Há gente que nasceu para escrever sobre a história das gentes. Alfredo Campos Matos entre a arquitectura e as leituras tornou-se no maior estudioso da obra do Eça de Queiroz, tendo publicado um primeiro volume de “Imagens do Portugal Queirosiano” em 1976, onde deu a conhecer os locais reais em que decorrem as narrativas ficcionais do escritor que abriu os olhos ao mundo na Póvoa de Varzim.
Recolhendo, ou melhor, colhendo os frutos da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto passo a citar:
Por iniciativa de A. Campos Matos, foi publicado, em 1988, o “Dicionário de Eça de Queirós”, volume que contou com a colaboração de muitos especialistas portugueses e estrangeiros, para além de inúmeros verbetes assinados pelo autor. O sucesso do “Dicionário” ocasionou a publicação de uma segunda edição muito aumentada, em 1993, e de um “Suplemento”, com artigos inéditos, em 2000.
Entusiasta da Casa de Tormes e membro do Conselho Cultural da Fundação Eça de Queirós, Campos Matos transcreveu, anotou e organizou, em 1994, a edição da correspondência inédita de Emília de Castro para o marido, depositada naquela Fundação. Esta edição e uma outra (de 1999) – “Cartas de Amor de Anna Conover e Mollie Bidwell para José Maria Eça de Queirós” – vieram abrir novas perspetivas quanto à vida do escritor, desvendando facetas de Eça que as biografias tradicionais não tinham ainda mostrado. Na sequência do seu trabalho com a Fundação Eça de Queirós, Campos Matos realizou o “Inventário de um Património” da Casa de Tormes e o roteiro “Viagem no Portugal de Eça de Queiroz” (2000).
O Instituto Camões convidou-o, por ocasião do Centenário da Morte do escritor de “A Cidade e as Serras”, a colaborar nas comemorações. Campos Matos concebeu, então, uma exposição itinerante, intitulada “Eça de Queirós – Marcos Biográficos e Literários (1845-1900)”, com o respetivo catálogo, e escreveu o guião do vídeo-filme “Eça de Queirós, Realidade e Ficção”.
Os estudos de Campos Matos sobre autores portugueses alargam-se ainda a uma “Bibliografia sobre António Sérgio” e a uma biografia em diálogos ficcionais com o mesmo autor.
Colaborou, regularmente, com o “Jornal de Letras, Artes e Ideias” e com outras publicações culturais.
Alfredo Campos Matos nasceu em 1928 na Póvoa de Varzim. Ontem, dia 5 de janeiro de 2023, despediu-se em Lisboa, onde vivia e deixou-nos as suas obras em papel e de arquitectura, como o projecto do actual Mercado Municipal.
Foto: Leandro Negrão/Global Imagens
