Segue o paisano apeado e apressado por entre as construções, de “contas” em punho, pois nos dias que seguem não convém deixar os credores à espera.
Tão distante está do mensageiro montado no lombo de um pingo, que percorria vales e montanhas a criar os caminhos através dos quais ligava o remetente ao destinatário.
Agora entrega cálculos, não mais notícias, já que os números suplantaram a importância das palavras.
As pessoas esqueceram a serventia de pena e papel.
Estão presas ao seco soar das teclas, com os olhos fixos ao ecrã e dão à luz a mensagens impalpáveis, insípidas e inodoras, desprovidas de qualquer cor.
Falta-lhes o carinho das mãos a roçar no papel vazio, a desenhar os símbolos que traduzem os mais diversos sentimentos, o borrão da tinta quando apanhada por uma lágrima traiçoeira que insistiu em rolar, denunciando a emoção latente daquele que os desenhara.
Falta a ansiedade da espera, a deceção causada pelas respostas que se perderam no caminho ou foram negadas pelo outro, o coração arrebatado pela correspondência do primeiro amor.
O carteiro carrega na mala o fado, o samba, o tango.
A melodia que brota da conjugação de centenas de destinos entrecruzados ao alcance da sua mão.
Carrega tristezas, alegrias e tragédias.
Notícias de lugares distantes que aproximam, confortam ou desesperam, que constroem ou rompem laços, que partilham nascimentos e óbitos, desejos e planos, boas novas e fracassos.
Enlaçam amizades correspondidas ou preteridas, costuram vidas e narram histórias que ficam impressas para a posteridade, legitimadas a próprio punho.
Munido da sua mala-de-garupa e boa vontade, ele continua a transitar, à nossa vista, a lembrar-nos que as palavras lançadas às nuvens são tão efêmeras quanto as chuvas de agosto ou quanto o florescer das rosas no verão.
Apenas a mensagem gravada a carvão perdura, sem arder, pelo tempo que designar a vontade do homem.
Maria Beck Pombo