Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Os filhos da mãe

Turistando Lendas e Lugares – Os filhos da mãe

Opinião | 5 Outubro 2023

 

Bienvenidos era da inquisição eterna, que iniciou com o nascimento do primeiro ser humano e condenou a primeira mulher à fogueira…

Ah, a dádiva de ser mãe… o ato heroico de ser mãe, a maldição de ser mãe…

Só quem o é pode entender!

Aquelas que planearam, as que foram pegas de surpresa, as que decidiram aceitar a tarefa e que semeiam, cotidianamente, sem saber se a terra é fértil, se a estação ajuda, se colherão o que plantaram ou apenas ervas daninhas, embora até as daninhas ervas tenham o seu valor para quem saiba tirar delas proveito…

Ser mãe é experimentar o sol a girar em torno do seu próprio umbigo pois a cria irradia luz que a enche de esperança, de carinho, de alegrias. Tem o dom de dissipar as nuvens negras dos dias tristes, de incrementar a nossa força para a batalha diária contra o cansaço físico e mental, de pacificar os nossos corações diante dos piores receios pois em primeiro lugar estão os receios dos nossos filhos, com os quais temos de aprender a lidar.

Nessa fase, enquanto a nossa cria ainda criança é, aprendemos a controlar o nosso medo do escuro, das aranhas, dos fantasmas, das alturas e quiçá até da própria morte.

Somos capazes de pegar um sapo ou uma osga na mão apenas para mostrar aos nossos rebentos o quanto eles são inofensivos (ainda que jamais fossemos capazes de fazê-lo em diferente ocasião), conseguimos amarrar o choro no fundo da garganta, sem embargar a voz, enquanto cantamos uma canção de embalar, podemos fantasiar uma aventura fantástica para amenizar o cansaço provocado pelo longo trajeto a pé da escola até a casa, descobrimos uma força e agilidade sobre-humanas quando o cão do vizinho foge pelo portão aberto e temos de voar as tranças com a criança na garupa…

Somos as heroínas, as feiticeiras, sábias mulheres, exemplos a seguir…

Mas a vida segue, seguem-se os dias, mudam as fases que não são cíclicas e nada mais volta a ser como dantes porque o tempo não volta atrás…

De um momento para o outro a porta do quarto deles se fecha, não há beijinho de despedida na frente da escola, um fim-de-semana com ela já não tem tanta graça quanto poder passá-lo a jogar com os amigos, qualquer outra pessoa entende mais do que qualquer assunto do que ela e começam as acusações:

“— Tu não me entendes!”

“— Abandonaste-me!”

“— Não me deixas em paz!”

“— Estás sempre a me comparar com os outros!”

“— Estás a ser injusta!”

E por aí seguem outras tantas que todos sabemos pois todos fomos adolescentes um dia.

O que nem toda a gente sabe (porque nem toda gente foi, nem será, mãe) é que na maioria das vezes nós é que fomos injustos, sem querer, pois não conhecíamos a história toda, não podíamos ver o que se passava na entrelinhas do texto que não nos foi dado para ler pois fora escrito pelos e para os nossos pais, não apenas para a nossa mãe.

Não sabíamos que, na maioria das vezes, as mães fazem um acordo silencioso onde assumem o papel de algozes, por receio de que os filhos recebam castigos duros demais.

Não apenas por questão de empatia mas também por questão de controle, verdade seja dita! “Antes eu castigar parte de mim mesma do que outra pessoa!”

Por isso geralmente são elas a castigar, a criticar, a dar nas orelhas…

Mas também são elas a aconselhar, a tentar resolver os problemas, a acobertar as asneiras, mesmo que dessa parte os filhos se mantenham alheios.

O que é certo é que, no frigir dos ovos, mãe tem sempre culpa! Tem culpa até quando não tem, e raramente ficam com os louros, mesmo com aqueles que lhe pertenciam por direito.

Têm que aprender a serem gratas pela felicidade dos filhos, apenas isso.

Sem reivindicar o reconhecimento pelos atos que os ajudaram a chegar lá, enquanto aceitam a responsabilidade pelas feridas que eles carregam, ainda que não tenham sido elas a ferir.

Até chegar o dia, que pode vir ou não, em que os filhos olharão para trás com olhos de ver, sem vendas ou véus, e poderão enxergar todos os factos em pormenor que revelarão que ela foi sempre escudo, sempre abrigo, sempre lareira, sempre a leoa a defender a cria e nunca a lança, o abandono, o frio, ou o lobo a devorar a carne…

Se esse dia chegar envolver-se-ão no mais terno dos abraços e todo o ressentimento, culpa e dor encontrarão a cura pois o amor entre mães e filhos é capaz de curar todas as enfermidades do mundo.

Mamá, te perdono y te pido perdón.

Que este sea el comienzo de una nueva era.

 

Maria Beck Pombo

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