Voz da Póvoa
 
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um projeto emblemático da comunidade portuguesa em Toronto

um projeto emblemático da comunidade portuguesa em Toronto

Opinião | 21 Março 2022

Dentro dos desafios e problemáticas que as sociedades enfrentam na atualidade, o envelhecimento populacional assume uma cada vez maior premência, dadas as suas implicações coletivas e multidimensionais, como é o caso, do mercado laboral, da proteção social, das estruturas familiares ou dos laços intergeracionais.

Como apontam as Nações Unidas, o número de idosos, com 60 anos ou mais, deve duplicar até 2050 e mais do que triplicar até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050 e 3,1 mil milhões em 2100. Se o envelhecimento populacional é um fenómeno mundial, na Europa assume maiores proporções, até porque, hoje em dia, o velho continente tem a maior percentagem da população com 60 anos ou mais (25%).
 
No quadro do inverno demográfico mundial e europeu, a sociedade portuguesa é uma das mais afetadas, apontando mesmo o Instituto Nacional de Estatística (INE) que quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos dentro de meio século. Este cenário de envelhecimento da população que reside no território nacional, também é visível no seio das comunidades lusas, em particular, nos países com maior e mais antiga tradição de emigração portuguesa. 

Segundo o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes lusos aumentou, por exemplo, no Canadá “11 pontos percentuais, passando de 17% para 28%, entre 2001 e 2011, e nos EUA aumentou sete pontos percentuais, de 16% para 23%. Crescimento elevado da percentagem dos idosos é ainda observável entre os emigrantes portugueses em França, destino europeu mais antigo. Essa percentagem duplicou, passando de 8% para 16% entre 2002 e 2011”.

É neste contexto de populações nacionais emigradas mais envelhecidas, que ganha especial relevância a iniciativa que está a ser dinamizada nos últimos anos na comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Designadamente, o projeto de construção a breve prazo de um centro, o Magellan Community Centre, orçado em vários milhões de dólares, capaz de acolher mais de 200 idosos, especialmente direcionado para a comunidade lusa.

Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes lusos na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, em homenagem ao navegador português, que através da colaboração do poder politico e da solidariedade da comunidade luso-canadiana, pretende construir um lar culturalmente específico que terá que cumprir as seguintes condições: profissionais de saúde que falem português; atividades cultural e espiritualmente desenvolvidas em ambiente cultural sensível; promoção de programas sociais e recreativos em português e alimentação que deve incluir pratos tradicionais.

Numa época de galopante envelhecimento da população, e em que os efeitos da pandemia têm acarretado graves consequências socioeconómicas, a construção de uma “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana, demonstra desde logo que o espírito de solidariedade e entreajuda ainda é uma das principais marcas da diáspora, em particular, da comunidade portuguesa em Toronto.

Estando, nesta fase, em processo de angariação de fundos, desdobrando-se os seus vários diretores em contactos e apelos para que a comunidade luso-canadiana, cada um dentro das suas possibilidades, possa contribuir para que o projeto se torne a breve trecho uma realidade. Como realçou, aquando da apresentação pública do mesmo, o empresário benemérito e diretor da Magellan Community Charities, Manuel DaCosta, é “importante estarmos todos envolvidos, se não vamos perder uma oportunidade que não termos num futuro próximo. Estamos empenhados para que tenha sucesso e para que toda a comunidade se envolva. Não é só para nós (direção), mas para toda a comunidade”.

Na linha de pensamento do Comendador Manuel DaCosta, este emblemático projeto da comunidade e para a comunidade portuguesa em Toronto, e quiçá um modelo de inspiração e de boas práticas para outras áreas geográficas da diáspora lusa, reaviva-nos a afirmação notável de Fernando Pessoa, um dos mais importantes poetas da língua portuguesa “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. 

Daniel Bastos: Historiador 

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