Decidida, ela adentrou a escuridão da antiga igreja, na intenção de imortalizar, sob a forma de imagem, o seu tributo ao Dia de Todos os Santos.
A noite abraçava o edifício, juntamente com toda a extensão da quinta medieval onde ele se inseria e em conjunto com a umidade do ar que se libertara a poucas horas da chuva, conferia à atmosfera um clima verdadeiramente horripilante.
No interior daquele ambiente inóspito, iluminadas pela luz da lanterna, revelavam-se sepulturas e lápides que se apinhavam do chão às paredes, carregando consigo nomes, datas e mensagens que pertenciam a indivíduos cujos corpos inanimados continuam entre as gentes, provando que a vida é algo etéreo.
Flash após flash foi revelando as cores do fato que trazia sobre a pele, travestindo-lhe de Santa Muerte para lembrar a todos que, independentemente da religião que professem, a Morte é companheira da Vida e chega para todos, sem exceção.
No final da sessão deu as costas ao breu e saiu pela porta principal do templo sem temer carregar consigo a energia daqueles que lá permaneciam sepultados e feliz por sentir que, despacito, fora se transformando em um ponto fúlgido durante o avançar do caminho que trilhava, ora com passos firmes, ora aos tropeços, mas sempre em frente.
Ainda que luz e trevas brincassem ocasionalmente sobre ela, expondo aspetos melhores ou piores de quem era, ela compreendia profundamente que a beleza está nos olhos de quem vê e na intenção de quem regista, pois tudo no mundo é uma questão de perspetiva, muito embora sobre a vida, seja ela fácil ou difícil, ela não tenha a mais pequena dúvida: “é bonita, é bonita e é bonita!”
Happy Halloween!
Maria Beck Pombo