Voz da Póvoa
 
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A Defesa dos Valores Socialistas e a sua Prática

A Defesa dos Valores Socialistas e a sua Prática

Política | 1 Novembro 2023

 

Ter uma opinião formada e informada deveria constar nos manuais das obrigações políticas. Como cidadão e eleitor não pense que está isento desta mesma responsabilidade. O mundo, o país, o concelho ideal, seria feito de uma certa inteligência capaz de nos envolver a todos, cada um com a sua sabedoria. Sabemos que não é assim, mas o bem que tem, é haver sempre quem se esforce por isso.

João Luís Pinheiro Trocado da Costa nasceu em 1980, na Póvoa de Varzim. Trabalha no sector privado, é licenciado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto e pós-graduado em finanças e fiscalidade. Entre 2009 e 2017, foi deputado à Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim. Em 2018, foi eleito para a Presidência da Concelhia do Partido Socialista, cargo que ainda ocupa. Em 2021, encabeçou a lista à Câmara Municipal, tendo sido eleito como Vereador.

“Em casa, o meu pai ou a minha mãe, sempre nos incutiram, a mim e ao meu irmão, pensar pela nossa cabeça, o mundo e a terra onde vivo. O meu pai foi candidato à Câmara pelo PCP, esteve alguns mandatos como membro da Assembleia Municipal, havia sempre conversas e comentários sobre as notícias que nos chegavam pela televisão, pela rádio ou jornais, mas alimentou em nós a liberdade de escolher, pensar e optar. Creio haver algo que nasce connosco ou que nos é inspirado, mas cada um encontra o seu caminho. Se herdei alguma coisa do meu pai, foi o interesse pelo mundo, pela política e também os valores. Sou uma pessoa que se identifica de esquerda, essa marca de valores que pode ou não traduzir-se numa ideologia em concreto”, recorda.

Quando é que João Trocado se envolve verdadeiramente na política local? “Pouco depois de concluir a licenciatura, comecei logo a trabalhar como Economista numa empresa do sector privado. A partir dos 26 anos passei a ter um maior contacto com a política local e a participar nas iniciativas do Partido Socialista. Na altura, era Vereador o arquitecto Silva Garcia, uma força de pensamento e capacidade de trabalho, com imensa vontade de mudança, de empenho na causa pública, em particular no concelho e na cidade. O arquitecto transformou o PS num espaço livre, em que se podia trocar argumentos, discutir assuntos, fazer planos. Eu sentia que, realmente, se estava a criar uma necessidade de alterar o rumo da cidade e da comunidade. Nós, os mais jovens, fomos recebendo dele essa grande vontade de mudança. A partir daí, senti que a minha participação, o meu envolvimento público era necessário”.

Para abraçar o projecto socialista de ‘Soltar Amarras’, João Trocado diz que foi apenas necessário encontrar jovens motivados e capazes: “Nestes cinco anos que levo à frente da Comissão Política, aderiram muitas pessoas ao partido. Sinto algum orgulho em ter conseguido replicar o ambiente que se vivia na altura em que eu próprio aderi, não por confronto político, mas por sentir que há liberdade para as pessoas poderem dizer no seu espaço partidário, o que é melhor para a comunidade. Ao longo destes cinco anos, fomo-nos juntando e muitos deles foram candidatos pela primeira vez em 2021. Por outro lado também sinto, como grande realização, ter conseguido trazer de novo o Silva Garcia, para que juntos possamos ser a força motriz, liderante e inspiradora para esta juventude que se foi formando”.

