Voz da Póvoa
 
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Recordar Celestino Silva é Prestigiar o Poder Local

Recordar Celestino Silva é Prestigiar o Poder Local

Pessoas | 12 Janeiro 2023

 

Há homens que parecem ter nascido para servir a causa pública, uma verdadeira raridade nos dias que correm ou tão devagar caminham na honestidade de quem nos governa, isto a analisar pelas últimas missões e demissões.
 
Celestino Ferreira Lopes da Silva nasceu em 26 de Setembro de 1938 e, no dia 12 de Novembro de 2022, deixou-nos para sempre todo um legado de dignidade na forma de como serviu São Pedro de Rates, a sua terra. Era casado com Maria Lopes do Vale (natural de Rio Mau) e pai de Angelino, Maria Adelina, Maria Celeste, Maria Joaquina, Maria Júlia, Águeda, Paulo João e Maria de Fátima.

A responsabilidade que uma família numerosa acarreta, o mesmo se poderá dizer do encarregado-geral que foi numa empresa têxtil em Vila do Conde, nunca o impedira de se mostrar disponível sempre que solicitado para servir a comunidade. Naturalmente, através de uma capacidade ímpar para racionalizar e rentabilizar o tempo.
Destacaria, sobretudo, mais de duas décadas a servir a comunidade na Junta de Freguesia de São Pedro de Rates ou no Centro Social, mas também como membro da Corporação Fabriqueira/Fábrica da Igreja ou como elemento do Grupo Coral, da Confraria do Santíssimo. 

Para que a travessia pela memória de Celestino Silva se simplificasse dentro de uma verdade histórica de vida, socorri-me do nº 42 do ‘Ratis’, uma publicação quinzenal que preserva a memória, identidade e território em S. Pedro de Rates, e é dirigido por Armindo Ferreira, cuja autoria do testemunho se segue.
 
“Celestino Silva foi membro da Junta de Freguesia entre 1976-1985 (nos três mandatos do Sr. Manuel Correia Lopes, em que exerceu as funções de secretário) e entre 1990-2001 (em três mandatos sob a minha presidência, com as funções de tesoureiro e, posteriormente, secretário). Entre estas duas séries (9 anos na primeira: três mandatos de 3 anos cada um; e 12 anos na segunda de três mandatos de 4 mos), foi membro da oposição como vogal da Assembleia de Freguesia”, recorda Armindo Ferreira que conquistou a presidência da Junta nessas eleições.

E destaca outra das virtudes “a forma colaborante como, mesmo na oposição, participava nos debates - atitude que para mim, que há muito o conhecia, não era novidade nenhuma - levou-me a convidá-lo para integrar a minha segunda candidatura à autarquia, convite a que ele respondeu com prontidão e alegria. Já antes, sendo ele da oposição, o fizera membro da comissão que atribuiu as denominações toponímicas aos arruamentos em Rates”.
Para o director do Ratis, “Celestino Silva foi um colaborador muito próximo em todo o processo de implantação e consolidação do poder local democrático, cuja primeira legislação é de 1976, exactamente o ano das primeiras eleições. No primeiro mandato (1977 a 1979, após eleição em Dezembro de 1976), teve como companheiros Manuel Correia Lopes (presidente da Junta) e António Rodrigues de Figueiredo (tesoureiro), sendo este substituído, a seu pedido, nos dois mandatos seguintes, por Justino da Silva Craveiro. Nestes 9 anos, foi presidente da Assembleia de Freguesia, António Ferreira Matias da Silva”.

A Política em Democracia e o Movimento Associativo
 
A primeira geração de autarcas, democraticamente, eleitos encontrou pela frente a necessidade de satisfazer carências básicas da população, como a rede viária, distribuição da rede pública de água, energia eléctrica que não cobria a freguesia, ensino, acção social ou a actividade cultural e desportiva que “na prática não existiam, tal era a irregularidade do grupo desportivo, o Sport Clube de Rates, e do Rancho Folclórico que só adquiriram estabilidade e desenvolvimento após a criação da Associação, em Novembro de 1976”, descreve Armindo Ferreira.
 
