Frequentemente até mesmo ela encontrava alguma piada na sua pronúncia “cantada”.
Fosse onde fosse sempre havia quem reconhecesse, através do seu modo de falar, a pátria donde viera. Gaúcha de nascimento, portuguesa de coração.
Em terras lusitanas encontrou espaço para mostrar a Portugal um Brasil, até pouco tempo atrás, inexplorado pelos turistas estrangeiros, por não possuir as praias quentes e paradisíacas tão distantes do sul do país, muito embora possua toda a beleza do verde da Mata Atlântica a abraçar e abençoar os seus limites.
Por cá plantou a semente da preservação da sua cultura na alma dos filhos, do marido e, porque não dizer, de todo o paisano com o qual convivesse ou que lia suas palavras, semanalmente eternizadas para a posteridade, fosse em papel ou digitalmente.
Aos poucos deu a conhecer o seu berço e o lugar que mantinha as raízes bem presas à sua memória, ainda que estivesse fisicamente apartada por um oceano.
Uma palavra cá, outra acolá, foi plantando despacito o seu linguajar campeiro nesse torrão, onde “barbaridade” está longe de significar “selvageria” e o “pito” se fuma, não se come.
E volta e meia cruzava com algum conterrâneo que sentia a mesma alegria em poder cantar junto a mesma canção, pois a fala é melodia quando ganha espaço fora do corpo, especialmente quando encontra a mesma cadência e harmonia.
Traía conscientemente a norma culta e gritava um “a lá pucha tchê, não se assustemo!” dando as boas vindas ao irmão de querência e se quedava um pouquito mais na conversa que sempre se estendia com prazer.
Quando se vive longe da terra natal o nosso sotaque é um abraço fraternal!
Maria Beck Pombo