Voz da Póvoa
 
...

Turistando Lendas e Lugares – Quatro Cântaros

Turistando Lendas e Lugares – Quatro Cântaros

Opinião | 30 Novembro 2021

 

Definitivamente, ela não podia negar que era uma mulher de fé.

Habitava dentro dela uma fé, redomona como apenas ela sabia, que não tinha lugar em templo algum.

As Religiões… correu-as todas! Porém, nenhum dos livros sagrados que abrira fora capaz de lhe dar as respostas que buscava, antes a encheram de mais e mais questionamentos.

Coabitavam, todos eles, na mais perfeita harmonia, dispostos uns sobre os outros na sua estante da sala.

Eram uma declaração aberta, a todos os que adentrassem aquele recinto, que naquela casa eram muito bem-vindos, desde que trouxessem consigo respeito e amor a si, ao próximo e ao Universo.

Durante a sua odisseia, provou da culpa de trair um Deus e da liberdade de adorar Outros tantos.

Benzeu-se diante da cruz, crucificando a vontade de gritar a toda a gente que benta é a água que limpa e dá de beber, é a terra que acolhe o pai e alimenta o filho, bento é o ar que traz a vida e a inspiração, é o fogo que consome e aquece e, por vezes, a mão do próprio Homem quando semeia o trigo e divide o pão.

Lamentou cada alma perdida na guerra das Instituições, cada “infiel” sepultado, cada “bruxa” cremada, impiedosamente, diante de uma multidão de beatos cheios de pecados capitais.

Lamentou a dor de todos aqueles que, arrancados de seus lares, da sua terra, da sua gente, viu substituída por outra a sua crença e foi obrigado a esconder a sua alma e trair seu coração.

Não há nada mais verdadeiro e essencial que a prece de um Homem e negar-lhe esse direito é condenar seu espírito a ser atormentado pela eternidade dos seus dias.

Enquanto navegava nesses devaneios, foi atraída por uma melodia suave onde quatro vozes, quatro instrumentos e uma coleção de Divindades de fazer inveja a qualquer mortal, celebravam a Espiritualidade como um Todo, a Religiosidade que reside no âmago de todas as religiões, sem eleitos ou preconceitos.

Quatro vozes, audaciosas como os quatro elementos, que selavam, em uníssono, um acordo de paz.

A boa-fé não se impõe, se partilha!

 

 

Maria Beck Pombo

partilhar Facebook
Banner Publicitário