Flores de todas as cores pintavam o caminho de volta da Estação.
Uma garoa fina caía do céu cinzento-claro, como uma cortina semitransparente a encobrir a paisagem da cidade, abençoando o seu retorno a casa.
Nem mesmo o corre-corre da carteira esquecida fora capaz de arrasar com o bom humor do trio que seguia rumo ao Porto, afinal a tecnologia também tem as suas vantagens e garantiu levar a cabo a empreitada: a missão cumprida de deixar as crianças entregues às mãos da família a confortava, muito embora já deixasse saudades.
Esplêndidos dias os que passara na companhia dos filhos e amigos, onde um reviver da adolescência fora permitido, ao dividir a mesa, o pão e os dados numa aventura épica que ligara duas gerações.
Sentia o abraço terno desse laço que rogava jamais ser quebrado e escolhia as palavras com cuidado, para registar nos anais da sua própria vida e também das deles a beleza desse feliz encontro.
A magnitude de perceber que o avançar do tempo não torna a compreensão do outro inatingível, antes enriquece almas jovens e antigas numa partilha de experiências, memórias e novidades.
Em um jogo onde todos aprendem o valor das relações, do contacto físico, do olhar nos olhos e abrir as janelas para que se veja o espírito que todos carregamos.
Caminhava despacito gravando cada momento na memória, para que nenhuma piada, sorriso ou demostração de carinho ficasse perdida em seu inconsciente, para que sempre pudesse colher dessas lembranças as flores que lhe permitiriam sentir sempre-viva. Sempre jovem, sempre relevante, sempre amada ainda que em seu caminho não encontrasse amores-perfeitos.
Ao chegar a casa abraçou os filhos que esperavam impacientes pelo seu regresso e espreitou a bagunça deixada pelos dias de folia. Riu para consigo mesma ao atestar que lar bagunçado é sinônimo de vida bem vivida.
E era exatamente assim que ela apreciava a sua!
Bom regresso, meus meninos, até a próxima aventura!
Maria Beck Pombo