Todos estes sectores foram objecto da atenção da Junta, que “com o apoio da Câmara Municipal (presidida pelo Dr. Manuel Vaz), foi construindo a espinha dorsal da rede viária (pelo centro fora até ao alto da Serra), da Borgonha, à igreja, do Senhor dos Passos ao Calvário, do Souto a Santo António e entre o Souto e a Praça rasgando a rua que veio a receber o nome de Tomé de Sousa), foi expandida a rede de abastecimento de energia elétrica, foi instalada a primeira fase do sistema de abastecimento de água ao domicílio (com origem na fonte da Granja - projecto em que a colaboração popular foi decisiva - e foi iniciada a ‘descentralização do plano escolar’, através da construção da escola da Granja (que seria inaugurada na minha presidência, em Novembro de 1986)”.

Quando Armindo Ferreira sucedeu, na Junta, a Correia Lopes, anunciou que iria manter o rumo, mas acelerar o ritmo: “Creio que consegui, mas quero sobretudo salientar que o Sr. Celestino acompanhou esse ritmo, que lhe exigiu bem mais do que nos anos anteriores. Nos 12 anos em que esteve comigo, teve como companheiros Fernando Martins (entre 1990 e 1997) e Alberto Ferreira da Costa (entre 1998 e 2001)”

Celestino Silva embora tenha integrado o núcleo fundador, nunca desempenhou qualquer cargo na Associação de Amizade de S. Pedro de Rates, mas sempre apoiou e se interessou pela sua actividade. “Não esqueço a influência que teve como membro da Comissão Fabriqueira na decisão de que, aliás, foi proponente, de esta ceder à Associação, para sua sede o rés-do-chão da Casa da Catequese, que a Associação remodelou e onde esteve sediada até se transferir para o edifício que construiu e que ainda hoje é conhecido como ‘Centro de Artesanato’. Como não esqueço a decisão da Junta de Freguesia anterior à que presidi, de que ele era secretário, de autorizar a Associação à implantação do rinque de Patinagem no largo do Souto”.

Armindo Ferreira recorda que “Celestino Silva, como associado, era presença frequente nas actividades culturais e desportivas - nestas últimas, sobretudo na década de 90, em que a Associação se aventurou no futebol federado, em benefício do qual sugeriu a criação de um núcleo de apoio financeiro, que ele mesmo baptizou: o "Clube dos mil", constituído por 100 associados que contribuíam, mensalmente, com uma quota extraordinária de mil escudos. Aquando da comemoração do 25° aniversário da Associação, em Novembro de 2001, foi, como os restantes fundadores, distinguido pela Direcção em funções, presidida por Manuel da Cruz Ferreira, com uma lembrança comemorativa”.

A Junta de Freguesia tem a responsabilidade de nomear o ‘núcleo duro’ da administração do Centro Social por vontade expressa do seu fundador e benemérito, António Joaquim Guimarães. “Em 2001, concluído que estava o ciclo bem-sucedido da administração presidida pelo Sr. António Ferreira Matias da Silva (que foi o timoneiro da construção do novo e da criação de várias outras valências), entendi que a instituição deveria entrar numa nova fase, para a qual se impunha o revigoramento da administração, em cuja presidência continuaria o Fernando Martins. Para secretário convidei o Sr. Celestino e para tesoureiro, o Sr. José Martins (Acaso). Os outros dois administradores, com o cargo de vogais, Martinho Pereira da Silva e Adérito dos Santos Matias da Silva foram designados pela Liga dos Amigos”.

Foi com esta administração que segundo Armindo Ferreira, “o Centro Social empreendeu a remodelação do antigo Lar, onde instalou a valência de creche, adquiriu e remodelou a antiga casa da Professora Vitória Massora, para a instalação do Jardim de Infância, que funcionava, desde Fevereiro de 1987, na Casa do Mosteiro, actualmente residência paroquial. E foi também esta administração que instalou, anexa ao Lar, a Academia de Saúde, com piscina”.

A Junta de Freguesia distinguiu, a 7 de Junho de 2002, por ocasião do dia da Vila, Celestino Silva com a Medalha de Reconhecimento (grau prata), um raro exemplo de dedicação à sua Terra, seja ao nível político, social, religioso, associativo e filantrópico. É por isso que a memória nunca nos atrapalha, quando o altruísmo é capaz de fazer valer toda a nossa humanidade.

Por: José Peixoto

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