Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – O renascer

Turistando Lendas e Lugares – O renascer

Opinião | 5 Abril 2023

 

“Coelhinho da Páscoa, que trazes para mim? Um ovo, dois ovos, três ovos assim. Coelhinho da Páscoa, que cor eles têm? Azul, amarelo, vermelho também…”


Assim cantava a guria a imaginar de que tamanho seria o “cesto” escondido naquelas manhãs, onde, uma vez a cada ano, o domingo se fazia tão doce quanto chocolate.

Para ela a Páscoa nada tinha a ver com o ressuscitar de Jesus Cristo, tinha mais a ver com as pegadas do coelhinho deixadas pelos deditos da mãe, mergulhados em farinha, pelo assoalho de madeira da antiga casa. Com o espreitar por debaixo das camas, dentro dos armários ou dentre a relva, no quintal. Por detrás da antiga bergamoteira, em que passava os dias de Primavera trepada como um bugio a comer dos frutos maduros e doces. 
 
Tinha a ver com a caça ao tesouro que era tão singelo quanto saboroso, ou com a valente dor de barriga que vinha a seguir ter comido guloseimas demais.

Naquela época ela não sabia que a celebração se dava no primeiro domingo de primavera, nem da libertação dos judeus do antigo Egito, ou de um Messias que morrera e ressuscitara no terceiro dia.

Desconhecia a deusa nórdica da fertilidade, Eostre, que tinha como símbolo o coelho ou uma lebre ou que os hindus, fenícios, egípcios, e persas acreditavam que o mundo fora criado a partir de um grande ovo, nem que os chineses pintavam-nos na primavera e ofereciam aos mais caros para retratar uma nova vida.

Aliás, naqueles tempos ela ignorava a existência de todos esses povos, pois estava muito ocupada em olhar para o próprio umbigo, como toda e qualquer criança, e imaginar a sua barriga a inchar como um balão após comer todo o conteúdo do cesto.

Não tinha a consciência de que todo o ser humano celebra o mesmo ciclo da vida a cada estação, morre e renasce com a Mãe Terra, e luta entre si por dar a cada ciclo um nome diferente, como se eles não simbolizassem o mesmo.

A Terra é a própria divindade, e tudo que advém dela é divino e tem o seu papel, mesmo que às vezes seja ininteligível ao homem.

Hoje, mulher madura e consciente do mundo ao seu redor, ela luta com serenidade pelo nascer de uma nova era, em que a harmonia prospere e o amor se multiplique como o pão e o peixe da história.

Boa Páscoa, Happy Easter, Chag Pessach Sameach!!!

E todas as bendições que possam abençoar o renascer da vida em qualquer religião ou cultura!

Maria Beck Pombo 

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