Turistando Lendas e Lugares – Ser mãe é deixar ir
Difícil essa coisa de ser mãe e ter de praticar o desapego, o libertar, o deixar ir...
Difícil encontrar o meio-termo entre o buscar e o invadir.
Mas ainda mais duro que isso é aceitar que o filho nunca saberá quantas noites perdidas ela passou a pensar nele, quantas lágrimas derramadas, quantos momentos em que a saudade foi tão grande que apetecia-lhe cruzar pagos e rincões a pé apenas para sentir-lhe o cheiro, o suspiro, o abraço ou então quantas vezes por dia ela lembrou dele ao ouvir uma música, sentir um aroma, o sabor de qualquer coisa...
Sim, porque ela o encontra a todo momento, em todas as coisas e situações mais diversas!
Mas para ele a mãe passa por desligada, despachada, quiçá ausente... Pior que isso: vê a mãe como uma autêntica anedota: desastrada e despassarada.
Ele desconhece completamente o esforço sobre humano que ela faz todos os dias para fingir estar "tudo bem", para ele não sentir-se culpado pela distância ou pelo sofrimento dela. Porque ela decidiu que colocaria sempre a felicidade dele em primeiro lugar não importa o que lhe custasse.
E assim o fez, trilhando aos tropeços o caminho, errando e aprendendo, buscando enfim a atitude que possa mostrar ao seu bem mais precioso o valor que ele tem para ela, sem que essa preciosidade lhe pese sobre os estreitos ombros.
Porque a mãe prefere definhar em tristeza à ver triste o olhar do filho. Prefere ter o coração partido à apertar o coraçãozinho que ela gerou.
A mãe é forte! Não se entrega! E está sempre disposta a mudar.
Mas será que ele saberá que ela sempre "estará lá " para ele?
Será que ele terá de facto essa convicção, gravada em seu coração e não apenas nas palavras dela a ecoaram-lhe aos ouvidos sensíveis?
É uma pergunta que poderá ser respondida um dia, talvez na adolescência, mais provavelmente na vida adulta...
Então a mãe escreve aqui, num diário, faz um álbum, documenta...
Deixa a prova de tudo aquilo que agora não pode falar, para o bem-estar do próprio filho: esconde o quanto a ausência dele dói, sufoca, envenena. Não pode dizer o quanto é sofrido, difícil, agreste trilhar o caminho longe dele.
Não pode revelar a solidão que muitas vezes lhe invade o espírito.
Pode apenas aguardar e torcer que haja tempo para um dia torna-lo ciente de tudo isso, quando ele puder entender sem sofrer pela mãe.
E quando esse dia chegar o coração da mãe tornar-se-á tão puro e cristalino quanto olhar do filho ao mirá-la pela vez primeira.
Há que libertar para cativar.
Maria Beck Pombo