Desde que “me conheço por gente” encantam-me as palavras, o dizer, o tocar o coração humano.
Mal tinha acabado o período de alfabetização e eu já arriscava uns versos, uns contos, umas peças...
Sempre de lápis e papel em punho, fosse onde fosse (e assim o é até hoje!).
Até que um dia eu descobri a música e tudo fez sentido: não bastava escrever, era preciso falar.
E assim o fiz. Escolhia a dedo o repertório, quase sempre em português, um espanhol de quando em vez pois gaúcho que é gaúcho compreende los hermanos!
Mensagem por mensagem eu selecionava as mais belas e carregadas de significado.
Lotei bares, fui feliz, fiz feliz...
Com satisfação eu via sempre um público cativo à espera, não da minha voz, que nunca foi grande coisa, mas da mensagem.
Encantados pela forma com que eu era capaz de convidar cada pessoa naquele salão a dançar comigo uma coreografia única sob uma canção universal.
E fui cantando pelos bares da vida até o mundo obrigar-me, não a crescer mas a tornar-me adulta.
Porque ninguém cresce amarrado...
Silenciei o microfone e deixei que os holofotes se apagassem juntamente com meu brilho.
E pouco a pouco tornei-me cinza, não mais fulgor.
Aceitei as críticas à minha voz medíocre que curiosamente nunca encontrou um bar vazio.
Faltava-me o dom, não da palavra mas da melodia. Compreensível em um mundo que não liga ao que se diz e esquece que o belo pode sempre ser cruel... Ou vazio!
Fui encolhendo-me e entristecendo até que um dia revisitei o passado, revi os holofotes, o público, a felicidade da qual vestia-me e as dezenas de corações a bater em uníssono com o meu.
Então percebi a que vim: para confortar! E isso faço hoje em dia apenas com as palavras, sem a voz.
Preenchida pela certeza da felicidade de ser antes medíocre do que ninguém!
Nunca deixem de (en)cantar!
Maria Beck Pombo