Ser adulta é aceitar o tédio…
Aceitar que a vida perde a cor e o sabor dia após dia.
É essa aceitação que a sociedade em que vivemos espera de nós, para avalizar a nossa maturidade.
Nessa visão tacanha, que fica muito aquém da complexidade da alma humana, “crescer” está intimamente ligado ao cárcere, a abdicação dos sonhos, a admissão da metade, pois o todo é uma utopia, e a utopia é coisa reservada à “juventude”.
Somos forçados, constantemente, a assentir o ocaso do amor, o sucumbir da paixão, o desvanecer dos sonhos, e a crer que vestir a mortalha da resignação, da estagnação, da indolência, é sinónimo de gratidão.
Entretanto, sem temer parecer ingrata a todos os deuses pelas tantas dádivas a si oferecidas, ela almeja ainda muito mais!
Almeja seu nome e suas palavras dentre as mãos de milhares de pessoas, talvez mais.
Almeja os olhos atentos e os corações abertos, a decifrarem cada momento da sua história.
Quer ver os filhos amadurecerem sabiamente para o mundo, mas, para ela, permanecerem as crianças amorosas, sempre prontas para um abraço ou um miminho.
Quer flores ao pequeno-almoço, beijos roubados ao lanche e pernas entrelaçadas após o jantar. E que o afeto nunca perca o vigor.
Quer jamais deixar de ouvir da boca de quem ama o quanto ela é inteligente, bela e especial.
Quer que a frase: “Eu te amo.” Nunca se torne mecânica, não perca o sentido ou o valor.
Quer sentir-se sempre apaixonada, e melhor: correspondida!
Quer evoluir com graça, que a sorte sempre lhe sorria de graça, e que não haja desgraça que lhe furte a alegria.
E quer sorrir! Por tudo e por nada.
Quer desejar sempre, mesmo que nem sempre alcance.
Quer ser surpreendida todos os dias, ainda que a falta de tudo isso não lhe prive propriamente de ser feliz.
Ela quer continuar em movimento como o mundo ao seu redor. Nessa constante troca de energia e de experiências.
Não quer sentar-se na varanda à espera que o tempo lhe roube a cor aos cabelos e o inverno lhe congele o coração.
Quer montar na garupa do Vento Norte e encontrar a Morte ao virar da esquina, assim de susto, como quem encontra o primeiro amor, e não esperar que ela lhe tire para dançar, tal como a guria feia que acaba sempre em último lugar.
Só envelhece quem renuncia a vida.
Maria Beck Pombo