Voz da Póvoa
 
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Um balasarense na revolução

Um balasarense na revolução

Opinião | 25 Abril 2021

Nos 46 anos da revolução de Abril a RTP deu-nos dois documentários que emocionaram vivamente aqueles que sentiram aquele dia tão bem poetizado por Sofia. Otelo Saraiva de Carvalho, documento de 2001 da Televisão belga, de viva voz e como estratega do golpe militar, explicou com minúcia toda a sua planificação e concretização. No final do filme-documentário o desabafo: Spínola, já à noite, pelas 20 e 30, felicita-o: “Acabam de realizar um acto de transcendente importância. A Pátria está-vos agradecida”.  Dá-lhe um abraço – primeiro e único na sua vida.

Vem acompanhado de vários oficiais da sua confiança, tomam conta da situação, emitem opiniões, dão ordens, fazem nomeações… Ao lado, primeira reunião da Junta de Salvação Nacional. Spínola proclama-se presidente, da Junta e da República, e começa a pôr em causa certos pontos do programa político do MFA.

Marcelo Caetano, que não quis deixar que o poder caísse na rua rendendo-se ao general do monóculo, mais Américo Tomás e outros membros do governo, dormem numa camarata ao lado do posto de comando, no Quartel da Pontinha, partindo no dia seguinte para o Funchal e o exílio.

Salgueiro Maia e a sua vida preenchem o outro filme. É neste que surge o nosso ”herói acidental”, um dos “Rapazes do Tanque”, livro com texto de Adelino Gomes e fotografias de Alfredo Cunha. O jornalista descreve o contexto da acção decisiva de Salgueiro Maia no Terreiro do Paço e a chegada de “quatro CC (carros de combate) M47 – o engenho blindado com maior poder de fogo do exército português”. Passa depois para 2013, aldeia de Balazar na “procura (de) alguém com o nome de José Alves Costa”. Depois de três tentativas e “Já sem grandes esperanças, dirige-se a um café e aborda o primeiro homem que encontra na esplanada.

- Conhece um senhor chamado José Alves Costa?

- Sou eu.

O balasarense, cabo, José Alves Costa, tornou-se o centro duma acção decisiva (“Catorze anos depois, Salgueiro Maia dirá a Fernando Assis Pacheco: Aqui é que se ganhou o 25 de Abril”). Durante décadas procuraram-lhe o rasto até àquela manhã. No essencial o relato do nosso herói centra-se em “três traços fulcrais do episódio: a ordem do brigadeiro para que faça fogo; as respostas evasivas que lhe dá; e o subterfúgio que o leva a fechar a tampa e a refugiar-se dentro do carro de combate”.

Adelino Gomes não vai pela versão do herói que desobedece, peremptoriamente, a uma ordem dum superior: “O cabo nunca disse “não” ao brigadeiro. Mas a sua resposta e a astúcia camponesa do seu comportamento tiveram o mesmo efeito, prevenindo-o de eventuais consequências”. “Segui as instruções do alferes Sottomayor: Ninguém dá fogo sem a minha ordem. “Remata o cabo, com toda a naturalidade, durante a conversa connosco: “E, claro, ficou assim”.

Leiam a versão completa da “história dum cabo apontador de um dos pelotões blindados que no 25 de Abril defenderam o regime” no livro que me serviu de guia para a escrita desta crónica sobre um poveiro balasarense na revolução.

Abílio Travessas

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