 

Oposição significa o Exercício Prático da Democracia

 

O poder na autarquia acusa a actual vereação socialista de ser mais crítica e discordante que a anterior com o mesmo número de vereadores: “Quem se candidata pelo PS, ao longo destes anos todos sempre prestou um serviço ao partido e à Póvoa de Varzim. Da minha parte, já desempenhei vários papéis na política local e nunca me ouviram criticar ninguém no meu partido, talvez por isso tenha sido mais fácil para mim reunir um certo consenso, uma pacificação do próprio partido, porque as pessoas reconhecem esta minha postura. E se eu avancei para presidir ao partido em 2018 e depois para candidato, foi porque me reconheceram essa capacidade de perceber que mais importante do que qualquer discórdia, é o trabalho político e não eventuais rivalidades que possam existir dentro dos partidos, o que aliás se tem notado muito no PSD local nestes últimos dois anos. Não se trata de atirar farpas, é apenas uma constatação, além de ter havido uma eleição disputada dentro da Comissão Política, aquilo que se nota com a ausência do primeiro eleito da Assembleia Municipal do PSD (Afonso Oliveira) e a saída do segundo eleito (Joaquim Vianez), é uma concentração enorme da actividade política do PSD na própria Câmara Municipal e em particular no Presidente, como forma de colmatar essa rivalidade ou divergência interna, e que é normal. Embora, perceba que no caso de eventuais divergências que existiram no PS, prejudicaram eventualmente o partido. Tem que se fazer esse reconhecimento. Há razões pelas quais o PS nunca chegou ao poder na Póvoa e essa é uma delas”.

João Trocado e a vereação socialista está atenta às questões que o executivo aprova, e apresenta em todas as reuniões sugestões ou questões pertinentes: “Por vezes, são-nos colocadas por pessoas que encontro na rua ou que nos contactam e alertam para certas situações. A política faz-se sobretudo pela acção, mas para quem não está nem nunca esteve no poder, deve fazer pela palavra. É esse o meu papel enquanto oposição, utilizar a palavra de forma a enriquecer o debate político e que possa responder melhor em diálogo aos anseios desta comunidade. Faço questão de exercer o mandato com rigor. Tenho a obrigação de defender aquela que foi a razão pela qual as pessoas votaram na candidatura do partido socialista, quer para as assembleias de freguesia, municipal ou Câmara Municipal. Desta feita com uma responsabilidade acrescida porque fui eu o cabeça de lista, o rosto da candidatura. Na minha opinião, tendo sido vencedor o PSD, podem criticar a forma como defendo o meu mandato, mas devo exercer uma alternativa política sem esquecer o programa que defendi quando me candidatei e não adoptar o programa que foi maioritário nas urnas”.

E acrescenta: “Quando o executivo decidiu aumentar a tarifa da água no período das férias de Natal, na penúltima semana de Dezembro, sendo o Orçamento debatido em Outubro, altura em se apresentam as receitas e as despesas necessárias, então compete à oposição explicar que pode ter havido aqui uma intenção de comunicar esta medida de uma forma ardilosa, prejudicando os poveiros. Mais recentemente, foi decidido gastar cerca de 2,3 milhões de euros num viaduto e pouco mais de 400 metros de estrada para concluir a Via B. Vai-se gastar um montante completamente desproporcionado numa obra, que na nossa opinião, não é prioritária. Ao mesmo tempo cobra-se aos comerciantes taxa de publicidade ou exige-se que paguem pelas esplanadas valores que são irrisórios em relação a este montante. Impõe-se também aos poveiros que paguem um pouco mais mensalmente na tarifa da água ou que se aplique uma taxa turística, e podia estar aqui a enumerar outras taxas e taxinhas. Não estamos aqui a tentar ser do contra, dizer mal, mas a colocar em contexto qualquer decisão ou deliberação, onde julgamos necessário, que acrescenta ao conhecimento público, à notícia e à política. Faço o que quero, comunico da forma que quero, digo o que quero, e todos os outros estão fora desta redoma - não é a democracia que nós concebemos! Eu entendo que o exercício do mandato aplica esta necessidade de contexto à decisão política e implica também que, oportunamente, apresentemos propostas sempre que os temas abordem temáticas que no nosso programa eleitoral são díspares daquele que é o programa eleitoral da maioria, isto para relembrar que existe uma alternativa e que não há uma unanimidade que de certa forma se transforme num pensamento único”.

