Voz da Póvoa
 
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A aprendizagem das paixões

A aprendizagem das paixões

Pessoas | 24 Julho 2021

Antes só inconfessadas paixões de adolescente estagiário. Uma Idalina da minha rua, dona de um sorriso enigmático que gastava os dias à janela vendo a vida passar, uma outra de longos cabelos muito loiros que me deixou à beira do desmaio quando um dia pediu para experimentar a minha bicicleta, nunca cheguei a saber o seu nome apesar de durante muito tempo não perder as saidas da escola comercial (Rocha Peixoto) na esperança de lhe merecer um olhar.

O primeiro compromisso amoroso, tácito e completamente platónico, chamava-se Emília, andava no 3º ano (actual 7º) do Liceu e morava na Vila Miosotis ali na Avenida Mouzinho. Tinhamos 13 anos. Nos tempos livres íamos em correria sentarmo-nos afogueados no monumento aos mortos da Grande Guerra. Ela sempre atenta às janelas de casa e eu aos passantes, não fossemos ser surpreendidos. Tudo começara com um daqueles inquéritos muito populares ao tempo em que eram pedidas respostas a questões sobre gostos e preferências. No campo “Iniciais da pessoa amada” ela escreveu as minhas, fiz o mesmo quando chegou a minha vez. Funcionando como uma verdadeira rede social estava encontrado um match. A “relação” porém não resistiu ao receio de repressão familiar e à inexperiência dos jovens púberes, terminou com o fim do ano lectivo.
 
Anos depois, em Agosto, num dos grupos que se formavam havia uma Carmo morena de grandes olhos negros que vinha de Felgueiras com a família “a banhos” para a Póvoa, A sua atenção era disputada por diversos filhos de capitães da indústria do minho interior que não paravam de se exibirem. Mas ao fim de umas matinés no Póvoa-Cine, uns slows nos bailes de garagem e muita quilometragem no Passeio Alegre à noite, de mãos dadas, trocámos promessas de amor. Porém, apesar de avassaladora como todas as paixões destas idades, teve o destino dos amores de praia acabou “enterrada” na areia. Devastado, passei o mês de Setembro a escrever-lhe longas cartas que nunca meti no correio.

No Verão dos meus quinze anos, conheci com o João Sardinha no campismo do Desportivo uma família francesa de Paris, pai mãe professores e duas filhas liceais, Silvie de 17 e Anne de 13 anos. As manhãs eram de praia, pelas tardes abrigados da nortada na tenda ouvíamos Sylvie Vartan, Johny Hallyday, Procul Harum, num pequeno gira discos. Foi ao som de “Tous les garçons et les filles de mon age....  les yeux dans les yeux et la main dans la main ils s'en vont amoureux.” (Françoise Hardy) que Anne do alto dos seus treze anos com grande desenvoltura ante a minha atrapalhação e surpresa me levou a uma nova e desconhecida dimensão do beijo. Sobraram por uns meses trocas de apaixonadas cartas.

Texto: João Sousa Lima Ilustrações: Isaac Romero

 

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