Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – O Passado sabe a sal e chocolate

Turistando Lendas e Lugares – O Passado sabe a sal e chocolate

Opinião | 9 Agosto 2022

 

O verão desfilou tímido sobre Póvoa de Varzim, para a graça dessa prenda que consegue enxergar todas as cores do universo em um dia nublado.

A gurizada goza as férias absortas nos ecrãs dos telemóveis e computadores e é ocasionalmente convencida (quase obrigada) pelos pais a desfrutar de um passeio no parque ou na praia e observar o espetáculo da natureza a desenvolver-se em cada pedacinho do caminho.

Vivemos tempos curiosos, onde a internet aproxima estranhos e afasta conhecidos, onde as férias de verão são tão diferentes das de antigamente, em que os amigos da escola juntavam-se aos bandos para andar de bicicleta pela cidade e celebrar a amizade durante toda a estação.

Lembro-me perfeitamente do andar orgulhoso das adolescentes com seus minúsculos calções e sandálias com meias, look muito difundido por Letícia Spiller através do personagem representado na novela global “Quatro por Quatro”: Babalu.

Moviam-se, graciosamente, na ponta dos pés, em direção ao Clube Arranca, na intenção de estenderem seus corpos ao sol e pintar de dourado a pele e os cabelos, enquanto as gurias mais novas (invejosas dos atributos juvenis que ainda não possuíam) marcavam suas costas com as mãos cobertas de protetor solar.

Uma ingénua e facilmente perdoável maldade por parte de quem ainda não compreendia a marcha do Tempo e ignorava que Ele não esquecia de ninguém.

Ao crepúsculo, os amigos mais caros batiam palmas à frente dos portões para chamar os donos da casa, uma maneira segura de anunciar a sua presença sem correr o risco de serem mordidos pelos cães que, geralmente, se encontravam entre o portão e a campainha.

Não havia telemóveis e poucos eram os telefones, no geral deslocávamo-nos rumo a casa uns dos outros sempre na iminência de dar com a porta na cara e, se assim acontecesse, não haveria o menor dos problemas pois sempre existiria a casa de outro amigo pelo caminho.

Juntávamo-nos em frente às residências envolvidos pelo som das cordas dos violões e entoávamos canções de estilos vários, respeitando todos os gostos e vontades pois, na minha infância, a palavra Respeito fora ensinada desde tenra idade pelos meus pais e, para a minha sorte, pelos pais daqueles que convidei a adentrar o meu mundo.

Éramos um grupo de causar inveja a qualquer movimento pró-igualdade de hoje em dia, onde pessoas totalmente distintas entre si louvavam o Amor genuíno e puro, que ultrapassa o invólucro do corpo e acolhe a alma com carinho e comprometimento.

Eram tempos em que a Vida era vivida em toda a sua plenitude, com todos os desgostos e alegrias, perdas e conquistas, brigas e reconciliações, mas principalmente foi um tempo que plantou no coração de dezenas de seres humanos amizades e convicções que levarão consigo para as Bandas do Além, sem antes semeá-las por onde quer que andejem!

 Maria Beck Pombo

 

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