Acordara apreensiva para enfrentar mais um dia daquele fatídico fevereiro.
Sem muita vontade de despertar, agarrou no telemóvel, como era habitual à sua rotina matinal, deu uma vista de olhos nos e-mails e nas redes sociais, onde toda a gente tem uma vida perfeita e feliz, tornando o seu sofrimento ainda mais condenável e insignificante.
Dentre as mensagens que recebera naquela manhã, uma em especial pintou de cor-de-rosa o nascer do sol e de azul celeste o dia que se preparara para receber a alegria que estampava o seu sorriso.
“Amiga, vou ao Porto a semana que vem, na parte da manhã de terça tenho livre…queria te dar um beijo…se puderes, diz-me qualquer coisa!”
Mal podia crer no que lera, aquele conjunto de palavras tão singelas e despretensiosas foram, naquele momento, o testemunho de que deixara a sua marca por onde passou, uma marca especial o suficiente para ser lembrada e procurada mesmo que o tempo corra a galope deixando tudo o que toca para trás.
No dia acordado encontram-se as duas, meia dúzia de anos depois da última vez.
Sentaram-se num café e fizeram dos sessenta minutos que tinham tempo suficiente para atualizar anos e anos de ausência física, mas nunca espiritual.
Relembraram os momentos que tiveram juntas, atualizaram o estado dos relacionamentos, dos filhos, dos sonhos, da vida profissional.
Riram dos tropeços, dos perrengues, reconheceram as lições que a vida ensinou e chegaram à óbvia conclusão de que eram, sem sombra de dúvidas, grandes guerreiras, abençoadas vencedoras.
Despediram-se na estação com um abraço tão reconfortante quanto o colo da mais terna das mães e agradeceram, as duas, pela oportunidade de reunir-se mais uma vez.
Voltou para sua rotina a sentir-se plena, relevante e grata por poder discordar da máxima que diz que o tempo não pára.
Porque ele pára quando nos dedicamos a apreciar a vida e a companhia de quem nos é especial.
Cada segundo encerra em si todo o tempo do mundo!
Maria Beck Pombo