Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Quem sonha, acorda!

Turistando Lendas e Lugares – Quem sonha, acorda!

Opinião | 21 Março 2023

 

Acordara sobressaltada pelo estranho sonho que brotou do seu inconsciente:

Deitada sobre mantas em um refúgio de verdejante vegetação, via cascatas de flores coloridas em tons de amarelo, rosa, lilás e azul. 

Mesmo à sua frente se erigia um edifício muito antigo, abandonado entre as árvores e arbustos que revelava através de uma minúscula janela um altar com Santos e outras tantas divindades.

Sentiu um cutucar agudo na espalda e quando voltou-se para espreitar o que era ficou pasmada a olhar: um galo preto de olhar penetrante a mirava nos olhos como quem perguntasse o que ela ainda estava ali a fazer, e duas galinhas de penas muito brilhantes e negras repousavam ao pé do lugar onde estava dantes a sua cabeça.

Assustada, enxotou os animais e acordou.

Como discípula fervorosa de Freud começou a analisar o sonho, parte a parte, para tentar compreender o que o seu inconsciente lhe dizia. 

Bem sabia que os elementos têm um significado diferente para cada pessoa, mas ainda assim há uma memória coletiva da qual podemos, muitas vezes, nos valer para tais análises. Buscou então por algumas informações acerca das interpretações delas: as flores coloridas, o verde, o edifício abandonado, o altar, o galo preto e as galinhas e ficou espantada com os bons agouros que traziam todos eles. Todos a falar da realização de sonhos há muito gestados, em abundância e prosperidade.

Falavam também na sua busca pela espiritualidade e deu-se conta que, com o passar do tempo, cada vez mais se identificava com o Deus de Spinoza, que é inerente a tudo e a todas as coisas.

Mas o que mais a chamou a questão foi o galo preto que a cutucava e inquiria: esse era o próprio Tempo.

O tempo que ela perde todos os dias a procrastinar, e engana-se quem pensa que procrastinação é preguiça!

É antes um duvidar de si mesmo, um titubear entre investir o seu tempo nos sonhos ou nas tarefas diárias que nos tornam produtivos aos olhos dos outros, mesmo que isso nos roube a essência.

E nesse impasse acabamos por nos sentar à janela da vida e não fazer nem uma coisa nem outra.

Ao pensar em tudo isso percebeu o que a sua essência gritava à sua consciência: era chegado o momento de deixar de perder tempo e de duvidar de si. De arregaçar as mangas e trabalhar em prol daquilo que acreditava, independente do que o mundo ao seu redor pensasse a seu respeito.

Aquele que percebe um sonho, acorda!

Maria Beck Pombo

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