Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Perder a ternura, jamais!

Turistando Lendas e Lugares – Perder a ternura, jamais!

Opinião | 2 Março 2021

“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura, jamás.”

Muito pensara nessa frase, quando guria, muito embora tenha levado muito tempo para compreender seu significado.

Parecia-lhe impossível a combinação de tais palavras resultar, ao menos na bolha onde vivia.

É facto que, ao pôr os pés na estrada e aprender a lutar nessa guerrilha que é a vida, onde as ambições de uns competem com os desejos de outros, começou pouco a pouco a compreender a frase que, a propósito, nunca foi dita. Apenas concebida para ludibriar uma geração inteira, com o devido sucesso.

Mas como tudo nesse mundo, a realidade pouco importa quando o mito abre as portas para o ser humano aspirar ser melhor.

“Hay que endurecerse, pero sin perder a ternura, jamás.”

Ela não perdera! Mas aprendera…

Aprendera a duras penas o seu significado, pois assim o quis: aprender!

Aprendeu que a paz de espírito é uma poção: há que medir, minuciosamente, cada ingrediente. A dose exata de amor, de ódio, de egoísmo e desprendimento, de riso e lágrimas, de sentimentos e razão.

Aprendeu que é inútil evitar a dor. Faz-se necessário deixá-la entrar, cortar, sangrar e ir embora com a certeza do seu retorno, mas que cada vez que retornar a encontrará mais forte.

Aprendeu que a alegria não dura para sempre e que nunca temos o controle absoluto das situações, pois o destino é potro livre e indomável e, entre um coice ou outro, as rédeas nos fogem das mãos.

Aprendeu que todo o dia é dia para o recomeço, mas que os recomeços não trazem o passado de volta, para recomeçar é preciso aceitar nossa imagem no espelho do agora, não do antigamente. Mesmo que essa imagem não agrade à nossa vista, ou à vista de quem só vê o exterior.

Aprendeu a endurecer, ser ousada, destemida, mas, principalmente, aprendeu a reverenciar o Tempo, que não cura todas as feridas, mas ensina-nos a sobreviver a elas.

Sobreviver… parecia tão pouco para ela!

Não fora talhada para subsistir de migalhas, a palavra “viver” sempre lhe pareceu mais envolvente.

Fez então um pacto, de sangue e alma, com o Tempo, senhor de todas as coisas: entregou-se como discípula para o autoconhecimento, por mais que isso lhe custasse, pois sabia que a ternura que trazia dentro dela era o feitiço contra todos os males vindouros.

E que venham todos pois a ternura que inunda o espírito não perder-se-á jamais!

Maria Beck Pombo

 

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