Voz da Póvoa
 
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Viagem em Balão ao Delírio Azul do Camaleão

Viagem em Balão ao Delírio Azul do Camaleão

Opinião | 9 Outubro 2019

Não, nada disso. A Meteorologia apontava uma certa paz no Instituto, mas finou-se. Vai daí, a tempo, um delírio azul formou-se nos céus e voltou a regrar-se de vénias ao vento das promessas e homenagens. A loira encapotou-se no seu automóvel e demos-lhe a mão e a prioridade no cruzamento. Os machos acusam-na de não saber agradecer. Nada disso, as mulheres cumprem o código à risca. Saiba que devemos conduzir com as duas mãos no volante. Mãos no ar só quando lhe apontam uma pistola e mesmo assim a maioria desmaia. Contou-me a pouca experiência.

Sei que está a congeminar uma certa punição. Há mesmo partidos que nunca se endireitaram só porque pensam à esquerda. Depois discursam que o género não tem osso da pila nem boca do corpo e se tem, ainda não decidiram em que casa de banho entrar. Enquanto isso os professores que se amanhem, as eleições vão sendo ganhas por imbecis e anacrónicos cérebros com neurónios esquecidos do mal que nos fazem.

As velinhas de condão só servem para animar a noite e aumentar o salário ao feiticeiro. Aos espíritas até o Fernando Pessoa dita poemas, mas o Caeiro num rebate de consciência poética chamou pomba estúpida ao Espírito Santo. Talvez por não impedir o filho, de dois pais, de estar sempre a morrer na cruz. O Alberto não perdoava estas católicas incoerências. O meu menino jesus também corre atrás das raparigas para lhes levantar as saias, nada que altere a morfologia do corpo e do pau-santo.

Regresso à dita e dura democracia que permite um assombro de gente baptizada na pia da paróquia, sempre a fazer o sinal da cruz, a vender ilusões aos burros e a crucificar o ingénuo em nome de Deus. O mundo é hoje um lugar de bestas, incapazes de ver mais longe que a sua miragem. Vestem a pele da razão e não sabem sequer sonhar. Todos os dias, sem nota de encomenda, importamos ignorância, arrogância e doutos canudos da selvajaria.

Agora pense em Abril e recorde as cabeças pensantes do Álvaro, do Soares, do Carneiro ou do Amaral, tomados de ideologias que buscavam uma sociedade mais justa, vindos do reduto dum país miserável e alagado de analfabetos. Contadas quatro décadas, com um povo mais bem formado, licenciado, mestrado e doutorado, olhe bem nos olhos dos políticos que temos, alguns de canudo comprado, o que sobra.

Talvez ou uma certeza. Este nosso comportamento abriu as portas aos muitos saudosistas de um fascismo criminoso e paralisante. Vai daí a insistência em criar na casa do antigo ditador a lavandaria museu Salazar. Porque branquear a história é que está a dar. Medite bem, nem todas as liberdades são democráticas.

Não sei se algum dia quisemos saber do outro e muito menos de nós. Sei que nunca vi gente no mundo tão desinteressada a olhar-se visceralmente por dentro do apêndice tecnológico, com milhares de amigos que não conhecem de lado nenhum, a fazerem de conta que são felizes. No entretanto, as nossas vidas vão sendo cozinhadas em banho-maria e jogadas na bolsa sem valores, por anónimos faustos, que usam os matraquilhos da política mais inqualificável que alguma vez nos apresentaram a votos, para nos responsabilizar. Sim, porque somos os últimos a escolher e os últimos, em democracia, infelizmente nunca quiseram ser os primeiros.

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