Voz da Póvoa
 
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Joe Silvey um pioneiro da nação canadiana

Joe Silvey um pioneiro da nação canadiana

Pessoas | 2 Julho 2025

 

Na passada terça-feira, comemorou-se o Dia Nacional do Canadá, um feriado simbólico que desde 1 de julho de 1867 assinala a independência deste território do Reino Unido, através da união de três colónias britânicas, a Província do Canadá, atual Ontário e Quebeque, e a Nova Brunswick e a Nova Escócia.

Estabelecida em grande parte da América do Norte, a sociedade canadiana destaca-se pela sua génese multiculturalista, intrinsecamente associada ao facto de possuir um dos maiores índices de desenvolvimento humano. Na base da mescla de grupos, idiomas e culturas étnicas que coexistem no Canadá, encontra-se o pioneirismo luso, que muito antes do fluxo migratório das décadas de 1950-60, teve no cabouqueiro Joe Silvey um precursor da presença portuguesa no território.

Natural dos Açores, Joe Silvey ou José Silva, terá deixado a ilha do Pico em 1846, ainda a entrar na adolescência, embarcando num barco baleeiro americano. Esfumada a quimera do ouro que levou à época infindos aventureiros à Califórnia, instalou-se na Colúmbia Britânica por volta de 1860, onde veio a unir-se a Khaltinaht, neta do chefe índio Kiapilano, e de cuja relação nasceu a filha, Elizabeth, a primeira criança de sangue europeu nascida em Vancouver. Joe acabaria por se tornar, em 1867, o primeiro europeu a receber a nacionalidade canadiana, tendo por essa altura aberto em Gastown um saloon chamado The Hole in the Wall (O Buraco na Parede).

Após a morte da sua primeira mulher, o açoriano natural do Pico vendeu o saloon e instalou-se em Stanley Park, onde se dedicou à pesca, tendo sido o primeiro a conseguir uma licença oficial para pescar com a técnica da rede de cerco. Até à sua morte em 1802, Joe casou-se ainda com a índia salish conhecida como Lucy, de quem teve dez filhos, fixando-se em Read Island, onde comprou um vasto terreno e partilhou parte da sua prosperidade derivada da atividade piscatória com a comunidade local.

O pioneirismo de Joe Silvey na construção da sociedade multicultural no Canadá levou a que em 25 de abril de 2015 a Câmara de Vancouver, situada na Colúmbia Britânica, a terceira maior província do Canadá, onde vivem atualmente cerca de 40 mil portugueses e lusodescendentes, inaugurasse em Stanley Park um monumento em sua homenagem. Concebido pelo bisneto de Silvey, o escultor Luke Marston, a estrutura comemorativa inclui a estátua do baleeiro açoriano e das suas duas mulheres nativas, sobre uma calçada portuguesa, para fazer a ligação à pátria origem.

Segundo alguns historiadores, o baleeiro açoriano oitocentista contribuiu indelevelmente para o desenvolvimento da província localizada no extremo oeste do Canadá e para a tolerância étnica. Sendo que, o então presidente da Câmara de Vancouver, aquando da inauguração do monumento de homenagem ao português Joe Silvey, assegurou que o mesmo, é concomitantemente, “um ponto de reconciliação entre os Povos das Primeiras Nações e a restante comunidade”.

Salientando ainda, estamos “a trabalhar arduamente para sermos a cidade da reconciliação. Vamos todos trabalhar neste objetivo multigeracional”, de modo, através da figura pioneira e inspiradora de Joe Silvey, “tentar ser um modelo para um futuro cheio de esperança, harmonioso, entre as nossas culturas”. 

 

Daniel Bastos, Historiador

Monumento de homenagem em Vancouver ao pioneiro português Joe Silvey e às suas duas esposas nativas, em memória do desenvolvimento da região e da tolerância étnica.

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