas pessoas têm aqueles equipamentos ao seu dispôr, e que trouxeram mais-valia para a Freguesia. Agora, estamos a necessitar de remodelar alguns equipamentos desportivos mais antigos. Estou a lembrar-me de Argivai, da Estela onde é preciso fazer mais alguma coisa uma vez que são equipamentos que já não são compatíveis com os novos equipamentos que existem em Terroso, Aver-o-Mar, Balasar ou Rates, estes de primeira ‘liga’, ou seja outro nível”.
Ainda no âmbito da remodelação dos relvados continua a haver novidades? “Estamos a mudar o relvado natural do campo de Laúndos por um sintético, uma vez que o nível de ocupação não é compatível com um relvado natural. Todas as freguesias têm esses equipamentos, a nossa vida associativa é riquíssima, somos mais de 100 associações, os Dias no Parque são exemplo disso, isto também tem a ver com a motivação. Por isso, é que o nosso campeonato Inter-freguesias tem o sucesso que tem. A excelência das instalações, o nível de organização e de formação que hoje já é ministrada a todos os dirigentes, treinadores e árbitros, só podia redundar neste sucesso. Falo sempre com muito orgulho do nosso Inter-freguesias porque é a prática desportiva em que as pessoas se entendem, se organizam, onde não há clubites exacerbadas que muitas vezes dão cabo do desporto. Depois, acrescente-se os diversos planos desportivos com enorme sucesso onde participam cerca de 1000 atletas em cada fim-de-semana no Plano de Promoção de Atletismo. Mais recentemente criámos o Plano de Promoção de BTT, onde os participantes vão descobrindo o concelho. Isto levou à limpeza dos caminhos e contribui para uma melhor gestão do nosso espaço comum que é a floresta e que precisamos cuidar dela”.
Novos Equipamentos Significa Novos Empregos Públicos
“Quando projectamos um equipamento destes sabemos que vai gerar um aumento de recursos humanos, mas é a contrapartida que tem que acontecer para o bom funcionamento dos equipamentos, para poderem ser usufruídos pela população. A exemplo disso, o Póvoa Arena terá um quadro de pessoal de mais de duas dezenas de funcionários para pôr aquele equipamento operacional, limpo, em horários tão alargados com a abertura de sete dias por semana, é uma exigência que não pode deixar de ser cumprida, sob pena de fazermos um equipamento e depois não ser utilizado, ficando a degradar-se. O Pavilhão Municipal, As piscinas, o Cine-Teatro Garrett, não há milagres, é preciso pessoas, profissionais competentes à frente destes equipamentos”.
Um equipamento desta natureza vai exigir uma equipa capaz de programar as actividades no espaço? “Estou em final de mandato, só posso falar daquilo que é a gestão do Póvoa Arena até ao final deste mandato. Mas, imagino que irá ter uma administração própria gerida pela Câmara Municipal, que tenha um corpo tal qual o Cine-Teatro Garrett que irá fazer a sua programação, a sua ocupação e manterá um equipamento de natureza muito exigente, sob o ponto de vista das suas condições de funcionamento para que daqui a meia dúzia de anos não esteja tudo degradado e seja necessário voltar a fazer este esforço financeiro que está a ser feito nesta altura. Penso que uma gestão municipal do Póvoa Arena pode, sempre que o entender, estabelecer parcerias com entidades especializadas na realização de eventos e que pagarão a contrapartida financeira necessária pelo arrendamento e pela ocupação do espaço durante o período em que o fizerem”.
Entre outros investimentos foi construída uma nova marina num lugar mais consensual: “Quando se tenta julgar a história à luz do conhecimento que temos hoje, corremos sempre o risco de sermos injustos. É preciso perceber que na altura em que se fez a marina ao Sul não havia condições para executar esta marina. Havia um conjunto de melhoramentos e investimentos que estavam a ser feitos no porto de mar, e havia o Clube Naval Povoense que não tinha instalações. Acho muito bem a opção que foi tomada e que criou condições para que o clube pudesse sobreviver. Actualmente, a nova Marina é um sucesso do ponto de vista da ocupação, mas é preciso perceber também que o plano do porto de pesca aprovado e financiado, não previa a construção de uma marina no lugar onde está a nova. A Marina que estava prevista foi a construída e no único sítio que na altura era possível ser feita”. E sublinha: “O Município não tinha qualquer tipo de jurisdição sobre a área portuária como acontece hoje. Isso permitiu-nos fazer um protocolo com a Docapesca e a partir daí lançámos o projecto junto à actual Marina, uma vez que nos foram cedidos os armazéns de aprestos. Vamos melhorar as condições e criar espaços lúdicos, de restauração, de diversão noturna, aquele é o sítio ideal para esse tipo de ocupações porque não causam qualquer impacto na vida e no sossego dos poveiros. Isto é sempre um processo dinâmico de construção e a Marina, hoje, veio despertar a Póvoa para um conjunto enorme de valências. Daí aquele espaço sofrer uma intervenção, mas tudo ainda está muito dependente daquilo que possa ser a próxima concessão da Zona de Jogo, que será a próxima grande oportunidade de financiamento que o município terá para melhoria das suas infraestruturas turísticas porque é para isso que esse dinheiro é disponibilizado”.
