Voz da Póvoa
 
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85 Anos, A Voz da Póvoa

85 Anos, A Voz da Póvoa

Pessoas | 19 Abril 2023

 

Será difícil construir um texto sobre a longevidade de um meio de comunicação social, sem falar na sua relevância para o valor maior das sociedades modernas: a liberdade. O jornalismo, e a imprensa escrita particularmente, foram - e apesar de todas as profecias calamitosas - são, simultaneamente garante e sintoma de democracia e de liberdade.
 
O poder tirânico dá-se mal com o jornalismo. A ideia escrita ganha asas no prelo e solta-se pelo imaginário do leitor, criando novos conceitos e gerando questões. A interrogação conduz à divergência. A sociedade informada questiona o sistema e o sistema autoritário esboroa com o excesso de ondulação. A democracia trouxe esta nova ideia de dinâmica, que incita o homem individual como ser pleno e capaz de alcançar a felicidade sem a subjugação ao Estado. O cadáver da democracia apresenta sempre as marcas de uma imprensa asfixiada. Celebrar os 85 anos do jornal "A Voz da Póvoa", é também celebrar a liberdade. É celebrar a democracia.

O jornalismo local tem-se revelado também um dos pilares de coesão social. O éter informativo dos grandes meios de comunicação vibra entre atentados no médio oriente, guerras internacionais, gatos presos em árvores nos EUA e declarações mais ou menos dissonantes de influencers. O conteúdo nacional é preenchido pelo futebol e as notícias locais dificilmente conseguem ultrapassar a hegemonia informativa dos happenings entre a margem sul e a Linha de Sintra. Não fossem estes meios de comunicação locais, de que o Voz da Póvoa é exemplo decano, a vida da cidade e arredores, a nossa vida e dos nossos seria votada ao esquecimento. Esta coesão social que nasce da ligação umbilical a uma realidade geograficamente localizada, é ainda mais importante se o leitor está deslocado. O Voz da Póvoa tem sido, por décadas, o cordão que mantém vivo o poveirismo, seja pelas redes sociais ou pelo número prodigioso de assinantes que continuam a procurar saber dos destinos da sua terra mater. Celebrar o Voz da Póvoa é também celebrar a comunidade poveira local e a sua diáspora.

A história do jornal confunde-se com a história da cidade. As páginas de jornais são fonte privilegiada da pesquisa histórica e consultar a sua ficha técnica é aceder aos nomes dos grandes actores da vida pública local do séc. XX e séc. XXI. Mais do que os factos e acontecimentos, a análise de preponderância de temas e inclinação de opiniões, permite-nos estabelecer o zeitgeist da época, como nenhuma outra fonte histórica. Celebramos também este conhecimento privilegiado do passado, só possível pela teimosia de muitas centenas de criadores de conteúdo: colaboradores, fundadores, cronistas, jornalistas, escritores e poetas.

A Voz da Póvoa é isso mesmo, de facto. É a manifestação viva da cidade em forma de jornal, que descreve, assinala e grita a plenos pulmões a narrativa suigeneris da polis poveira.

Viva a "Voz da Póvoa" e que se faça ouvir por muitos e longos anos.

Ricardo Silva, Pres. União das Freguesias da Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai

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