Das coisas que ela mais apreciava na sua infância era sentar-se na varanda da casa grande quando a lua se fazia alta e observar os sapos que invadiam o recinto para jantar os insetos que eram atraídos pela luz dos candeeiros.
Gostava de vê-los a saltar uns sobre os outros a disputar as mariposas, e de pegá-los ao colo, sob os protestos da avó, na esperança de encontrar dentre eles o príncipe encantado, embora não ousasse beijá-los.
Amava sair sob a escuridão da Noite a caçar pirilampos, encantada pelo seu brilho fluorescente, desafiando o medo das sombras e do uivo do vento que dançava por entre as árvores a fazer estranhos ruídos, causando-lhe calafrios na espinha.
Desbravava, assim, as noites de verão na fazenda dos avós, aquele lugar mágico que permitia que ela criasse o seu mundo paralelo, onde tudo era fantástico e nada era o que parecia ser.
Hoje, passadas mais de três décadas, ela retoma os velhos hábitos.
Depois de aconchegar a filha na cama, senta-se no banco de madeira improvisado pelo marido, no quintal de casa, e ouve atentamente o canto do vento e a conversa dos insetos, escuta o ladrar dos cães ao longe, contempla os pardos gatos a saltitar sobre os telhados, sente o aroma da terra molhada e admira as sombras, sem assombro, pois são companheiras de longa data que lhe trazem doces memórias e a inspiração necessária para enfrentar, com graça, os dissabores do cotidiano.
Assim fora, e assim é: a eterna companheira da Escuridão que se rende à luz que ela carrega na alma, alva como a própria Lua.
Aquele que não teme as trevas tem o dom de trazer iluminação ao mundo!
Maria Beck Pombo