 

Reconhecer a Importância das Próximas Eleições Autárquicas

 

As intervenções na Assembleia Municipal trazem muitas vezes questões das freguesias. É sabido que com a desagregação podemos voltar a ter 12 candidatos nas próximas eleições. Embora a dois anos de distância o PS está já a trabalhar nesse sentido? “A questão da desagregação foi chave para nós e se a palavra é essencial também o compromisso o é. Com o PS de maioria absoluta no poder, a minha espectativa, depois desta mobilização em que se conseguiu votar pelo regresso das 12 freguesias, é que isto avance o mais breve possível. Esse compromisso é para manter. Quanto às intervenções na Assembleia Municipal, renovámos a equipa e apresentámos pessoas novas e pela primeira vez eleitas para assembleias de freguesia, neste caso muitas delas integrando a Assembleia Municipal. Orgulho-me e reconhecendo-lhes o empenho na defesa das populações, sinto que se está a criar um conjunto de elementos em cada uma das freguesias, que ao adquirirem esta experiência, muitas delas numa segunda candidatura, serão pessoas versadas no funcionamento das freguesias, mais por dentro dos dossiers, mais preparadas e capacitadas para chegar mais longe. Penso que as pessoas estão a reconhecer o trabalho dos nossos eleitos nas assembleias de Freguesia e Assembleia Municipal. Estou certo que as pessoas na próxima eleição autárquica vão reconhecer melhor os candidatos do PS e as ideias alternativas que vão apresentar”.

Há uma consciência de que as próximas eleições vão ser muito importantes para o partido, no sentido de que o actual poder terá novo candidato à Câmara e em 9 ou 10 freguesias? “O nosso papel é apresentar uma lista em cada uma das 12 freguesias e merecer a confiança dos eleitores. Vamos tentar apresentar as pessoas mais capazes. Creio que se sente um certo cansaço no poder. Ouvimos sempre as mesmas pessoas, há rostos que estão no poder há demasiado tempo. Uma parte do raciocínio que fazemos e que no fundo é também um valor político, a concentração do poder nas mesmas pessoas corrompe de vícios a democracia. Não se aplica exclusivamente ao PSD na Póvoa, noutras terras e com outros partidos acontece o mesmo. Nas próximas eleições há uma responsabilidade acrescida no jogo democrático para o maior partido da oposição. Nós esforçamo-nos muito para, ao longo deste mandato, podermos fazer o mais possível para merecer essa confiança”.

 

A política é o Exercício das prioridades

 

Na antiga fábrica A Poveira o PSD prometeu criar o ‘Museu do Mar e das Conservas’, uma obra adiada: “Não basta ter ideias, a política é o exercício das prioridades, porque os meios não são ilimitados. E na política autárquica isso é claro como a água. Nós temos como ideia para aquele local a criação de um espaço cultural, que chamamos Fábrica da Cultura, que possa funcionar como uma residência para as artes, para a dança, para a música, de forma a criar uma comunidade artística de partilha cultural que na Póvoa está muito dispersa. Penso que faz falta esse tipo de equipamentos e filosofia, raro nesta região”.

As questões da Habitação também preocupam João Trocado: “Em 2018 a Câmara Municipal prometeu fazer fogos a custos controlados para que os poveiros tenham acesso à habitação. Anunciou e renovou a promessa na campanha eleitoral. Voltamos à questão das prioridades, não se dá o impulso que é necessário. Ainda estamos na fase de projectos. Depois a culpa é do Governo. Em 2018, quando foi feita a promessa não havia PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), não havia pandemia nem sinal dela, não se tinha negociado nada com a União Europeia. Hoje, há fundos mais que definidos e temos prazo para os executar. Há mais de um ano que outras autarquias avançaram com concursos públicos para a construção de habitações e na Póvoa não se avançou com coisa nenhuma. É o exercício das prioridades”.

