A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
Uma das figuras históricas de referência, ligadas à presença portuguesa nos Estados Unidos, é indubitavelmente o célebre compositor e maestro de banda luso-americano, do romantismo tardio, John Philip Sousa, popularmente conhecido como “O Rei das Marchas”, como The Stars and Stripes Forever, marcha oficial dos Estados Unidos.
John Philip Sousa nasceu em Washington, a 6 de novembro de 1854, terceiro dos dez filhos do emigrante português João António Sousa, natural dos Açores, que segundo Frederick G. Williams, Barbara Fields e Eduardo M. Dias, na obra Exploring a New World: A Portuguese-American Reader, terá sido membro da Banda Regimental de Angra do Heroísmo, capital da Ilha Terceira; e de uma austríaca, Marie Elisabeth Trinkaus.
A precoce vocação musical de John Philip Sousa, levou a que ainda muito jovem se iniciasse nos estudos musicais, tocando violino, e aprendendo composição musical. Em 1892, o musicógrafo luso-americano apresentou, em New Jersey, a sua própria banda, a Sousa Band, encetando um percurso musical fulgurante. Desde essa data até à década de 1930, realizou mais de quinze mil concertos, sendo que no ocaso do séc. XIX a sua banda representou os Estados Unidos da América na Exposição Universal de Paris.
Antes em 1888, tinha já composto a marcha Semper Fidelis que foi adotada como marcha oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América. A 14 de maio de 1897, em Filadélfia, no decurso da inauguração solene de uma estátua de George Washington, primeiro Presidente dos Estados Unidos, em que esteve presente o presidente norte-americano dessa época, William McKinley, foi tocada pela primeira vez em público a marcha intitulada The Stars and Stripes Forever (Estrelas e Barras para Sempre), considerada a obra-prima do luso-americano, e que mereceu as honras, por lei do Congresso dos Estados Unidos, de marcha nacional do país.
Afamado compositor e maestro, John Philip Sousa, escreveu também obras poéticas, de ficção, manuais, crónicas jornalísticas e uma autobiografia, tendo inclusivamente idealizado um instrumento de sopro da família dos metais, o Sousafone, uma tuba especial que o executante apoia no ombro para que possa executá-la enquanto anda ou marcha, e que é o maior dos instrumentos de sopro.
John Philip de Sousa, que faleceu no dia 6 de março de 1932, e foi sepultado com honras oficiais em Washington, no Cemitério do Congresso, é meritoriamente uma das figuras luso-americanas de maior destaque na cultura e história norte-americana.
Por Daniel Bastos, historiador
Foto: John Philip Sousa em 1922 (Library of Congress Catalog - Public Domain)