Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Último desejo

Turistando Lendas e Lugares – Último desejo

Opinião | 1 Março 2022

Quando eu morrer quero levar na memória as imagens da sublime Quinta da Regaleira, dos castelos espalhados pelo Norte do país que fiz querência, dos vales e das serras de Portugal.

Quero levar o “miado” do meu filho mais velho no momento em que viu o mundo pela vez primeira, e o “rugido” da minha filha mais nova quando o ar invadiu seus pulmões pela primeira vez. A dor das bolhas nos pés que adquiri no caminho onde tropecei no verdadeiro amor.

Quando eu morrer quero levar o cheiro das ruelas do bairro alto, o fado dançado de Ana Moura, as canções nativistas que escutei nos momentos em que a saudade do meu pago natal me rasgava o coração.

Quero levar as lembranças das festas na pensão da Honória, os aplausos depois de cantar em Cascais, os tragos homéricos que me fizeram distribuir abraços, amor e lágrimas entre os meus.

Quando eu morrer quero levar comigo os perrengues que me obrigaram a crescer, que fizeram da minha alma tão gigante quanto o próprio universo onde habito, que me inspiraram a buscar ser melhor a cada dia.

Quero levar a felicidade de ter sido plena e livre de amarras, quero levar cada tristeza que me serviu de inspiração para deixar minha história gravada a carvão em pergaminho. 
Quando eu morrer não quero funeral nem coroas de flores, pois não me agradam as flores mortas, não quero desespero nem despedidas pois aqui estive, aqui estou e aqui sempre estarei.

Quero sorrisos, ainda que levemente tristes. Quero gargalhadas, quero que relembrem cada história que enlaçou meu destino ao destino dos que me amaram pois a memória perdura e eterniza.

A morte é tão somente o descanso merecido para quem viveu plenamente a vida.

Quando eu morrer não quero lamentos pois sem dúvida nenhuma, eu vivi!

Maria Beck Pombo

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