Voz da Póvoa
 
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Viagem em Balão aos Deserdados do Cérebro

Viagem em Balão aos Deserdados do Cérebro

Opinião | 16 Novembro 2020

Esta gripe veio mesmo a matar. Alguns tribunais abriram, mas os julgamentos que interessavam resolver estão confinados. Diria que é para esquecer. O Banco Mau não faz mal a ninguém, o Banco Bom é um vampiro, suga e ninguém diz basta. Somos um país de mamíferos e não há idade para largar a mama. Não sei se sabia, mas as vacas têm quatro tetos e a garotada da Aldeia de Cima saltava o muro da Quinta dos Galos só para mamar na vaca turina da tia Felismina. Rima, porque era essa a intenção de quem se empoleirava nela, na vaca.
 
Isto não é nada preocupante. Preocupante, é as pessoas pensarem que isto é preocupante. Há tantos estados que não faltam imbecis com a emergência de querer acabar com eles. Os governantes alertam, mas lavam as mãos. Outros sujam. Nós desinfectamos sem saber se o desinfectante é eficiente e metemos a focinheira, outros fazem um manguito ao vírus e acabam infectados e a infectar. Era só à estalada, a estes e aos outros que conhecendo a gente burra que os Salazares formaram, assobiam para o lado da finança e deixam a fé em Deus a rezar o terço dentro de uma rodinha.

No campeonato da Covid-20, todo o Norte se juntou ao Porto para voltar dois meses depois a bater a Região de Lisboa e assumir a liderança dos contaminados. No campeonato nacional dos lares de luxo o Montepio lidera com dezenas de cadáveres por contar e outros tantos a caminho, mas a notícia passa ao lado enquanto o cão ladra. É como nos mercados, super e híper, os empregados desaparecem ao ritmo das infecções, mas não é nada comigo nem com as televisões, não fossem estes os seus maiores clientes. Há quem nos convide a frequentar os altos preços que praticam.

Não sei se devo dizer, mas vou dizer. Antigamente, a gente dizia e ia presa, agora fica com a liberdade condicionada às represálias do recolher obrigatório. O meu avô foi preso, o meu pai libertou-se e eu ainda não sei o que é a liberdade, mesmo quando à volta da fogueira vou aprendendo como se ganha uma queimadura.
Enquanto o Chega não chega, vamos simulando a liberdade de uma democracia que adora ditaduras. As pessoas estão confinadas à sua própria ignorância. Lindo! As empresas só visam o lucro e as colheitas vão enchendo o celeiro. Talvez já tenha esquecido, mas foi preciso passar dois Estados de Emergência, 30 dias, para que os trabalhadores dos grandes mercados começassem a usar viseiras ou máscaras. Agora, usamos todos, menos aqueles que são do contra.

Um trambolhão nunca tem explicação. Segundo a Direcção-Geral da Saúde, podemos fazer jantares de família. O óbvio soa a esquisito. Começo a achar que há muita vontade de meter o bedelho em casa alheia, mas como não há Pide que chegue para fiscalizar e mesmo essa também tem família em casa, podemos sempre levar o cão a policiar a rua, o passeio ou o jardim, porque só os bem pagos profissionais da saúde é que arriscam a vida. Os outros são todos uns cagarolas e só sabem esgotar o papel higiénico nas prateleiras dos mercados.

Não podemos ser tão severos na análise. Naquele tempo, duas pessoas juntas, o regime considerava reunião, e três era comício. Como manifestar-se era proibido, uma pessoa a falar consciente do que dizia podia ir parar ao Tarrafal ou a Peniche. As coisas que me contaram parecem estar sempre actuais, principalmente quando nos querem ver amedrontados. Arranjaram-nos uma desgraça e agora andam aí uns desgraçados a desgraçar o resto, porque um mal nunca vem só. Está aí uma segunda vaga de incompetência. O governo para ter a certeza mandou fazer um inquisidor. Enquanto isso, o povo depois da orelha chega a casa e pendura a máscara no bengaleiro.

Júlio Verme

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