Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Naturalmente abençoada!

Turistando Lendas e Lugares – Naturalmente abençoada!

Opinião | 22 Dezembro 2022

 

Descera do autocarro a sentir borboletas no estômago.

Acompanhada pelos amigos, passara o dia inteiro a vagar pelas ruas do pequeno vilarejo inserido no seio de uma natureza quase intacta pelo homem, onde o ar carregava o aroma fresco das folhas arbóreas perenes, onde o asfalto dava lugar à estrada de terra batida e o tempo parecia não passar.

Fora o seu primeiro réveillon na praia, em nada comparado aos que estava habituada a passar.
 
Sem as limpezas exaustivas do lar ou os rituais para trazer o bom agouro, sem o banho de descarrego, a lentilha para a prosperidade ou as sementes de doze uvas na carteira. Sem roupa interior nova em folha… 

Encontrava-se neste momento fora do seu ambiente, onde o único teto que cobria a sua cabeça era um céu limpo e estrelado, brilhante como mil diamantes, e as ondas beijavam seus pés trazendo consigo as bênçãos da Mãe, convidando para um mergulho que era, naturalmente, um descarregar e recarregar de energias sem qualquer artificialidade.

Mas isso tudo não lhe sossegava o espírito pois estava presa no conforto das antigas tradições, impedida de contemplar a beleza daquele lugar ou daquele momento em particular.

Na casa de banho de um bolicho a beira-mar lavou a cara e os cabelos, maquiou-se com o que restava da maquiagem que trazia na pequena mala enquanto maldizia a sorte que a levará até ali, com a promessa enganosa de um ano novo fantástico.

Estava prestes a celebrar o nascimento de outro ano em um lugar onde a ceia farta a que estava acostumada dera lugar a uma fatia de pizza seca e queimada, que dividia a cena com uma cola quente e sem gás.

Nenhum jantar cuidadosamente confecionado, nenhum banho de banheira ou cama em hotel a esperavam naquela noite.

Mirou ao seu redor, viu os sorrisos de alegria e o amor que se espalhava no ar, percebeu assim que apenas ela não estava a “entrar na boa onda” em que todos estavam imersos e se viu diante de duas escolhas: poderia continuar com a má atitude e estragar a festa de todos, ou dançar conforme a música e se deixar levar pela experiência sublime de comungar com a natureza ao seu redor, sentindo o poder das coisas simples e essenciais lhe tomar de assalto a alma.

Decidiu-se pela segunda opção, sem imaginar que um dia veria todos os anos nascerem a beira-mar, de joelhos aos pés de Iemanjá, muito embora não seja tarefa fácil o fazer do lado de cá do mundo. O que não quer dizer que não o faça, mesmo voltando para casa com a pele fria como gelo, mas com o coração em chamas!

Descobrimos sensações incríveis quando conseguimos voltar o nosso olhar para fora de nós mesmos e experimentar o novo, ainda que um tanto hesitantes pois conforto seduz, mas apenas o verdadeiro e o natural são capazes de abençoar!

Boas festas!

Maria Beck Pombo

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