Voz da Póvoa
 
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Eduardo Lourenço ou a Literatura do Pensamento

Eduardo Lourenço ou a Literatura do Pensamento

Pessoas | 10 Março 2025

 

“Todos os meus livros são de circunstância, ou antes, são-me impostos. De resto já só escrevo de empreitada: fulano vai fazer uma conferência a tal parte, é preciso que eu escreva, eu escrevo. Senão não escrevia nada. Nunca teria nenhum destes textos. Nunca me quis servir dos autores. Hesitei durante muitos anos em escrever Pessoa Revisitado, nunca me quis servir de Fernando Pessoa para fins escolares. Podia ter feito uma tese, há imensas por aí que são apresentadas, curriculadas e tal. Mas nunca. É que a minha relação com Pessoa… Encontramos os autores com este sentimento de que fomos roubados, de que fomos já vividos, de que fomos consumidos anteriormente. Por conseguinte, experimentamos um sentimento de fascínio e, ao mesmo tempo, quase de terror diante de gente que nos parece tão parecida connosco por dentro, não é? E isso é inutilizável. É como se eu… Vem daí o próprio facto de eu não ser capaz de falar de mim. A minha maneira de falar de mim é falar através de Fernando Pessoa ou de outro autor com quem eu tenho afinidade. Na verdade, eu falo de mim em todos os textos. Tanto me faz que seja sobre política, literatura, ou qualquer outra coisa. […] Cada um dos assuntos por que me interesso daria para ocupar várias pessoas durante toda a vida. Por isso como não possuo vocação heteronímica, tenho procurado encontrar um nexo entre as minhas diversas abordagens da realidade. No fundo é a procura de um só tema. E, de facto, se virmos bem, o fio condutor do que venho fazendo, e procuro ainda fazer, é uma reflexão constante sobre o Tempo. Ou melhor, a temporalidade.”

Eduardo Lourenço escreveu um dia no Diário de Notícias esta abordagem aos seus dias de escrita.

Fotos: Direitos Reservados

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