Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares - Ver não é viver

Turistando Lendas e Lugares - Ver não é viver

Opinião | 24 Agosto 2021

Sentada a uma mesa do Bar das Azenhas, defronte à encantadora praia fluvial de Vilar de Mouros, ela deu de mão numa brochura com poesias de J.M. Gavinho Pinto, enquanto pensava em uma boa história para contar.

Folheou algumas páginas, todas repletas de palavras que condecoram os homens do mar e o amor pelos povos locais.

Ela também escrevera, outrora, centenas de versos a galardoar a bravura da sua gente e as riquezas dos Pampas, há muito abandonados além-mar e, agora, com as suas raízes fincadas em terras lusitanas, onde se desenvolveu e deu frutos, tentava estender seus galhos em direção ao sol, que não pertence a nenhuma nação, mas ilumina a todas com seus raios, lembrando sempre ao bicho-homem que o crepúsculo é apenas o prenúncio da aurora.

A imagem do marido e dos filhos a chapinhar na água despertou memórias da infância, em que brincava com os primos nas sangas e açudes das Estâncias da família.

Levou-a a correr entre os matos de árvores diversas, a coletar líquenes e a observar insectos, a recolher dezenas de pedrinhas que guardariam para "toda a vida", esquecidas no espaço de um verão.

Não pôde deixar de ter um pinguinho de pena da infância dos dias de hoje, por conhecer a natureza através de um ecrã.

Sem desfrutar da experiência sublime de sentir as cócegas que fazem as patinhas das formigas, sem presenciar, maravilhados, uma borboleta a sair do casulo, esticar suas asas e alçar um voo milagroso em direção ao ocaso, sem a satisfação de recolher bichinhos-de-contas em caixas de fósforos e observar, cheios de inocência, seu desesperar quando os virávamos de perninhas para o ar.

Estão ocupados demais a caçar Pokémons, porque a vida cotidiana nos obriga a buscar uma distração enquanto os fechamos, pelo bem do próprio sustento, entre quatro paredes.

Respirou, aliviada, ao ouvir o som da água a verter da barragem para o rio, ao desviar o olhar das páginas onde escrevia e ver as crianças a brincar na água, sob um céu cor-de-anil.

Inspirou, profundamente, sentindo o cheiro da mata circundante, repleta de castanheiros e carvalhos e agradeceu aos deuses por poder ensinar aos seus que a vida é muito melhor quando é vivida, do que ser assistida por quem o faz!

 

Maria Beck Pombo

 

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