E recorda: Quando o executivo decide investir 9, que agora são 10 milhões, no Póvoa Arena, esse dinheiro podia ter sido utilizado na Fábrica da Cultura ou na habitação tão necessária. Sem desprimor para o Póvoa Arena que poderá ter a sua utilidade, para nós nunca foi uma prioridade. Também é de salutar que na política haja diferenças de opinião e cada um possa defender o que entende ser melhor. O que não é de salutar, é o relacionamento que um autarca, que está há muitos anos no poder estabelece com as empresas de construção ou a direcção de algumas agremiações. Foram notícia os diferendos com a antiga direcção do Desportivo da Póvoa. Ou seja, não tem só a ver com a defesa do interesse público, que deve ser intransigente, mas por vezes a defesa do interesse público confunde-se com o interesse momentâneo em executar determinada política. No caso, foi coincidente nas três maiores obras lançadas no anterior mandato, ter havido diferendos gravíssimos com os empreiteiros”.

Para o Socialista há uma necessidade premente de investir na pavimentação de alguns arruamentos nas freguesias e critica algumas obras: “Na Freguesia de Rates, a intervenção feita no saneamento resultou numa pavimentação desastrosa. Recordo que por outras freguesias quanto ao saneamento, no tempo de Macedo Vieira, foi feita a repavimentação em alcatrão, que penso ter sido uma boa opção. Em Rates não houve esse cuidado. O acompanhamento das obras, no caso das freguesias, pode ser feito pelo presidente de Junta, que podia ser um agente mitigador desses problemas que surgiram. Infelizmente, em Rates ou na Estela esse acompanhamento não foi o melhor. As pessoas queixam-se das ruas sem qualquer intervenção e outras sem a melhor opção, e têm razões para isso, porque são quem diariamente as usam. Penso que nas freguesias onde o PS já foi poder essas obras foram bem-feitas”.

O aterro da Resulima tem sido uma dor de cabeça para os habitantes vizinhos e não só. Acredita que têm sido dados os passos certos para a resolução do Problema dos maus cheiros? “A Póvoa tem sofrido com o aterro que o vizinho Barcelos colocou ali na fronteira, mas os nossos eleitos nas assembleias de freguesia em Rates e Laúndos têm colaborado na troca de experiências e informações sobre o processo. Na questão da Resulima não criticaria o poder que até tem estado bem, tem tal como nós, se preocupado com as pessoas. Temos feito um acompanhamento o mais próximo possível do que está a acontecer. Infelizmente, o Município moveu uma acção judicial que foi infrutífera. Neste momento, estamos um pouco de mãos atadas e à espera que a Comissão de Acompanhamento, que foi criada com as várias entidades, possa de alguma forma mitigar os efeitos do mau cheiro, implementando mudanças no funcionamento do aterro e da unidade de tratamento de resíduos. O problema necessita de resolução e não passa pelo encerramento daquela unidade, mas pelo seu correcto funcionamento. Há dias em que o cheiro é insuportável”.

Em jeito de balanço. O que destacaria de mais positivo nos dois anos de vereação? “Existe urbanidade, cordialidade, respeito mútuo, reconhecimento de qual é o papel de cada um. O que acho mais positivo é ouvir das pessoas que se aproximam de mim ou dos meus camaradas de partido, que estamos a fazer um bom trabalho e a honrar o voto que as pessoas deram ao PS. Aliando isto ao bom funcionamento da nossa equipa, da articulação que existe com as freguesias, termos voz na Assembleia Municipal onde somos liderantes, tem levado a um reforço de confiança das pessoas. Sobretudo, reconhecem-nos a diferença, pelo rigor apresentado, estudamos bem os assuntos, fazemos oposição como alternativa, esclarecendo melhor a população. Não deixamos de fiscalizar algumas deliberações camarárias, que vão sempre acompanhadas de contexto legal, de justificação. Fazemos sempre questão de pedir os elementos que entendemos necessários para fazer essa fiscalização, sendo também este o papel das oposições. A concentração de poder num autarca sem oposição ainda provocaria mais riscos na boa gestão dos dinheiros e das opções políticas. Nesse sentido, sentimo-nos realizados e motivados para os próximos dois anos”.  

Por: José Peixoto

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