Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – O copo

Turistando Lendas e Lugares – O copo

Opinião | 12 Julho 2022

 

Jamais poderia prever que um dia registaria para a posteridade a poesia latente nas simples coisas do cotidiano.

Ela, a poetiza que enaltecia as grandes desilusões da vida, seduzida desde tenra idade pelos soturnos versos de Álvares de Azevedo, que colecionava feridas e cicatrizes como se de medalhas se tratassem, encontrara a inspiração transformada em frases sem rima, que ganhavam ritmo e melodia quando entoadas em alta voz por estranhos e conhecidos.

Passeava pelas ruas da pequena localidade onde vivia, a recolher tesouros que passavam despercebidos aos olhos de quem não vê a grandeza por detrás dos pequenos gestos, que revelam a humanidade do ser toda a vez que estendem as mãos aos que delas necessitam estendidas.

Ouvia toda a sorte de vozes, misturadas entre gritos e sussurros, entre maldições e bendições e retirava de todos os discursos um conselho ou uma lição.

É que aprendera, desde muito nova, que todas as palavras carregam consigo o fado da interpretação de quem as recebe e apenas a esses cabem fazer delas bom proveito.

Vez por outra ainda vestia a antiga pele e exorcizava seus demónios à luz de velas, deixava que eles se revelassem, dançassem no imaginário de quem lia as suas frases e se despedissem sem causar infortúnio algum. Sabia intimamente que essa era uma forma de mostrar ao mundo que era humana e real, pois tinha uma vida tão repleta de graças que havia quem duvidasse que ela fosse verdadeira.
 
A grande questão é que era, porque fizera dela assim!

Cada relato, contado em pormenor, era a manifestação dos sentimentos e experiências que preenchiam a sua existência.

Cada vitória, cada gentileza, cada conquista ou boa surpresa… assim como cada derrota, cada punhalada, cada desgraça e cada deceção que a ensinaram a ser mais forte, a olhar mais atentamente sob todos os ângulos e progredir. 

Quando, ainda muito guria, pusera pela primeira vez a sua pena em pergaminho para registar para a posteridade as suas lágrimas, ignorava por completo que o choro também vem com a Alegria!

Maria Beck Pombo

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