Voz da Póvoa
 
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Vasco da Gama, depois do caminho marítimo a violência

Vasco da Gama, depois do caminho marítimo a violência

Opinião | 5 Outubro 2022

 

Calecut na costa Malabar da Índia, porto estratégico do comércio no índico, foi a primeira cidade onde Vasco da Gama desembarcou em Maio de 1498. Embora recebido com pompa e circunstância pelo Rajã foram logo evidentes sinais de desdém e hostilidade que inviabilizaram a pretendida instalação de uma feitoria naquela cidade.

De volta a Portugal Gama, baseado na sua experiência, redigiu minuciosas instruções de navegação destinadas a ajudar a Pedro Álvares Cabral a quem o Rei D. Manuel I confiou o comando da segunda expedição à Índia. Tendo largado de Lisboa a 9 de Março de 1500 Cabral, voluntariamente, desviou-se da rota prevista e foi ter ao Brasil onde chegou a 22 de Abril. Enviou a notícia para o reino e seguiu para a Índia. Chegou a Calecut em Setembro acompanhado por uma poderosa armada, foi solenemente recebido pelo Rajã e ao cabo de difíceis negociações foi-lhe autorizada a construção de uma feitoria. Porém pouco tempo depois árabes e hindus “caíram sobre a feitoria trucidando os portugueses que lá havia: cinquenta ao todo”.

Com o encargo de castigar o Rajã de Calecut e reerguer a feitoria, Vasco da Gama regressa à Índia em 1502.

O historiador Oliveira Martins não poupa nas palavras para relatar aquela expedição: “A história da viagem é um horror; e a desforra do do capitão uma prova dessa frieza sanguinária, impassível e cruel que efectivamente existe no temperamento, quase africano, do português...se tais sentimentos, vivos na alma do Gama, inspiram os seus actos, a sua campanha não obedece a um plano, nem no seu rude espírito cabem as largas vistas do estadista. Se algumas levava, reduziram-se a espantar a Índia com a crueldade das suas façanhas, e a dominá-la com o terror dos seus morticínios.”

Navegando no mar das Índias, “com toda a artilharia carregada de metralha para arrasar Calecut, encontra o Gama uma nau de mercadores árabes que ia para Meca, ou voltava nas romarias contantes à santa Kaaba. Além da tripulação o navio trazia duzentos quarente homens passageiros, com as suas mulheres e filhos. Era isto no dia um de Outubro de 1502, «de que me lembrarei toda a minha vida!» escreve o piloto ainda horrorizado, ao recordar como nau foi cobardemente incendiada, com todos que continha, e que morreram desesperados no fogo ou no mar. Ia a bordo um flamengo que assim descreve a ocorrência: «Tomámos uma nau de Meca onde iam a bordo 300 passageiros, entre eles mulheres e crianças e depois de sacarmos mais de 12.000 ducados em dinheiro e pelo menos 10.000 de fazenda, fizemo-la saltar com os passageiros que continha, por meio de pólvora, no primeiro de Outubro.» Satisfeito de si, o capitão rumou para Calecut.” (continua)

João Sousa Lima

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