Voz da Póvoa
 
...

Viagem em Balão à Boleia da Europeia Desunião

Viagem em Balão à Boleia da Europeia Desunião

Opinião | 3 Abril 2020

Aí vai disto Evaristo: “Discurso repugnante” atirou o nosso primeiro de costa a costa ao palavreado do sabidinho ministro das finanças holandês, Wopke Hoekstra, um sujeito sem verbo e que lidera a finança de um país, onde os velhos são o trapo lançado à sorte de ter alongado a vida muito além do trabalho.

Se a minha avó estivesse naquela reunião ia atrás da porta buscar o marmeleiro de cerejeira e mostrava ao nazi holandês como se risca as costas ao falecido para lhe talhar o facto. E se houvesse tempo explicava-lhe na cornadura óptica, em português galaico, o vírus “filho da puta” que ele representa em tempos de União, não da Europeia, porque da sua sabedoria a minha avó sempre defendeu que a moeda única no bolso se deve ao fato de lhe terem roubado os mil paus e os mil reis, com que governava os dias.

 A minha avó nunca foi de politiquices, mas sempre agradeceu ao Soares a miséria de reforma que recebeu por ter trabalhado a terra desde o berço até à cova. Descontou uma vida para a Casa do Povo e outra para a sua própria casa, onde um rancho de filhos trincava as côdeas de pão como quem saboreia o melhor caviar.

  A minha avó dizia que a melhor forma de não mentir é ouvir dizer. Por isso ouvi dizer que em tempo de coronavírus as autoridades de saúde do país das tulipas fazem poucos testes e quando se trata de infectados Velhos manda-os morrer em casa, porque tem camas em falta para os Novos nos hospitais. É por isso que o poupadinho do Wopke Hoekstra queria saber porque é que a Espanha e a Itália não tinham dinheiro para acudir ao pandemónio da pandemia.

 Primeiro porque salvar não pressupõe idades, segundo porque além destes dois países, Portugal, a Grécia e a Irlanda foram convidados a pagar as jogatanas especulativas dos bancos holandeses, alemães e outros que tais. A Islândia abandonou a crise porque prendeu banqueiros, demitiu dois primeiros-ministros e fez orelha mouca às intenções da Desunião Europeia. Agora vem este escanzelado dar lições contabilísticas e impor regras aos pobres quando enriquece à custa deles.

 A minha avó era uma assassina de saudades dos ausentes. Por confessar aos presentes nunca cumpriu pena, mas dava pena. Em teoria a minha avó perdoava sempre, mas na prática descascava na ideia de quem não tinha ideias sãs. Naquele tempo domesticava-se os fedelhos com umas orelhadas e elevatórias sapatadas nas bochechas do rabo. Cheguei a vestir três pares de calças para dar aos ais uma dor menor. Era por isso habitual e costumeiro ouvi-la dizer: este menino não aprendeu a arrumar o quarto nem a tirar leite à Turina vaca. Vive num país roubado ao mar e acha-se no direito de humilhar quem do monte vê pastar. Nunca entendi esta criadagem que enfiados dentro dum fato de passerelle se embarrigam capitalistas sem escrúpulos e memória.
      
 Declaro por isso a insolvência dos arautos Iscariotes que em maré de Páscoa nos querem entregar ao madeiro para sermos crucificados, ainda antes dos mil dinheiros de juros exigido a quem não roubou emprestado. O país dos suicidas quer ver-nos mortos, pela alegria que sempre nos Deus semear, mesmo em tempos de fome. A minha avó era uma cantadeira de cepa e nos momentos de sorver as lágrimas cantava as mais belas cantilenas, porque quem canta seus males espanca.

Júlio Verme

partilhar Facebook
Banner Publicitário