Museu da Conserva e do Mar na antiga fábrica A Poveira, para Quando? “Temos um projecto base. É um equipamento que também será elegível para os dinheiros da Zona de Jogo. Não foi possível incluir nos financiamentos europeus do 2030 ou no PRR, mas estou convencido que na gestão dos próximos 12 anos do município, será construído. O Póvoa Arena é o último dos edifícios financiados pelos dinheiros da Zona de Jogo”.
Acredita que a concessão na actual empresa detentora do Casino irá manter-se? “O concurso é internacional e a empresa concessionária manifestou interesse em concorrer. O último concurso foi da Zona de Lisboa, houve mais empresas a concorrer. Eu não tenho nenhuma predilecção especial por esta ou por outra qualquer, o meu interesse é servir a Póvoa de Varzim, vamos ver quem é que vai concorrer e quem apresentará a melhor proposta para a próxima concessão”.
Manter e Adquirir Património Reforça Valências Autárquicas
“O palacete Villa Georgette adquirido pela autarquia já tem um projecto. Em breve iremos começar uma intervenção com a substituição da caixilharia e resolver alguns problemas de humidade. O edifício está quase em condições de ser utilizado, irá levar também um elevador para facilitar a mobilidade às pessoas com dificuldades de locomoção. Acho que terá condições para nas próximas Correntes d’Escritas poder ser ocupado, uma vez que esse edifício irá completar todo o projecto cultural à volta do Cine-Teatro Garrett em conjunto com a Casa Manuel Lopes”.
Quanto ao edifício Santa Zita qual é o ponto da situação? “Estamos na fase final do projecto com a construção do infantário e da creche, e da instalação dos nossos serviços sociais dentro desse edifício, o que irá libertar espaço no antigo quartel para algumas áreas novas que temos e dele precisam. É uma obra que está na eminência de começar, o concurso público estará pronto para arrancar e criarmos mais um edifício no centro da cidade para se continuar a servir a população da Póvoa de Varzim”.
Manter o antigo edifício dos serviços municipalizados continua a ser uma prioridade para a Câmara Municipal? “É um edifício arrendado. Estamos a preparar uma intervenção de qualificação do edifício. Já fizemos a recuperação do telhado, andámos algum tempo em tribunal com o senhorio para apurar sobre quem era a responsabilidade sobre esse tipo de obras, e deve ser dos poucos contratos de arrendamento onde o arrendatário é que tem que fazer a manutenção do edifício, nomeadamente o exterior, mas como é um contrato que já vem lá muito de trás, o tribunal acabou por decidir que, nós Câmara é que temos que fazer as obras que estamos a realizar. Entretanto parte desse edifício está prometido ceder à Junta de Freguesia da Póvoa, penso que assim será até porque as instalações da Junta não são apropriadas nem adequadas e terão todo o interesse nesta cedência. Penso que no início do próximo mandato o edifício estará em condições para que a Junta o possa ocupar”.
