Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Se Verdade deveras fosses…

Turistando Lendas e Lugares – Se Verdade deveras fosses…

Opinião | 4 Julho 2024

 

Tuas costas, o alvo perfeito para os meus punhos cerrados, carregados dessa minha raiva, tão digna da tua pena.

Errei o curso da vida e ajoelhada caí no teu caminho, onde ando em círculos totalmente perdida a encontrar-te e perder-te, Fealdade.

És tu labirinto fantástico de remotas probabilidades e eu maldita quimera edificada através dos retalhos que aos outros roubaste, cobrindo de negro a tua dignidade.

És tu merecedora do repúdio daquele que te enxerga despida dos encantos e virtudes tecidos pela candura da tua pele.

Todavia eu, encantada pelo teu latim, pela tua língua sibilante, penetrei-te incautamente a alma maculada e fiz-te casa ao serenar das noites,  todas noites, por tantas noites…

Foste-me tu toda abrigo e suave cantiga a confundir os meus ouvidos enquanto eu preenchia-me de ti, dos céus que te espelhavam e das nuvens que te encobriam, aspirando-os, engolindo-os para vomitar verdadeiras tempestades.

Mas a verdade não chega juntamente com as noites de chuva, que não lava os enganos, nem leva os lamentos.

Mergulho em teu corpo, minha doce mentira, corto pela metade os cabelos e a vergonha e entrego à própria sorte os meus dedos, pulsos e anéis.

Cortaste-me os dedos, cortaste teus pulsos e puseste fim a esperança dos meus dourados anéis passarem a ser nossas alianças.

Maria Beck Pombo 

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