Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Tudo está bem quando termina bem

Turistando Lendas e Lugares – Tudo está bem quando termina bem

Opinião | 14 Março 2023

 

Andava apressada por entre as calçadas do Parque das Nações, na ânsia de encontrar um lugar para descansar o corpo e escrever a sua mensagem semanal.

Tropeçava nas raízes das árvores centenárias que não puderam ser contidas pelo betão que as oprimia e soterrava. Pareciam mãos a romper as campas e mostrar que ainda há vida, ainda que não a vejamos mais. Encontrou um bom assento e deixou-se ali ficar, a observar o Tejo, os pássaros a se alimentarem dos peixes, os casais a namorar sob as árvores…
Mais um fim-de-semana em Lisboa, outro para a lista de muitas realizações e outros tantos dissabores.

Pensou no filho que deixara há poucas horas atrás para uma vez mais pegar a estrada que os separava centenas de quilómetros.

Antes de dar as costas ao rebento que adentrava pelos portões da escola, sem data marcada para um reencontro, rasgou metade do seu coração e o pôs, secretamente, dentro da mochila que ele levava sobre ombros. Era comum fazê-lo a cada despedia, mas sentia que, toda a vez que se encontravam, o pedaço de si que lhe entregava vinha mais magoado, machucado, mal cuidado… 

Quando, ingénua e inexperiente o segurou nos braços pela primeira vez e jurou para o Universo defendê-lo de todos os perigos, jamais poderia vislumbrar um futuro onde não o poderia proteger do mundo ou ainda de si mesmo.

Enquanto ele amarga todas as verdades criadas em sua cabecinha e repetidas milhares de vezes até se tornarem reais aos seus sentidos, mesmo que sejam absurdas aos olhos e corações daqueles que o rodeiam.

Um misto de revolta e culpa encheu o seu coração que foi imediatamente pacificado diante da certeza de que, assim como aquelas raízes venciam séculos de escuridão e opressão, e ganhavam novamente a liberdade iluminada pelo sol, a criança ferida dentro dele também emergiria das sombras, quando tivesse a força necessária para isso.

E nesse momento ela ali estaria para apreciar e acolher o seu renascer, pois sempre soube que ele viera ao mundo para ser luz e não trevas.

Para quem crê que tudo tem o seu propósito e aceita que o Tempo é mestre que ensina a crescer, abdica da ansiedade em prol da certeza que conforta e pacifica o espírito!

Tudo está bem quando termina bem!

Maria Beck Pombo

 

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