A Importância de Investir na Educação e na Saúde dos Poveiros
“O antigo Liceu Nacional da Póvoa de Varzim que nos deixa a todos uma certa nostalgia. As condições que oferecia eram as mesmas que existiam em todas as escolas naquela altura em Portugal. Havia um ginásio que nós utilizávamos de vez em quando, a ginástica era quase sempre ao ar livre. Surgiu esta oportunidade de construir um novo pavilhão. Para mim é uma enorme satisfação ao fim deste tempo todo contribuir para um equipamento que no tempo em que frequentei o Liceu não existia e tanta falta sentia, principalmente durante o Inverno. Foi uma boa oportunidade a construção daquele espaço desportivo que é usado pela escola e pelas colectividades. Mas, gostaria de destacar a renovação da Escola de Aver-o-Mar que se transformou hoje num centro de inclusão e integração de migrantes. Esta escola estava altamente degradada, mas os profissionais, quer professores, quer funcionários sempre fizeram das condições precárias uma oportunidade para não desmotivar os alunos. Por isso, foi mesmo a primeira a ser intervencionada, depois seguiu-se a Flávio Gonçalves incluindo o pavilhão, e agora estamos à espera do financiamento para a requalificação das outras três. São mais de 20 milhões de euros e temos os projectos prontos. O Governo anunciou, pouco antes das eleições, que havia mil milhões de euros para a recuperação do parque escolar que foi objecto de delegação de competências nas autarquias. Esperamos que ao longo do próximo mandato, o Parque Escolar poveiro possa ser intervencionado, estamos já a ultimar a Escola dos Sininhos. Temos estado atentos à actividade educacional e não pretendemos deslocar as crianças do centro da cidade, é uma forma de termos vida futura também cá dentro”.
A Delegação de Competências veio reduzir os gastos das autarquias? “As Câmaras não beneficiaram nada, estamos a arcar com uma despesa superior a meio milhão de euros. Desde o início, fui sempre muito crítico relativamente a isto, a Associação Nacional de Municípios portou-se muito mal em todo este processo, não defendeu os interesses dos municípios em detrimento do Governo do partido socialista. Ultimamente, as coisas foram-se corrigindo e espero que se continuem a corrigir porque esta relação de proximidade também é uma relação de exigência. Hoje, os pais ou os professores sabem quem é o responsável pela gestão da escola, é a Câmara Municipal, tem um rosto. Antigamente, reclamavam para uma Direcção Regional que não se sabia quem era nem onde estava, o Ministério da Educação estava lá na 5 de Outubro, ou seja muito mais longe, a Câmara Municipal está na Praça do Almada. Por isso, o nível de exigência é muito superior e, nesse sentido, é preciso que o Governo reveja os rácios de funcionários que é a principal dificuldade que existe no funcionamento das escolas, qual o número de funcionários por aluno, e não falo só na educação especial. É preciso dotar as autarquias com os meios financeiros necessários, para não gastarmos mais do que aquilo que gastávamos. O Governo tem que criar um equilíbrio financeiro para que possamos continuar a fazer um bom trabalho junto das nossas escolas”.
Ao nível da saúde, o novo hospital é mesmo para arrancar: “Eu nunca desisti porque acho que é dos investimentos mais importantes que nós temos para fazer. Precisamos de um hospital com uma urgência médico-cirúrgica que seja capaz de prestar os cuidados de saúde à população que lhe está adstrita, uma população de mais de 150 mil habitantes, entre a Póvoa e Vila do Conde. O nosso velhinho hospital fruto de uma grande disponibilidade dos profissionais - nunca se ouve falar em greve no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde - tem vindo a prestar esse serviço. Achei sempre da mais elementar justiça que se criasse condições para que o hospital nunca saísse da Póvoa. Houve várias ameaças, vários despachos e a seguir revogados, enfim, tem sido uma luta constante, mas entendi que devia criar todas as condições para que o município ou a Póvoa de Varzim não fosse a razão para o hospital ir para outras paragens. A junção de vontades permitiu que as instalações fossem remodeladas, que a Câmara Municipal cedesse o terreno, lhes cedesse dinheiro. Sei que estão reunidas as condições para a abertura do primeiro concurso para a construção do novo edifício e isso em definitivo enterra a questão do hospital, vai ou não vai sair. Não vai”.
Para Aires Pereira a Póvoa de Varzim “quer sob o ponto de vista do hospital atender as suas pessoas, quer sob o ponto de vista económico da vida social do centro da cidade, é fundamental nós termos ali aquele equipamento. Um equipamento que custará no seu todo 28 milhões de euros. Nós conseguimos ter um equipamento para servir Povoa de Varzim e Vila do Conde com profissionais de excelência, e com mais valências que resultarão de ter mais espaço. Acho que esta questão da saúde fica resolvida para os próximos anos e fico muito satisfeito pelo facto de nós termos conseguido ao fim de tantos anos, de tanta luta, de tanta conversa, tanta reunião, tanto quilometro pela autoestrada porto-lisboa para levar a bom porto esta negociação. Felizmente, o primeiro-ministro assumiu esta responsabilidade no dia 16 de Junho de 2024, quando nos visitou no Dia da Cidade, e hoje estamos em condições de dizer que o novo edifício hospitalar vai ser uma realidade”.
