Despertara, naquela manhã de fim de verão, ao som dos pasitos dos melros sobre o seu telhado e do bicar repetido que denunciava a presença da fruta madura em seu quintal.
Ainda embriagada pelo cansaço provocado pela noite mal dormida, fruto da ansiedade em rever a sua mãe, há tanto tempo dela apartada por um oceano.
Levantou-se mais cedo do que o habitual, chamou pelo filho, deu os últimos retoques na casa e saíram, ela e ele, rumo a Estação de Comboios de Campanhã, impacientes por ter mãe e avó entre o aconchego de um abraço.
O comboio chegou atrasado, como de costume, e depois do tão desejado encontro, rumaram para um café próximo à estação, afim de matar a fome e a curiosidade acerca dos detalhes da atribulada viagem.
Na esplanada coberta por um estreito guarda-sol, encontravam-se um conjunto de duas mesas, preparadas para receber seis pessoas, entretanto, por ser o único lugar à sombra, foi a escolhida pelos três para compartilhar daquele momento.
Mal se sentaram em torno de uma das mesas quando uma jovem mulher surgiu, vinda de nenhures, e com grande delicadeza perguntou se poderia afastar as duas mesas afim de ficar com uma para si, pedido que prontamente foi atendido.
A grande má disposição do empregado de mesa não pôde deixar de ser notada por todo o grupo, o que logo uniu novamente as duas mesas em torno do debate sobre a divergência entre culturas e personalidades que se multiplicavam sobre a Terra.
Rapidamente a conversa foi assumindo novos contornos e quando perceberam já falavam em evolução pessoal e espiritualidade enquanto ciganas, caboclos, bruxas e divindades dançavam ao seu entorno evocados através das palavras que saíam de suas bocas, carregadas de energia criadora e bendição.
Dentro dela se instalava a certeza de que aquele era mais um daqueles encontros “improváveis” que há muito já estava “escrito” e que já eram mais que habituais na história da vida dela.
Despediram-se ao fim de um par de horas e ela pediu o contato da jovem, que pôs um cartão entre as suas mãos, afinal um entrosamento assim não era coisa de se deixar perder, e seguiram, filho, mãe e avó, em direção à Póvoa de Varzim, enquanto a jovem permaneceu no Porto.
Mal entrou na metro, sacou do cartão, para adicionar a mais nova conhecida nas redes sociais, quando bloqueou, incrédula por alguns instantes, e entregou o cartão à mãe que teve reação semelhante, para não dizer igual, à sua.
Na fronte do cartão de fundo negro uma Triquetra (símbolo celta que representa as três faces da Grande Mãe: Virgem, Mãe e Anciã) se delineava em amarelo-ouro sobre o nome da empresa, e no seu verso o nome da jovem se estampava em negro sobre o fundo alvo, evidenciando o apelido compartilhado por ambas.
É incrível perceber que alguns Pombos voam através de mar e terra para achar uma oliveira onde se encontrar!
Maria Beck Pombo