Tuas costas, o alvo perfeito para os meus punhos cerrados, carregados dessa minha raiva, tão digna da tua pena.
Errei o curso da vida e ajoelhada caí no teu caminho, onde ando em círculos totalmente perdida a encontrar-te e perder-te, Fealdade.
És tu labirinto fantástico de remotas probabilidades e eu maldita quimera edificada através dos retalhos que aos outros roubaste, cobrindo de negro a tua dignidade.
És tu merecedora do repúdio daquele que te enxerga despida dos encantos e virtudes tecidos pela candura da tua pele.
Todavia eu, encantada pelo teu latim, pela tua língua sibilante, penetrei-te incautamente a alma maculada e fiz-te casa ao serenar das noites, todas noites, por tantas noites…
Foste-me tu toda abrigo e suave cantiga a confundir os meus ouvidos enquanto eu preenchia-me de ti, dos céus que te espelhavam e das nuvens que te encobriam, aspirando-os, engolindo-os para vomitar verdadeiras tempestades.
Mas a verdade não chega juntamente com as noites de chuva, que não lava os enganos, nem leva os lamentos.
Mergulho em teu corpo, minha doce mentira, corto pela metade os cabelos e a vergonha e entrego à própria sorte os meus dedos, pulsos e anéis.
Cortaste-me os dedos, cortaste teus pulsos e puseste fim a esperança dos meus dourados anéis passarem a ser nossas alianças.
Maria Beck Pombo