O Associativismo tem Merecido Atenções Redobradas
“O último Bairro foi o Belém, na remodelação da escola criámos um espaço para que a associação pudesse ter a sua sede. Falta-me resolver uma questão, dotar a Juvenorte de instalações condignas para aquilo que é a dimensão da associação. É difícil no bairro Norte encontrar, mas acho que vamos conseguir que haja no centro do bairro um espaço com condições físicas para que aquela gente possa ter em definitivo uma nova sede, até porque a sede onde fica, está num sítio escondido, com pouca capacidade para angariação de receita, com muitas dificuldades de manutenção. Na sede da Associação da Matriz tivemos uma intervenção enorme que lhe deu um rosto novo. O Regufe tem umas magníficas instalações junto ao Farol, nos Leões da Lapa fizemos um investimento brutal que permitiu ao Sul ficar com umas instalações fantásticas. A Juvenorte está numa situação de desigualdade e espero ainda resolver este problema porque acho que eles merecem, têm feito um esforço notável. A vida associativa de uma cidade ou dum concelho é uma das suas riquezas, portanto temos que apoiar”.
Ser Presidente da Câmara é uma actividade sujeita ao elogio e à crítica? “Tem os seus momentos. Ouço muitas opiniões até uma tomada de decisão, mas a partir do momento em que a decisão está tomada, nada altera o decidido. É evidente que haverá sempre quem goste, quem elogie e quem pense o contrário. Nós temos que traçar um caminho, o caminho leva-nos a um determinado objectivo e não nos podemos desviar sob pena de sermos julgados por aquilo que não fizemos em detrimento das opiniões dos outros. O Póvoa Arena é um bom exemplo disso. O tempo é um grande conselheiro e um grande amigo nas decisões que tomo no exercício desta função. Estou habituado a esse tipo de intervenções ao sabor daquilo que se diz, e hoje com o advento das redes sociais há muita gente que vai pela corrente. Se hoje dá para a esquerda vão para a esquerda, se dá para a direita vão para a direita, e isto é completamente incompatível com o exercício da função de Presidente da Câmara e de alguém que quer fazer alguma coisa. Se andarmos de um lado para o outro, acabamos por não fazer nada. Eu tenho esta minha forma de ser e estar e acho que não me dei mal. Há uma coisa que eu tenho que agradecer aos poveiros, agora que o meu mandato chega ao fim, que é o reconhecimento com que me têm validado as minhas propostas e aquilo que tem sido a minha actividade, e nada melhor que o escrutínio democrático das urnas para saber isso. Não tenho nenhuma razão de queixa daquilo que tem sido o veredito e a apreciação que os poveiros fazem daquilo que tem sido a minha actividade ”.
Homenagens pelo seu merecimento, entre a perda fica a permanência: “Acho que é muito bom que as cidades, no seu espaço público, tenham espaços de memória daqueles que ajudaram a construir a cidade, o concelho. Pessoas tão relevantes como o padre João Marques, um vulto da cultura, um homem sempre interessado na sua cidade, era justo que não ficasse por uma placa numa rua. Entendi homenageá-lo no sítio onde ele nos recebia em frente ao Lota, onde partilhava connosco as suas ideias e a sua cultura. Santos Graça um poveiro de eleição que finalmente recebeu a homenagem que merecia a perpetuá-lo. O Nando Gonçalves, o nosso pintor da cultura popular, o músico, enfim uma pessoa de uma amabilidade e de um coração que não lhe cabia no peito, também entendi que fazia sentido colocá-lo a dar-nos música todos os dias. O José de Azevedo que serviu o município enquanto Presidente da Câmara, mas também pela sua importante incursão na cultura popular, era importante homenagear esta memória. Acho que estes vultos não devem ser homenageados 50 anos depois, mas enquanto a memória ainda está viva. A Susana como símbolo das mulheres da sociedade matriarcal, poveira que toda a gente conhecia. Era uma mulher grande de amor, grande de coração, que teve a distinção no seu bairro, acho que merecia aquele magnífico monumento escultórico do Zé Nova, em que dignifica muito o lugar e as mulheres. A partir de Outubro terei mais tempo para olhar de alguma forma o meu contributo para dar continuidade à memória daquelas pessoas”.
A Casa das Associações ou a Obra Desejada que Ficou no Papel
“Gostava muito de ter conseguido realizar a Casa das Associações, um projecto do arquitecto Siza Vieira. Acho que era justo depois dele nos ter ‘dado’ duas magníficas obras naquela zona. Ficou muito contente depois de ter sido convidado para fazer aquele projecto, mas não foi possível porque o Tribunal de Contas assim não o entendeu. Perdemos aí de alguma forma o tempo do financiamento, da disponibilidade de verba e essa obra ficou para trás. Neste momento está na fase dos projectos de execução, imagino que no próximo ciclo possa ser executada. Esta conjugação da dita Casa das Associações e a ligação com a nossa biblioteca, e o facto de podermos ter uma obra icónica e de referência de um arquitecto como Siza Vieira, deixou-me de alguma forma triste por não ter conseguido executá-la. Enfim, são as regras do jogo, há que as aceitar, mas essa é sem sombra de dúvida aquela obra que eu gostaria de ter realizado ainda neste mandato. De resto de uma maneira geral ficaram sempre outras coisas por fazer, mas o tempo é um tempo que se esgota nas esperas. Espero que no próximo ciclo possam ser realizados alguns destes investimentos”.
Politicamente como foi lidar com a oposição? “Esta que temos convivido nos últimos anos é daquelas menos produtivas. É uma oposição, como o povo costuma dizer, do bota-abaixo. Parece que estão a fazer oposição à mesa do café, aquilo que vão ouvindo é aquilo que cavalgam, parece que não têm ideias próprias. Mas, de uma maneira geral as oposições, tirando duas excepções que tenho que realçar – o Dr. Joaquim Cancela que foi o fiel da balança ainda no tempo do Dr. Macedo Vieira e o Dr. Gil da Costa, que foi uma pessoa que rapidamente soube entrar no espírito de quem lidera, diria que era um elemento do executivo e não estava a tempo inteiro – de resto, as oposições têm sido sempre do contra. Não percebem uma coisa elementar, quando somos sufragados há alguém que ganha e alguém que perde. Portanto, o meu projecto não tem que ser imposto a quem ganha. É um projecto que as pessoas rejeitaram. A partir daí deveriam fazer uma oposição construtiva. Quem está na oposição neste momento já anda na vida pública há muitos anos e tem-se limitado a perder eleições, umas atrás das outras, quer quando foi membro da Assembleia, quer quando foi candidato à Câmara. Por isso, espero que não mudem porque é sinal de que vão continuar no mesmo sítio”. E Acrescenta: “Quem lidera o executivo tem naturalmente que ouvir toda a gente, mas tem que decidir. Nunca me incomodei pelo facto das pessoas pensarem de maneira diferente da minha, naturalmente quem lidera o executivo tem a obrigação de cumprir os compromissos que assumiu com os eleitores. É isso que tenho feito ao longo desta minha vida. Agora, custa-me que as pessoas fiquem paradas no tempo. Há elementos da oposição que continuam parados há 20 anos, com as mesmas ideias, como se a Póvoa não tivesse evoluído. Factos são factos, não há os meus factos e os teus factos, isso é hoje o que alguma extrema-direita pretende criar, acho que se confundem com essa gente ao fazerem de conta que não houve evolução e que não existem as coisas. Mas, esta foi sempre a dicotomia entre oposição e poder”.
Haverá um Aires Pereira mais livre, mas também haverá um Aires Pereira que se vencer para a Assembleia Municipal, será diferente? “A Assembleia é um espaço de debate e o Presidente deve assegurar uma equivalência dentro daquilo que é a representatividade de cada partido, mas todos têm que ter espaço para dar a sua opinião, fazer a sua intervenção. Naturalmente, este perfil de executivo que hoje tenho afirmativo, não é minimamente compatível com um presidente da Assembleia que tem que ser uma pessoa agregadora, conciliadora até ao limite daquilo que é possível. O espaço de debate na assembleia deveria ser um espaço mais construtivo e produtivo, mas vamos ver como tudo vai correr nas eleições, sem nunca esquecer de onde vim, e quem é que elege e quem é que se opõe, isso eu nunca esqueço”.
Por: José Peixoto
Fotos: Rui Sousa